quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

TÃO PARECIDOS, TÃO DIFERENTES!

Aqui há uns tempos, na mesma semana, surgiram-me duas situações. A mesma condição de emigrantes, semelhante escolaridade, a mesma situação conjugal, mas tão diferentes no estofo interior e na maneiras como se postulam perante a vida!

1ª situação
Ele é daqui, ela não. Conheceram-se na Suíça para onde ambos haviam emigrado. Namoram-se e juntaram-se. Nasceu-lhes uma menina. Ambos concluíram o 12º ano de escolaridade antes de deixar a terra.
A mãe apareceu. Queria marcar o baptismo da netinha. O filho e a companheira vinham passar um mês de férias e queriam fazer o baptismo da bebé. Disse que queria a neta baptizada, pois andavam por lá, as viagens eram longas e que nunca se sabe o que pode acontecer...
Falámos da situação dos pais da sua neta. E referi-lhe que se as viagens eram longas para a criança, também o eram para os seus pais, que o perigo tanto espreita pequenos como grandes, que Deus não condena inocentes, mas que os crescidos têm que responder pelo uso da liberdade, pela abertura ou recusa ao projecto de Deus sobre o casamento... Por isso, insisti, era mais importante ajudar a caminhar o filho e a companheira no sentido da projecto de Deus sobre o matrimónio do que preocupar-se com o Baptismo da neta.
De pronto, disse que não senhor, que são crescidos, que eles é que sabem da sua vida, que agora é tudo assim, que os tempos mudaram, que ela estava mais é preocupada com a "inocentinha"...
Senhora dos seus medos e cheia dos seus preconceitos, havia emparedado o coração. Nada lá entrava. Disse-lhe então que queria falar com os pais da bebé logo que chegassem.
Vieram de facto. De chofre, informaram logo que queriam baptizar a pequena, mas casar não. Ainda não estavam reunidas as condições económicas para fazer a festa do casamento. Que pensariam nisso depois...
Falei-lhes da verdade e da coerência de vida. Que a criança poderia esperar até se decidirem a casar catolicamente e então far-se-ia a celebração do matrimónio e o baptismo. Perguntei-lhes onde estava a verdade e a coerência em querer "meter" a criança na Igreja, quando eles não queriam viver conforme a doutrina da Igreja.
Que não senhor, queriam era baptizar a menina. E adiantaram logo que os padrinhos seriam a irmã dela e o irmão dele, pois, além da vontade deles, também estes familiares queriam muito sê-lo. E foram dizendo que o irmão dele não estava casado catolicamente, apenas "juntos" e que a irmã dela não fora crismada, tinhas as "comunhões", mas crismada não estava.
Lá fui explicando, com a paciência possível, aquilo que já me doi a voz de tanto informar: as condições necessárias para ser padrinho/madrinha de baptismo (até estão na coluna da direita deste bolg). Que estes requisitos não eram obra minha, mas exigência da Igreja.
Aceleraram, sobretudo ela. Que noutras terras não era assim, que aceitavam os padrinhos, que eu é que era exigente. Pedi-lhes para serenar. E perguntei-lhes se, estando numa fila e aparecendo o sinal vermelho, eles o ultrapassavam, mesmo que outro o fizesse. Disseram que não, que era perigoso, que não queriam pôr a vida em risco...
Pois, mas quando se não quer, quando se tem um coração de pedra, quando o egocentrismo é maior do que o planeta, quando dentro do coração não há nada a que a verdade se agarre... dá nisto.
Surgiu então o chavão: "Os padres é que deitam a religião abaixo..." Aqui, confesso, perdi um pouco a paciência. Penso mesmo que às vezes é preciso.
- Que religião? - perguntei. - A vossa religião chama-se "manias, orgulho, vazio e preconceitos." E essa sim é mesmo preciso deitá-la abaixo!!!
2ª situação
Estão na Suíça. Têm ambos o 12º ano, conheceram-se lá, namoram e juntaram-se. Têm um menino de 4 anos que ainda não está baptizado.
Pensaram em baptizá-lo quando nasceu, mas os pais dela ajudaram-nos a reflectir. Que resolvessem primeiro a sua situação, que fossem com calma, que a verdade e a coerência estavam acima de tudo. Que Deus não condena inocentes, mas que eles, como adultos cristãos, estavam a viver fora da vontade de Deus.
Ela disse-me, quando me vieram contactar, que não haviam casado só por este motivo: tinham dúvidas, precisaram de um tempo de amadurecimento afectivo, sentimental e de projecto de vida. Mas que durante estes quatro anos, haviam crescido os dois, já sabiam o que queriam. Desejavam o matrimónio para, na consciência da verdade e da coerência, poderem pedir o baptismo para o seu menino.
Felicitei-os vivamente pela postura, pela humanidade e pela decisão. Ela disse-me que queria uma cerimónia muito simples, sem exuberâncias de boda, porque era assim que ambos gostavam. Mais, frisou que para eles o importante era a cerimónia da Igreja e que ficariam muito magoados com os convidados que os abandonassem nesse momento.
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A FAMÍLIA, SEMPRE A FAMÍLIA!
Na primeira situação, a família revela-se vazia, preconceituosa, apenas preocupada com o efémero.
Na segunda situação, a família mostra-se aberta ao projecto de Deus, reconhece os seus limites e apostando no essencial.
Agora, reparem. Que comportamento teve a mãe do rapaz na primeira situação?
E que postura tiveram os pais da rapariga na segunda situação?
Pois, uma boa árvore dá bom fruto; uma má árvore dá...
Mãos que não dais, o que é que esperais? Se os pais não dão valores, princípios, postura séria e digna diante da vida, que se pode esperar dos filhos?

1 comentário:

  1. Parabéns pelo post! Revejo-me nestas duas situações. Na segunda, porque sempre procuro ajudar os meus filhos no caminho da verdade e da coerência. Na primeira situação, porque o meu filho mais novo, infelizmente, ainda pensa e vive um bocado como esse casal. Já não está tão fechado como há uns tempos, mas ainda muito longe do ideal.
    Vou, interessada, continuar a fazer o seu trabalho. Conto com a sua oração.
    Raquel Gouveia

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