HOMILIA NO XIII DOMINGO COMUM A 2023
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2.Acrescentemos agora uma segunda pergunta: Como se vive, no concreto, o Amor?
Jesus resume todo o Evangelho, num copo de água fresca. Carregar a cruz e dar um copo de água fresca são dois extremos do mesmo movimento: dar-se todo em cada coisa, dar tudo em que cada gesto, por mais pequenino e discreto que seja. A pessoa vale o que vale o seu coração; cada pessoa vale pelo que dá. Cada um só tem o que dá! A minha vida vale o que vale o meu amor pelos outros. Este amor grandioso, esta caridade que tudo suporta (1 Cor 13,7), começa pelos gestos mais pequeninos, pois o amor é sempre discreto, não é fogo de artifício, não tem por que ser brilhante ou exuberante. Na verdade, este amor manifesta-se nos mais pequenos gestos, na atenção aos mais pequenos detalhes, na dádiva das mais pequeninas coisas. Vede, por exemplo, o gesto tão simples do casal de Sunam, na 1.ª leitura. Eles ofereceram a Eliseu, homem de Deus, o quê? Um leito, uma mesa, uma cadeira, uma lâmpada, uma refeição. E, naqueles gestos, o que fica de tudo o que passa é sobretudo um pouco da sua atenção e dois dedos de conversa à mesa! Este gesto de acolhimento livrou este casal da maldição de uma vida estéril e tornou fecunda a sua vida, com a promessa de um filho nos braços!
3.Irmãos e irmãs: O verbo acolher aparece por 6 vezes no Evangelho. Por que será?! Somos chamados a multiplicar por 6 este milagre do acolhimento. Teremos nas pré-jornadas, na nossa Diocese do Porto (última semana de julho), mais de 20 mil jovens vindos de outras partes do mundo. Inscreveram-se 2.500 famílias de acolhimento. É muito bom, mas não chega. Porque haverá tanta dificuldade em acolher? Ainda veremos o «estrangeiro» como um perigo, uma ameaça? Porque não o vemos como um irmão, como uma bênção de Deus, como um homem ou mulher de Deus, que passa à nossa porta e pela nossa casa? Porventura pensaremos nós que, para acolher bem, é preciso transformar a casa num hotel de 5 estrelas? Dar abrigo aos peregrinos não se limita, de facto, a abrir as portas da casa, mas a franquear as portas do coração à novidade da sua presença e da sua diferença, da sua vida e da sua mensagem.
4.Irmãos e irmãs: somos chamados a descobrir Cristo tanto nos pobres como nos jovens peregrinos; somos chamados a ser seus amigos, a ouvir a sua voz, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria, que Deus nos quer comunicar através deles (cf. EG 198). Ora, se Deus nos recompensa tanto por um só copo de água dado a beber, quanto mais nos há de recompensar pela mesa posta, pela cara bem-disposta, pelos nossos braços abertos? Irmãos e irmãs: há pressa no ar! Acolhamo-nos uns aos outros, como Deus nos acolheu em Cristo(cf. Rm 15,7). E façamos de cada família, um porto de abrigo, um porto de acolhimento!
Amaro Gonçalo, aqui