sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Não se falavam há 14 anos!

Duas famílias em que os maridos eram irmãos.
Mais ao menos ao mesmo tempo, ambas as famílias abandonaram a aldeia e vieram para os arredores de uma cidade onde uma e outra haviam adquirido uma quinta. Durante muito tempo, num mundo desconhecido e estranho, as duas famílias ajudavam-se, colaboravam, confraternizavam.
Um questão referente à exploração de água, -las de costas. E estranho! Nem sequer falaram sobre o assunto. A família que se sentiu lesada avançou para o tribunal. Advogados de um lado e de outro, promessas de vencer a contenda, muito dinheiro gasto e... 14 anos sem se falarem. Nenhum membro de uma família falava para qualquer membro da outra. Só em casos de algo estranho e calamitoso para qualquer uma das famílias, a outra alertava.
O tempo veio serenar os espíritos e trouxe a convicção de quão fútil foi a questão que os separou. De um lado e do outro havia o desejo de voltarem a falar. Mas... quem dá o primeiro passo??? E coragem?
Normalmente todos iam à mesma Missa à cidade. Só que se vigiavam o suficiente para nunca usarem o mesmo caminho ou ficarem perto no templo - sobretudo para assim ser evitado o abraço da paz.
Era dia do Corpo de Deus. A homilia incisiva do sacerdote, o facto de todos andarem a fugir uns dos outros para não caminharem juntos na procissão, a presença de Cristo que a todos salva e ama profundamente mexeu com o Jerónimo, o chefe de uma das famílias. Sabia que ao fim da Missa o seu irmão costumava dirigir-se a um café perto da Igreja para a bica. Disse à família para ir caminhando que tinha um negócio a tratar. Não entrou no café. Esperou cá fora. E quando daí a instantes o irmão José sai do café, os olhos cruzam-se. Sem nada dizerem, avançam um para o outro e abraçam-se. Um voz embargada pela emoção balbucia ao ouvido de cada um: "Desculllllllllpa!"
- O que lá vai, lá vai - sentenciou o José. - Não se fala mais nisso.
E os dois homens conversaram longamente, perdidos no tempo, imbuídos de imensa paz e satisfação. De tal maneira que, em casa, as famílias estavam aflitas, pensando no que poderia ter acontecido.
José chega feliz. Como há muito a família não o via. Apenas diz para a mulher:
- Coloca o almoço num cesto que hoje vamos almoçar com o meu irmão!
A família de Jerónimo já comia quando se sente o bater à porta.
- Podemos entrar? - pergunta o José.
As duas mulheres beijam-se, pedem e oferecem perdão. Os primos abraçam-se, a mesa remonmta-se e partilha-se pela tarde fora o pão da paz, da amizade e do reencontro.
A fraqueza humana separou-os; o Corpo do Senhor uniu-os.

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