sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

QUARESMA: QUARENTA DIAS PARA ENCHER DE AMOR

Mensagem de D. António Couto para a Quaresma 2020
Resultado de imagem para D. António Couto
1. São quarenta dias de intensa convivência com o Senhor Ressuscitado no meio de nós, perto de nós, connosco, a caminhar connosco, a sentar-se connosco à beira do poço da água viva, do vinho novo, do pão quente a sair do forno, da mesa ainda agora posta, onde reluz uma toalha branca, e onde há lugar para todos. Porque o Senhor está connosco e é por nós, e é para nós, estes quarenta dias têm de ser dias de amor, de esmola, de oração, de conversão, de reconciliação, de jejum, isto é, de pausa e bemol, até compreendermos bem que não é nossa a mesa nem a toalha nem o vinho nem o pão, que tudo nos é dado, todo o pão nos dado, não é nosso, muito menos meu, e é para partilhar com todos, desencadeando entre nós um amor enorme, sem norma nem regra nem medida.
2. «Porque assim diz aquele que está nas alturas, em lugar excelso, que habita a eternidade, e santo é o seu nome: “em lugar alto e santo Eu habito, mas também junto do humilhado e do que não tem espaço nem para respirar, a fim de dar vida aos que não têm nem espaço para respirar, e para dar vida aos que têm o coração despedaçado”» (Isaías 57,15).
3. É, portanto, preciso e urgente parar no meio do mercado em que mecanicamente nos movemos e existimos, e até adoramos, como quem, advertida ou inadvertidamente, presta culto ao «deus deste mundo» (2 Coríntios 4,4), que nos seduz e nos suga, mas não nos ama nem nos salva. Quarenta dias para tomarmos consciência dos maus negócios que temos andado a fazer! Quarenta dias para passarmos das coisas para as pessoas (sendo que, muitas vezes, também coisificamos as pessoas!), para tomarmos consciência de que a vida verdadeira corre por outras pautas, e requer de nós que comecemos a ensaiar um cântico novo, para podermos começar a cantar outra vez com inefável alegria: «Minha força e meu canto é o Senhor! A Ele devo a minha liberdade!» (Êxodo 15,2).
4. «Aí está o tempo favorável! Aí está o dia da salvação!» (2 Coríntios 6,2). Abre, pois, meu irmão, o teu coração a esta torrente de alegria. Não esqueças o perdão, que Deus sempre dá com abundância. Aprende a dá-lo tu também, conforme a lição que aprendes do nosso Bom Deus. Acima de tudo, meu irmão, não te esqueças de levar a vasilha do teu coração à fonte do Amor e da Palavra de Deus, e enche-a até transbordar em obras boas e belas para que todos possamos beneficiar delas. É esse o Amor que cobre a multidão dos pecados (Provérbios 10,12; 1 Pedro 4,8).
5. Como é habitual, renovamos sempre em cada Quaresma que passa o esforço da nossa Caridade, que se traduz na oferta da nossa esmola quaresmal que reforça os laços fraternos que nos unem, e que vai levar algum conforto aos nossos irmãos de longe e de perto. Chama-se a este esforço da nossa Caridade renúncia quaresmal, que por amor oferecemos …
6. Quero informar as comunidades da nossa Diocese de Lamego que a Coleta da esmola da nossa Caridade quaresmal realizada no passado ano de 2019 somou 24.367,70 euros, dos quais destinámos 12.367,70 euros para o nosso Seminário, 7.000,00 euros para a Paróquia de Maria Auxiliadora de Pemba (Moçambique), e 5.000,00 euros para a Paróquia de Nossa Senhora das Dores (Cabo Verde). 
7. Neste ano e nesta Quaresma de 2020, apelo a todos os meus irmãos espalhados pelas 223 Paróquias da nossa Diocese, que nos sintamos comprometidos com os cristãos sofridos da Diocese de Alepo, na Síria, nossos irmãos, cujas dores, carências e necessidades superam em muito tudo o que possamos imaginar. O resultado da nossa generosidade será feito chegar às mãos de D. Joseph Tobji, arcebispo de Alepo. Será este o principal destino do abraço da nossa generosidade quaresmal. Destinaremos também uma pequena parte para aliviar as despesas que há no campo da formação, sobretudo dos jovens, agora que está diante de nós a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2022 e a preparação para esse evento requerida…
8. Com a ternura de Jesus Cristo, saúdo, no início desta caminhada quaresmal de 2020, todas as crianças, jovens, adultos e idosos, catequistas, acólitos, leitores, salmistas, membros dos grupos corais, ministros da comunhão, membros dos conselhos económicos e pastorais, membros de todas as associações e movimentos, departamentos e serviços, todos os nossos seminaristas, todos os consagrados, todos os diáconos e sacerdotes que habitam e servem a nossa Diocese de Lamego ou estão ao serviço de outras Igrejas. Saúdo com particular afeto todos os doentes, carenciados e desempregados, e as famílias que atravessam dificuldades. Uma saudação muito especial a todos aqueles que tiveram de sair da sua e da nossa terra, vivendo a dura condição de migrantes.
 
Lamego, 26 de Fevereiro de 2020, Quarta-Feira de Cinzas
Na certeza da minha oração e comunhão convosco, a todos vos abraça o vosso bispo e irmão,
+ António.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Casa Paroquial de Tarouca precisa de obras com urgência



Que a Casa Paroquial de Tarouca é um edifício de bela traça, está à vista.
Só que precisa de obras de restauro e remodelação. Com urgência.
Toda a estrutura do telhado e o próprio telhado.
A Casa não tem aquecimento nem vidros duplos.
As portas e janelas, de madeira, estão uma miséria e deixam entrar o frio por todos os lados.
Quem visita esta casa em tempos de inverno encolhe os ombros e desabafa: "Como é que o senhor  consegue viver aqui!?"
Há 30 anos, a casa foi remodelada pensando nas estruturas que a paróquia não tinha. Por isso foram reservadas salas para a catequese e as reuniões. Atualmente, felizmente, já tem espaços para a vida paroquial = Centro Paroquial.
Urge, por isso, remodelar os espaços e dotar a Casa Paroquial de dignidade habitacional.
Há tempos, no Conselho Pastoral, alguém dizia que a Casa Paroquial de Tarouca é a que menos condições tem de habitabilidade entre todas as casas paroquiais do concelho.
Já há um projeto de restauro e remodelação do edifício aprovado pelo Conselho Económico.
Só que para se efetuarem as obras, o pároco precisa de se mudar.
Há muito tempo que o Conselho Económico insistia na realização das obras indispensáveis. Só que o pároco insistia igualmente que primeiro estava o Centro Paroquial e o restauro da Igreja Paroquial.
Mas tudo tem o seu limite. A idade traz as suas maleitas. Urge tomar uma decisão. A falta de condições de habitabilidade prejudica gravemente a saúde.
Como o pároco pretende ficar em Tarouca após "se reformar", é natural que procure adquirir a sua casa, deixando livre o edifício da paróquia para então se efetuarem as obras. Assim deixaremos uma digna habitação para o Pároco que vier a seguir.

1 Março 2020 - 01º Domingo da Quaresma - Ano A

Leituras: aqui
A Palavra de Deus interpela a nossa vida
1º Leitor: Com que então já estamos na Quaresma 2020!
2º Leitor: Sim, é verdade. E esta Quaresma, no ano pastoral em que nos sentimos Igreja em caminho e em comunhão,  ainda tem mais significado…
1º Leitor: Mas recordem-nos o que é a Quaresma.
3º Leitor: A quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja marca para nos preparar para a grande festa do Mistério Pascal de Cristo (Morte e Ressurreição). É tempo para nos arrependermos dos nossos pecados e de mudar algo de nós para sermos melhores e poder viver mais próximos de Cristo.
4º Leitor: Ah! A Quaresma dura 40 dias; começa na Quarta-feira de Cinzas e termina com a Eucaristia da manhã em Quinta-Feira Santa. Ao longo deste tempo, fazemos um esfoço para vivermos realmente  como filhos de Deus.
5º Leitor: A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo de preparação para o Mistério Pascal.
1º Leitor: Quaresma…40 dias. Porquê 40 dias?
6º Leitor:
A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia. Na Bíblia fala-se dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egito.
Na Bíblia, o número 40 significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades.
TODOS: Somos Igreja em caminho e em comunhão
1º Leitor: Como devemos viver a Quaresma?
2º Leitor: Na Quaresma, Cristo convida-nos a mudar de vida. A Igreja convida-nos a viver a Quaresma como um caminho para Jesus Cristo, escutando a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando as obras de Misericórdia. Convida-nos a viver uma série de atitudes cristãs que nos ajudam a parecer-nos mais com Jesus Cristo, já que por ação do pecado, nos afastamos de Deus.
3º Leitor: Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar de nossos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem ao nosso amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.
1º Leitor: Falem-nos do Jejum e da Abstinência…
4º Leitor: A prática do jejum e da abstinência tem a ver com a Quaresma como tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja.
5º Leitor: Estão obrigados ao jejum os que tiverem completado 18 anos até os 59 completos. Os outros podem fazer, mas sem obrigação. Grávidas e doentes estão dispensados do jejum, bem como aqueles que desenvolvem árduo trabalho braçal ou intelectual no dia do jejum.
Jejuar é fazer apenas uma refeição completa. Caso haja necessidade, podem-se tomar duas outras pequenas refeições.
6º Leitor: A obrigação da abstinência começa aos 14 anos e prolonga-se por toda a vida. Grávidas que necessitem de maior nutrição e doentes que, por conselho médico, precisam comer carne, estão dispensados da abstinência.
Sobre a abstinência, o Direito Canónico diz que "consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre". A tradição da Igreja indica a abstenção de carne, nas sextas-feiras da Quaresma. "Mas poderá ser substituída pela privação de outros alimentos e bebidas, sobretudo os mais requintados e dispendiosos [caros] ou da especial preferência de cada um".
Recordamos que Quarta-Feira de Cinzas e Sexta-Feira Santa são dias obrigatórios de jejum e abstinência.
Todos: Somos a Igreja em caminho e em comunhão.
1º Leitor: Cada um de nós é sujeito a tentações várias.. Mas diz o Evangelho que Cristo também foi tentado…
2º Leitor: Pois. Cristo fez-Se igual a nós em tudo menos no pecado. Não admira a tentação.
1º Leitor: Mas Cristo caiu na tentação, foi?
3º Leitor: Não. Cristo resistiu ao tentador. Jesus sentindo a presença amorosa do Pai junto de Si, responde ao tentador: "Nem só de pão vive o homem...mas de toda a palavra que sai da boca de Deus".
Sentimos, assim o amor de um Deus que FALA e eu sou convidado a  ESCUTAR.
4º Leitor: Cada Quaresma costuma ter um tema próprio. A Quaresma deste ano também tem?
5º Leitor: Sim, claro. É este: Juntos no cuidado da criação.
6º Leitor: É como está no cartaz: Cuidar da criação é caminho de salvação”
1º , 2º e 3º Leitores: Então nesta Quaresma, vamos crescer:
2º Leitor: no “carinho pela boa, bela e fecunda Criação com que Deus, nosso Pai, nos favoreceu, e nos incumbiu de amar.»;
3º Leitor: na consciência da dignidade da Criação, obra de Deus, na qual nos integramos e temos um papel fundamental, como seus cuidadores;
4º Leitor: na consciência da problemática que hoje envolve “a nossa casa comum”, e dos desafios que somos chamados a enfrentar «juntos», «caminhando com todos», na missão de, como Igreja, «cuidar com carinho do azul do céu e do verde da terra, do ar que respiramos, das árvores, dos mares, dos rios, das colinas, dos vales, dos campos, dos animais, dos passarinhos, cumprindo o mandato que lhe foi confiado pelo Criador.
TODOS: Cuidar da criação é caminho de salvação”

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Elogio do (verdadeiro) jejum

Helen Freeh
Recentemente chamou-me a atenção um panfleto na minha paróquia. Continha sugestões inovadoras para sacrifícios quaresmais. Partes eram atribuídas ao Papa Francisco, mas outras partes eram escritas por alguém certamente bem-intencionado, mas claramente tonto. Perguntava em letras garrafais: “Está a pensar deixar de comer chocolate para a Quaresma? Para uma Quaresma mais profunda, pense antes em…” E depois vinha a lista: Jejue de dizer palavras ofensivas e diga coisas simpáticas; jejue de rancor e encha-se se paciência; jejue de egoísmo e seja compassivo para com os outros. E por aí fora.

Depois veio a linha que, sinceramente, me fez rir alto: “Jejue de pornografia”. A ausência de uma compreensão correcta de jejum católico seria cómica se não fosse tão tragicamente enganadora para católicos com falta de catequese.

Devemos sempre evitar pecados como palavras cruéis, rancor injusto, egoísmo e, claro, pornografia! Estas não são coisas boas das quais nos abstemos temporariamente, para oferecer como sacrifício a Deus como parte do nosso jejum. São só coisas más que ofendem sempre a Nosso Senhor e que devíamos sempre evitar fazer.

A ideia de abdicar de pecados como parte da nossa Quaresma confunde a própria natureza e propósito do jejum, que é privarmo-nos de um bem em nome de um bem maior – a proximidade e, por fim, a união com Deus. Não se pode “jejuar” de pecado. Se jejuamos de palavras ofensivas e de pornografia durante a Quaresma, devemos depois voltar a elas na Segunda-feira de Páscoa e anunciar orgulhosamente que no ano seguinte vamos deixá-las novamente? A própria noção é absurda.

Há já algum tempo que muitos de entre nós têm abandonado a compreensão tradicional de jejuar de bens físicos, considerando-o um acto superficial, antiquado ou impensado. Isso leva as pessoas a fazer as “sugestões inovadoras” referidas acima e muitas outras que os leitores facilmente podem imaginar.

O que é que nos leva a descartar a ideia do jejum corporal? Será um medo visceral de privar o corpo de luxos ou de nos sentirmos fisicamente desconfortáveis? Será uma forma de escravatura das nossas dependências físicas, disfarçada de enfoque nas coisas aparentemente superiores e “espirituais”?

Este salto de mortificações corporais para espirituais arrisca-se a tornar-se uma espécie de espiritualismo, em que alguém crê que o espírito é inteiramente à parte da matéria ou do corpo. Ou talvez um tipo subtil de gnosticismo em que se descarta a importância do corpo e, por isso, as mortificações do corpo são vistas como sendo desnecessárias para o crescimento espiritual.

Um católico não deve deixar-se enganar por estas mudanças das práticas tradicionais. Não devemos denegrir a mortificação da carne ou simplesmente considerá-la uma coisa do passado. A natureza do corpo não muda com o tempo e nunca deixa de pedir a sua própria satisfação. Mesmo que diga palavras bonitas e reduza a sua pegada ecológica, colocando os plásticos no ecoponto certo, as dependências corporais mantêm-se presentes, escondidas, até serem postas à prova.

Cristo tentado no deserto
Esse é o problema com estas tentativas erradas de “aprofundar” o tempo quaresmal. A Quaresma não é um período ou de crescimento espiritual ou de melhorar a disciplina corporal. Porque a oração e o jejum andam de mãos dadas. Os três pilares da época penitencial da Quaresma são a oração, o jejum e a esmola. Jejuar sem ser de comida e de bebida real é como dar esmola sem ser com dinheiro verdadeiro. O jejum é de bens físicos e as esmolas para os pobres são de dinheiro verdadeiro ou de bens materiais.

As oferendas espirituais são, como é evidente, muito boas e justas e uma necessidade para quem deseja avançar no caminho da perfeição. Mas para a maioria de nós o progresso costuma fazer-se da ordem natural para a ordem sobrenatural das coisas.

Os nossos corpos estão intimamente ligadas às nossas almas. Os críticos podem pensar que o jejum de gelado, chocolate, doces e por aí fora são actos “menores” ou “impensados” só porque muitos homens e mulheres de fé têm feito as coisas assim ao longo dos anos. Mas permitam-me sugerir, humildemente, que na nossa cultura indulgente a primeira coisa que uma pessoa deve tentar fazer é abdicar dos bens materiais de comida e de bebida.

É precisamente porque é difícil abdicar de bens destes que a pessoa que deixou de consumir café, por exemplo, precisa de recorrer ao auxílio da oração. Quando começarmos a ganhar maior autocontrolo sobre o corpo, então podemos passar para o próximo nível espiritual em que para além de abdicar destes bens espirituais, aprofundamos também a ligação espiritual a Nosso Senhor. Pedimos a graça de ter fé, esperança e amor mais profundos; para ser mais castos, temperados, diligentes, pacientes, bondosos e humildes.

Por isso, durante esta Quaresma, mortifique o seu corpo abdicando daquele café matinal, ou da doçura das sobremesas, e não deixe que ninguém o convença que essa disciplina corporal é simplista ou ultrapassada. E, já agora, arrependa-se dos seus pecados também.
Fonte: Aqui

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

"Pedimos-vos em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus"

O Papa Francisco apela, na sua mensagem para a Quaresma, a que não se deixe "passar em vão este tempo de graça" e que o Mistério pascal seja colocado "no centro da vida".
"Colocar o Mistério pascal no centro da vida significa sentir compaixão pelas chagas de Cristo crucificado, presentes nas inúmeras vítimas inocentes das guerras, das prepotências contra a vida desde a do nascituro até à do idoso, das variadas formas de violência, dos desastres ambientais, da iníqua distribuição dos bens da terra, do tráfico de seres humanos em todas as suas formas e da sede desenfreada de lucro, que é uma forma de idolatria", lê-se na mensagem divulgada esta segunda-feira pelo Vaticano.
Francisco sustenta que quem crê no anúncio da Ressurreição "rejeita a mentira de que a nossa vida teria origem em nós mesmos, quando na realidade nasce do amor de Deus Pai, da sua vontade de dar vida em abundância".

"Não deixemos passar em vão este tempo de graça, na presunçosa ilusão de sermos nós o dono dos tempos e modos da nossa conversão a Ele", diz o Papa.
Na mensagem, Francisco sublinha, ainda, que "o diálogo que Deus quer estabelecer com cada homem, por meio do Mistério pascal do seu Filho, não é como o diálogo atribuído aos habitantes de Atenas, que 'não passavam o tempo noutra coisa senão a dizer ou a escutar as últimas novidades'".
"Este tipo de conversa, ditado por uma curiosidade vazia e superficial, carateriza a mundanidade de todos os tempos e, hoje em dia, pode insinuar-se também num uso pervertido dos meios de comunicação."
Assim, o diálogo deve estabelecer-se "coração a coração, de amigo a amigo", pelo que "é tão importante a oração" neste tempo quaresmal. A oração "antes de ser um dever, expressa a necessidade de corresponder ao amor de Deus, que sempre nos precede e sustenta".
“Economia mais justa e inclusiva”
No texto papal, fala-se também da necessidade de partilha e condena-se a lógica da acumulação de riqueza: "A partilha, na caridade, torna o homem mais humano; com a acumulação, corre o risco de embrutecer, fechado no seu egoísmo. Podemos e devemos ir mais além, considerando as dimensões estruturais da economia."
Neste quadro, Francisco lembra que convocou para Assis, neste tempo de Quaresma - mais concretamente, de 26 a 28 de março .- um grupo de "jovens economistas, empreendedores e transformativos, com o objetivo de contribuir para delinear uma economia mais justa e inclusiva do que a atual".
A mensagem hoje divulgada visa orientar o tempo de preparação para a Páscoa, que se inicia na Quarta-feira de Cinzas. Intitula-se "Em nome de Cristo, suplicamos-vos: reconciliai-vos com Deus”, partindo de uma passagem da segunda carta de São Paulo aos Coríntios.
Fonte:  aqui

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Celebraram Bodas de Prata e Bodas de Ouro


No salão do Centro Paroquial, a comunidade celebrou,  em 23 de fevereiro, as Bodas de Prata e de Ouro dos casais que as festejam durante o  ano de 2020. Anteriormente havia sido dirigido um convite pessoal a cada casal. Seis  aceitaram o convite. 5 em Bodas de Prata:  Deodato e Eugénia Otília, José Félix e Maria de Lurdes, João Pedro e Sónia Alexandra, Carlos Adalberto e Sónia Marília, José Luís e Catarina Alexandra; 1 em Bodas de Ouro: Dionísio e Dília.
Num período em que cada vez mais deixa de se dar importância à família e se desvalorizam os valores que só no seio da família se podem aprender, agradecemos a sua presença e, sobretudo, enaltecemos as suas vidas em família.
Que a Sagrada Família de Nazaré continue a ser o seu modelo e lhes, mostrando-lhes o caminho a seguir e que eles próprios possam servir de modelo a todos os casais mais jovens da nossa Paróquia.

Àqueles que gostariam de ter vindo mas não puderam - esta zona tem uma forte corrente migratória - dizemos que estamos unidos a eles. Aos que não quiseram vir, afirmamos que não perdemos a esperança.

Os casais presentes participaram na Celebração e renovaram os seus  compromissos  matrimoniais.
Foi com alegria e emoção que os acolhemos e assistimos à sua Bênção como casais.
Foi encantador aquele momento em que pais e filhos presentes uniram as mãos para um prece de agradecimento e de súplica pela paz, harmonia e encantamento no lar.
Foi com grande convicção que desejámos que as famílias sejam espaço de amor feito serviço, humildade e perdão. Sobretudo espaço  pessoal e familiar que acolhe Deus que nunca tira nada e dá sempre tudo.
Foi com grande confiança que deixámos às famílias presentes as "palavras mágicas" que o Papa recomenda a cada família: "obrigado", "desculpa", "por favor". Que as usem diariamente com o coração.

Foi com imensa amizade que a comunidade entregou a cada casal um pequena lembrança com a certeza de que vale a pena celebrar um amor sem prazos de duração.
Foi com entusiasmo que revoou pelo salão o "Parabéns a Vocês".

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Conferência Episcopal Portuguesa reafirma apoio a «todas as iniciativas que continuarão a decorrer pela defesa da vida»

Secretário da CEP expressou a «enorme tristeza» pela votação desta tarde na Assembleia da República.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou hoje que acompanhou a aprovação dos projetos de lei sobre a despenalização da eutanásia com “enorme tristeza” e apoia todas as iniciativas que atuem na “defesa da vida”.
“É com enorme tristeza que assistimos hoje à decisão da Assembleia da República ao aprovar, em votação na generalidade, cinco projetos de despenalização da eutanásia”, refere um comunicado do secretário e porta-voz da CEP enviado à Agência ECCLESIA.
O padre Manuel Barbosa recorda a posição do Conselho Permanente de 11 de fevereiro, onde assume a necessidade de defesa da vida “em profunda sintonia com o Papa Francisco”, que desafia os profissionais da saúde a “terem em vista constantemente a dignidade e a vida da pessoa, sem qualquer cedência a atos como a eutanásia, o suicídio assistido ou a supressão da vida, mesmo se o estado da doença for irreversível”.
“A Conferência Episcopal acompanha e apoia todas as iniciativas que continuarão a decorrer pela defesa da vida e contra a eutanásia”, refere o comunicado.
O porta-voz da CEP recorda as declarações do cardeal-patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa desta tarde, no contexto do debate parlamentar, que sublinha a necessidade da vida ser “devidamente contemplada em todo o arco existencial”.
“Aquilo que importa enquanto Igreja, e importa a muitas outras forças da sociedade civil, a maior parte delas nem são propriamente presenças religiosas, são profissionais e de outras áreas, e até inter-religiosas, é que a vida seja devidamente contemplada em todo o arco existencial, independentemente do que possa acontecer legislativamente”, disse D. Manuel Clemente.
Para o cardeal-patriarca de Lisboa, afirmar a vida “no seu todo” é “uma insistência” e uma convicção que “permanece independentemente do que possa acontecer legislativamente”, que implica todos “como sociedade, crentes e não crentes”, disse esta tarde aos jornalistas.
“Não basta dizer, como dizemos e insistimos porque estamos convictos disso, que vida tem de ser contemplada no seu todo. Porque se começamos a fazer exceções, mesmo que sejam a pedido, a vida não se aguenta na sua inteireza”, sublinhou, realçando que como sociedade é preciso estar “mais presentes”.
O cardeal-patriarca de Lisboa reafirmou o apelo que tem feito aos políticos de que “esta é uma frente comum, é uma frente humana, essencial” e não se pode “deixar ninguém sozinho ao longo da sua vida”, sobretudo quando mais precisa.
“Dizem-nos as pessoas, os clínicos, os voluntários que estão perto das pessoas que sofrem e que as acompanham que, em geral, não querem partir porque se sentem acompanhadas. A convivência é que é a vida”, acrescentou no Hospital D. Estefânia, onde presidiu à Missa que assinalou os 100 anos da morte de Santa Jacinta, pastorinha de Fátima, que faleceu nesta unidade de saúde pediátrica a 20 de fevereiro de 1920.
Reagindo também à aprovação pelos deputados dos cinco projetos de lei  – BE, PS, PAN, PEV e Iniciativa Liberal – que visam a legalização da eutanásia em Portugal e depois de conhecidos os resultados, o arcebispo de Braga escreveu na sua conta na rede social Twitter que sente uma “tristeza de morte”.
“Vamos continuar o caminho. Aos que estiveram junto à Assembleia a manifestarem-se quero expressar a minha gratidão como cidadão. De modo particular aos mais jovens. Hoje, de frente para o Parlamento, vi um futuro luminoso para #Portugal”, acrescentou D. Jorge Ortiga, num segundo tweet.
Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA, a Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) afirmou que a decisão parlamentar fica “na história do país como um dia negro para a dignidade dos portugueses” e marca um “retrocesso civilizacional”.
“A AMCP apela ao Senhor Presidente da República que faça uso do seu poder de veto”, acrescenta o comunicado.
Os cinco projetos vão agora ser analisados na respetiva comissão parlamentar, depois segue-se a votação final e é enviado para apreciação do Presidente da República.
O movimento “#simavida” quer apresentar ao Parlamento uma Iniciativa Popular de Referendo  nacional sobre “a (des)penalização da morte a pedido” e está a promover uma recolha de assinaturas no âmbito do debate sobre a eutanásia.
Fonte: aqui

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Santa Casa da Misericórdia de Tarouca - Informações

***

O Dia Internacional da Felicidade é comemorado anualmente a 20 de Março. Este dia, tem o objetivo de promover a felicidade e alegria entre as pessoas, evitando os conflitos e guerras étnicas ou qualquer outro tipo de comportamento que ponha em risco a paz e o bem-estar.
Aliado a este conceito, a Santa Casa da Misericórdia de Tarouca vai levar a efeito uma ação de formação denominada “FELICIDADE NO LOCAL DE TRABALHO”, que será realizada em parceria com a empresa XZ – Consultores, SA., no âmbito da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, considerando-se esta, além de uma atividade formativa, também uma atividade de promoção de saúde no trabalho, com o objetivo promover o bem-estar psicossocial dos trabalhadores.
Neste sentido, solicitamos a Vossa colaboração na divulgação desta ação, pois estamos certos que esta será uma mais valia para todos os participantes.
Aproveitamos para informar que a ação terá lugar na Sala de Formação do Centro Paroquial de Santa Helena da Cruz, em Tarouca. Para que as Instituições/Entidades possam abranger uma maior número de trabalhadores, serão realizadas duas ações, devendo cada participante indicar o horário que pretende, conforme programa em anexo.
***

O Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social (SAAS) foi constituído como um instrumento em relação a articulação entre várias entidades multissectoriais representadas nas estruturas locais com a responsabilidade no desenvolvimento de serviços da ação social. Este, foi associado a diversas atividades como informação, orientação, articulação e encaminhamento, onde os serviços prestados foram concretizados através da intervenção social, divulgação/sensibilização dos serviços. Ao longo destes quatro anos de abertura, podemos concluir que existiram resultados positivos, tendo em conta os agregados familiares acompanhados, verificou-se mesmo assim um aumento de procura dos serviços.
Concluímos assim que nos quatro anos de atendimento/acompanhamento foram realizadas:
  • nº de atendimentos no período de contrato: 515
  • nº de acompanhamentos no período de contrato: 1549
  • Total de Acompanhamentos e atendimentos em período de contrato: 1086
  • Nº de Beneficiários abrangidos no período de contrato: 571
    Após esta conclusão podemos verificar que esta resposta social foi bem aceite pela comunidade atingindo os objetivos, mas devido ao términus do projeto a Misericórdia de Tarouca informa o encerramento da resposta social SAAS/RLIS.
    Agradece-se assim, a todos os envolventes (ativos/não ativos) pelo apoio e pelo trabalho realizado

Piada católica


Resultado de imagem para jesuíta, um dominicano e um trapista
Monge Trapista
    
Um jesuíta, um dominicano e um trapista foram abandonados numa ilha deserta. Lá encontraram uma lâmpada mágica e, depois de debaterem, decidiram esfregá-la. Eis que apareceu o génio da lâmpada e  concedeu-lhes três desejos. Eles deliberaram e decidiram que seria justo cada um apresentar um desejo. O jesuíta disse que queria dar aulas na universidade mais famosa do mundo – e puf! Desapareceu para lá na mesma hora. O dominicano disse que queria pregar a Palavra na maior igreja do mundo – e puf! Desapareceu para lá na mesma hora! Vendo então que os dois tinham sumido, o trapista exclamou: “Minha Nossa Senhora!! Antes mesmo de dizer o meu desejo ele já foi atendido!

domingo, 16 de fevereiro de 2020

ALIVIAR SIM, MATAR NÃO



«Diga-se o que se disser, a vida é a coisa mais bela»
O sofrimento humano é uma realidade do percurso pessoal, que pode atingir formas devastadoras, é verdade. Mas o próprio respeito devido ao sofrimento dos outros e ao nosso deve fazer-nos considerar duas coisas: 1) que temos de recorrer aos instrumentos médicos e paliativos ao nosso alcance para minorar a dor; 2) que temos de reconhecer que o sofrimento é vivido de modo diferente quando é acompanhado com amor e agrava-se quando é abandonado à solidão.»

José Tolentino Mendonça, Cardeal

sábado, 15 de fevereiro de 2020

"A cada ano que passa, a festa da Catequese fica melhor."


Para uma paróquia do interior - embora seja a sede do concelho - o número de crianças é interessante. Temos cerca de 300 catequizandos do 1º ao 10º ano. Quando se sente a natalidade - inverno em tantas e tantas freguesias deste interior, tão pouco zelado pelo poder central - não podemos deixar de nos sentir contentes com as crianças que ainda vamos tendo. Graças a Deus!
Hoje foi a festa da catequese.  Presença de muitos pais e amigos das crianças. Bom o trabalho realizado pelas crianças e jovens. Um aplauso para eles do tamanho do Amor de Deus! Viveram profundamente o momento, dentro das várias tarefas que desempenharam.
É justa uma palavra de enorme apreço pelo trabalho, dedicação, persistência dos catequistas. Muitos parabéns! São fantásticos!  Como testemunhou alguém do público: "A cada ano que passa, a festa da Catequese fica melhor."

As apresentadoras estiveram à altura das circunstâncias. Merecem aplauso.
Obrigado a quem colaborou com o trabalho e adequação do som, bem como a quem realizou as projeções.
 Na Eucaristia vespertina do 6º Domingo Comum, celebramos um Pai que, por amor, não cessa de nos indicar o caminho da felicidade, oferecendo-nos os Mandamentos, conselhos de um Deus sempre preocupado com cada um de nós.
Seguidamente, os 10 grupos de catequese subiram ao palco, um de cada vez. 
A nota comum foi a alegria, havendo a preocupação de interagir com o público.
 
Através de  representações, cânticos, textos, mensagens bíblicas dramatizadas, gravações, power point,  os catequizandos ofereceram ao público a beleza e o encanto da alegria que vem de Deus.
O público esteve concentrado durante as atuações. É mesmo bom ver as pessoas contentes! E olhem que há gente nova com muito jeito mesmo para a representação! 5 estrelas.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

A propósito da exortação apostólica “Querida Amazónia”


Resultado de imagem para exortação apostólica “Querida Amazónia”
Trata-se de um documento papal que é comentado apressadamente como não tendo consignado a ordenação presbiteral de homens casados e a ordenação diaconal de mulheres – leitura que não acompanho por ser extremamente redutora e por não abranger o núcleo essencial, quer do Sínodo, quer da própria exortação apostólica pós-sinodal.

Sinceramente não estava à espera que este documento viesse sancionar aqueles dois pontos que o próprio Sínodo pediu oficialmente (os vaticanistas já deixavam antever essa não assunção), mas que talvez ainda não tenham amadurecido na sua discussão. E o livro “Da profundeza dos nossos corações”, do Cardeal Sarah (e, em parte, de Ratzinger/Bento XVI) não veio favorecer esse amadurecimento. Por outro lado, medidas inovadoras em concreto costumam surgir em carta apostólica, em constituição apostólica ou em bula.

Porém, o Santo Padre não fecha as portas a essas possibilidades, pois refere expressamente que não cita o documento final do Sínodo porque ele merece ser lido em conjunto com a exortação pós-sinodal. Além disso, urge a multiplicação e consolidação dos ministérios laicais que não carecem do sacramento da Ordem, com especial destaque para as mulheres, advertindo que estas têm um papel muito ativo a desempenhar, sem que tenham de ser clericalizadas, tal como aponta o facto de haver na Amazónia poucos diáconos permanentes (casados).

Por outro lado, enquanto enaltece a Eucaristia como dado constitutivo da vida da Igreja e lamenta que as comunidades amazónicas tenham muita dificuldade em aceder a ela, frisa a essencialidade das funções do presbítero que não estão na animação das comunidades – que pode ser confiada a leigos e leigas sob a dinâmica apostólica do envio eclesial – mas no poder de celebrar a Eucaristia cabendo-lhe em exclusivo dizer “Isto é o meu corpo…” e ministrar o sacramento da Reconciliação/Penitência proferindo as palavras “Eu te absolvo”. E, para que as comunidades amazónicas tenham acesso mais facilitado a estes sacramentos (e obviamente ao da Santa Unção), Francisco recomenda a migração missionária de sacerdotes para a Amazónia. Isto quer dizer que, segundo o Pontífice, antes da ordenação presbiteral de homens casados e da ordenação diaconal de mulheres, há muitas outras possibilidades a explorar e consolidar.

Em todo o caso, o Papa continua a denunciar a injustiça e o crime ecológico e desumano cometido contra a floresta amazónica e povos autóctones, não penas por estrangeiros, mas também por autoridades locais que se deixam levar pelo objetivo do lucro e do falso progresso económico. E o documento releva os quatro sonhos sobre a Amazónia: o sonho social, o sonho cultural, o sonho ecológico e o sonho eclesial.

A nível do sonho social, propõe-se o diálogo social, que “não se deve limitar a privilegiar a opção preferencial pela defesa dos pobres, marginalizados e excluídos, mas há de também respeitá-los como protagonistas”, pois “trata-se de reconhecer o outro e apreciá-lo ‘como outro’, com a sua sensibilidade, as suas opções mais íntimas, o seu modo de viver e trabalhar” e, não sendo assim, “o resultado será, como sempre, ‘um projeto de poucos para poucos, quando não um consenso de escritório ou uma paz efémera para uma minoria feliz” – o que tornará necessária “uma voz profética”, que nós, como cristãos, somos chamados a fazer ouvir.  

A nível do sonho cultural, propõe-se o encontro cultural, pois, “na Amazónia, mesmo entre os distintos povos nativos, é possível desenvolver relações interculturais onde a diversidade não significa ameaça, não justifica hierarquias de um poder sobre os outros, mas sim diálogo a partir de visões culturais diferentes, de celebração, de inter-relacionamento e de reavivamento da esperança”. Por consequência, “em qualquer projeto para a Amazónia, é preciso assumir a perspetiva dos direitos dos povos e das culturas, dando assim provas de compreender que o desenvolvimento dum grupo social (...) requer constantemente o protagonismo dos atores sociais locais a partir da sua própria cultura”. Na verdade, “nem mesmo a noção da qualidade de vida se pode impor, mas deve ser entendida dentro do mundo de símbolos e hábitos próprios de cada grupo humano”. E, “se as culturas ancestrais dos povos nativos nasceram e se desenvolveram em estreito contacto com o ambiente natural circundante, dificilmente podem ficar ilesas quando se deteriora este ambiente”.

A nível do sonho ecológico, o documento refere que, para cuidar da Amazónia, é bom conjugar a sabedoria ancestral com os conhecimentos técnicos contemporâneos, mas procurando sempre intervir no território de forma sustentável, preservando ao mesmo tempo o estilo de vida e os sistemas de valores dos habitantes”. Com efeito, “a estes, especialmente aos povos nativos, cabe receber, para além da formação básica, a informação completa e transparente dos projetos, com a sua amplitude, os seus efeitos e riscos, para poderem confrontar esta informação com os seus interesses e com o próprio conhecimento do local e, assim, dar ou negar o seu consentimento ou então propor alternativas”. E o documento estriba-se em conceitos científicos, que respeita.

E, a nível eclesial, o Papa sente:

Perante tantas necessidades e angústias que clamam do coração da Amazónia, é possível responder a partir de organizações sociais, recursos técnicos, espaços de debate, programas políticos… e tudo isso pode fazer parte da solução. Mas, como cristãos, não renunciamos à proposta de fé que recebemos do Evangelho. Embora queiramos empenhar-nos lado a lado com todos, não nos envergonhamos de Jesus Cristo. Para quantos O encontraram, vivem na sua amizade e se identificam com a sua mensagem, é inevitável falar d’Ele e levar aos outros a sua proposta de vida nova: ‘Ai de mim, se eu não evangelizar! (1 Cor 9, 16).”.

Depois defende a inculturação e os caminhos da inculturação: inculturação social e espiritual; inculturação litúrgica (onde ainda há muito por fazer); e inculturação no mistério.

Por fim, Francisco dirige uma prece a Maria, “a Mãe que Cristo nos deixou”, que, “embora seja a única Mãe de todos, manifesta-Se de distintas maneiras na Amazónia”. E, sabendo nós que “os indígenas se encontram vitalmente com Jesus Cristo por muitos caminhos”, também sabemos que “o caminho mariano contribuiu mais que tudo para este encontro”.

***

Enfim, vejo na exortação apostólica grande aproximação ao teor do livro “Uma Igreja de todos e de alguém”, do Padre José Luzia (Paulinas, 2012), que descreve, a partir da análise da realidade moçambicana, um conjunto de experiências de Igreja ministerial sob a égide do então Bispo de Nampula, Dom Manuel Vieira Pinto, com réplica em Quelimane, em que leigos, mandatados e enviados, animavam as comunidades com seus ministérios, não como substitutos dos padres, que rareavam, mas tirando partido da Lumen Gentium, constituição dogmática sobre a Igreja, e do Apostolicam Actuositatem, decreto conciliar sobre o apostolado dos leigos – do Concílio Vaticano II – e documentos pontifícios subsequentes. Para tanto, urgia a formação bíblica e a sua articulação com a realidade cheia de carências e possibilidades, que induziu uma nova visão de Igreja, não piramidal, mas participativa e cintilante. É certo que o livro critica recuos em documentos da Cúria Romana, mas infere que as comunidades eclesiais da África subsaariana são verdadeiro lugar teológico, o que agora é assumido com a região amazónica.

Porém, há ainda muito caminho por fazer e por percorrer.

2020.02.12 – Louro de Carvalho