quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A história do João...O seu entusiasmo e a sua desilusão

Filho de pai crente e de mãe religiosamente indiferente, o João cresceu nas franjas da Igreja. A influência materna é realmente importantíssima. O rapaz foi baptizado, fez a 1ª comunhão e... ficou por aí...
Ao domingo, fazia como a mãe. O Pai ia sozinha à Missa.
Um dia chegou um padre novo à sua paróquia. Sacerdote zeloso, procurou acima de tudo atrair os jovens, aí como em tantos lados, afastados da Igreja. Dotado de imenso jeito para a música, afável e cativante, caiu muito bem junto da gente nova.
Sempre que vinha cá ao norte, o João entusiasmava-se quando falava do novo padre da sua comunidade. Que já ia à Missa, que participava no grupo de jovens, que agora sim, é que era maravilhoso. E contava detalhadamente as muitas actividades em que participava, desenvolvidas pelos jovens da sua terra.
Sempre o entusiasmei, mas sempre lhe referi que não ficasse nas pessoas, por mais brilhantes que pudessem ser. Que caminhasse para Cristo, que fizesse d'Ele o centro do seu viver e agir.
Soavam-lhe a ofensa as minhas palavras. Que o tal padre era espectacular, que nunca o desiludiria, que tal e coisa... E foi assim durante bastante tempo.
Certo dia, apareceu cabisbaixo, quase nem falava, quase a fugir. Esperei a ocasião adequada e perguntei-lhe o que se passava. Tinha abandonado o grupo, a Igreja. "Nem me fale nesse padre!" O sacerdote nada fez de mal, o João é que estava apaixonado e pensou que o padre andaria a "arrastar a asa à sua namorada". Tontices que a ciumite provoca num coração jovem...
Com a grande confiança que tinha com ele e com a família, fui duro e curto:
- O que precisavas mesmo era de duas lostras nessa cara! Não te pedi tantas vezes para não ficares nas pessoas, mas seguires para Cristo!?
O João encolheu os ombros e debandou.

A verdade da vida aí está:
- Ou a família cria raízes fundas, alicerça a fé, ou tudo será difícil. Podem surgir fogachos, mas não passam disso... fogachos! - O povo tem razão quando afirma que "alguns ficam nos santos em vez de irem directamente a Deus." Aplicando, só Deus não falha, só Deus merece a nossa adesão incondicional, só Deus dá sentido à existência. Quando nos agarramos apenas às pessoas, estas podem a qualquer momento decepcionar-nos.

Aquela família que conheci em tempos e que tinha tido um problema grave com o pároco da sua paróquia, ia à Missa cada domingo. E quando as pessoas, infelizmente sempre mais disponíveis para fazer crescer muros do que para ajudar a derrubá-los, lhe diziam:
- Ai, se fosse comigo, nunca mais iria a uma Missa celebrada por este padre!
O Casal respondia:
- Mas nós não vamos lá por causa do padre, mas por causa de Cristo. E Esse nunca nos falha!

Desculpem-me, amigos, mas é o que penso. Considero uma verdadeira tonteria, um perfeito disparate aquilo que tantas vezes se ouve a respeito do abandono de alguns por causa dos defeitos dos padres, dos catequistas, dos praticantes.
Afinal, qual é o deus dessa gente? Não será antes uma "desculpa de mau pagador"?

Que os padres devem esforçar-se por ser santos, nem duvido. Mas só eles? A vocação à santidade, à perfeição, à conversão de vida não é para todos?

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