sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Daniel

Idade jovem num corpo de criança. Completamente dependente, revela um sorriso fascinante, puro, cativante.
Ele comunica. A mãe entende-o às mil maravilhas. Mas o que é que as mães não entendem nos seus filhos? Aquilo que para nós é ininteligível ou não passa de um som anárquico, a mãe traduz de forma perfeita.
O Daniel é portista convicto. Sabe a hora e o canal em que vai jogar o Porto que, quando ganha, o deixa feliz.
Numa coisa ele é intransigente. Não gosta nada que lhe mexem nas imagens sagradas que tem no seu quarto. Jesus é para ele o seu tudo. Por isso, manifesta a sua satisfação quando semanalmente o ministro extraordinário da comunhão aparece. Pelo bater à porta já o conhece. E vive aquele momento da Comunhão de forma intensa, serena, íntima.
Aquela cabeça é um verdadeiro computador do último grito. Por isso, apesar do ritmo frenético a que se sucedem as notícias, ele vai buscar fácil e fielmente notícias que a televisão lhe trouxe há muito tempo.
Como tem um irmão na GNR, retém especialmente casos policiais com os quais confronta o mano quando este o vem visitar.
Naquela casa, tudo é universidade. Um jovem a quem a grave doença não deixa passar de menino. O sofrimento que não se queixa. O sorriso que nos inunda de paz. A inteligência que se comunica sem a verborreia das palavras. A mãe serena, devotada, entregue à cruz de seu filho, sem jamais esboçar uma palavra de desalente e muito menos de revolta.
Ao pé desta situação, apetece a perguntar a todos nós:
- Que direito temos nós de nos queixarmos? Que significado tem a nossa cruz comparada com esta cruz?
Se formos capazes de irmos mais vezes até junto dos doentes com um coração de "carne", aprenderemos facilmente a relativizar o que é relativizável e a centrarmo-nos no fundamental.

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