As características da família descritas nos trechos do Antigo Testamento, sobre as quais se modelavam as nossas famílias patriarcais, eram: a paz, a abundância de bens materiais, a concórdia e a descendência numerosa - sinais da bênção do Senhor; a obediência e o amor eram a lei fundamental; essa obediência não era só sinal e garantia de bênção e prosperidade para os filhos, mas também um modo de honrar a Deus nos pais . A este tipo de família o cristianismo trouxe um convite a uma contínua vitória sobre si em vista do Reino: São Paulo pede aos esposos e aos filhos cristãos que vivam a vida familiar como se já vivessem na família do Pai celeste. Apresentando-nos a experiência de Cristo que entra no contexto de uma família humana concreta.
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Jesus perdido e encontrado
Nem tudo é idílico, paz e serenidade na família: ela passa pelos sofrimentos e dificuldades do exílio e da perseguição; pelas crises do trabalho, da separação, da emigração, do afastamento dos pais. Na sagrada Família, como em todas as outras, há alegrias e sofrimentos, desde o nascimento até à infância e à idade adulta; ela amadurece através de acontecimentos alegres e tristes para cada um de seus membros.
O momento em que o caminho dos filhos se separa do de seus pais é um dos mais importantes e decisivos na história da família.
Depois do encontro no templo, Maria e José calam-se, não apresentam objecções sobre a opção de Jesus; inconsciente e intuitivamente percebem que é uma escolha que os exclui (ou parece excluí-los) da vida de seu único filho, uma opção semeada de lágrimas e sangue, mas a aceitam, porque essa é a vontade de Deus.
Família cristã
O quadro da família apresentado pela Sagrada Escritura não corresponde, sob muitos aspectos, à situação da família actual, cujos problemas às vezes parecem ser não só diferentes, mas totalmente opostos.
Na actual revolução social, a célula familiar está particularmente em perigo. Seu direito tradicional, sua moral, sua economia, sua função são frequentemente postos em discussão.
Devemos convencer-nos de que a família autónoma, ambiente fechado numa sociedade fechada, pertence a uma época sociológica passada. Só um repensar doutrinal profundo pode ajudar a família a situar-se no mundo de hoje e a construir-se a si mesma frente às dificuldades que encontra.
Do ponto de vista moral, o divórcio, o espinhoso problema da limitação da natalidade e o aumento do número dos matrimónios fracassados obrigam os cristãos a retomar consciência do carácter sagrado da família cristã. No plano económico, a crise das habitações, o trabalho da mulher fora de casa, o problema do tempo de lazer abalam a economia familiar e sacrificam essa célula essencial às exigências da sociedade técnica. No plano político, a família é felizmente ajudada pelo Estado em muitos países, mas corre o perigo de ficar a serviço do Estado, sobretudo no que concerne à primeira educação dos filhos.
Esses graves problemas não se podem resolver facilmente; quem ousaria lançar a pedra contra os que vêem sua família desagregar-se no plano moral, quando não é garantido um mínimo de condições económico-sociais? O primeiro dever do cristão é, pois, lutar a fim de obter para as famílias não abastadas o necessário espaço vital. Além disso, devem os noivos ser preparados para sua tarefa educativa e para sua vida de intimidade e comunhão, a fim de que não degenere, não fracasse, não se desvirtue no divórcio.
Família aberta
Trabalho não menos necessário, no mundo actual, é o de ensinar aos membros da família cristã a viver em comunidade, aberta para as necessidades do bairro e da paróquia, disposta a colaborar com as outras comunidades mais amplas.
Os filhos já estão implicados em comunidades artificiais de todo género (cidade, colégio, profissão, sindicato...), mais sensibilizados para os problemas mundiais, a paz no mundo, o auxílio aos países subdesenvolvidos, etc. Os adultos, diante do futuro do nosso mundo inquietante e cheio de riscos, tendem a assumir uma posição de medo e conservadorismo, de defesa das comunidades naturais (família" e pátria), e não sabem responder às exigências dos que vivem no plano das outras comunidades.
O critério supremo de vida da família deve ser procurado no exercício da caridade, que é a verdadeira fonte da unidade familiar. Este exercício só é possível se as fronteiras da família forem as do reino da fraternidade universal. A vida familiar não pode ser vivida na verdade se não for aberta a esses horizontes.
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