sexta-feira, 20 de novembro de 2009

CRISTO REI - Ano B

“O meu reino não é deste mundo”. Jo 18, 36

É um dos encontros mais espantosos do Evangelho: Pilatos e Jesus. O representante do império mais poderoso e o profeta do reino de Deus, o primeiro na sede onde dita as sentenças, Jesus preso como um delinquente. Que realeza é essa que Jesus reclama? Sem trono, sem poder, sem ambição de dinheiro, sem nenhum sistema injusto que o sustente, sem legionários que lutem por ele? “O meu reino não é deste mundo”! Porquê então a sua condenação? “Sou rei. Para isso nasci e vim ao mundo a fim de dar testemunho da verdade.”
Toda a vida de Jesus é uma interpelação: “aquele que é da verdade escuta a minha voz”! E isto incomoda os grandes poderes em todos os tempos. Porque a sua maior ânsia é possuir a verdade. E em nome dela justificar, tantas vezes, o injustificável. Quem segue Jesus não é dono nem guarda da verdade, serve-a testemunhando-a. Por isso não pretende derrotar os adversários, nem impor uma doutrina, nem controlar a fé de outros ou ter razão em tudo. Porque vive em união a Jesus procura converter-se a Ele, quer transbordar o amor que sente por Ele, olhando tudo com os olhos do Evangelho, em tudo semeando a verdade de Jesus. Fazendo seu o programa das bem-aventuranças.
Jesus fala de um reino novo. Que não tem fronteiras porque o seu terreno é o coração dos homens. Que tem uma linguagem que todos entendem, a do amor. Um amor que radica no “amor das entranhas”, a “hesed” bíblica, traduzida depois por ágape e caridade. Assim se referia o P. Peter Stilwell à “compaixão”, a propósito da “Carta pela Compaixão”, uma iniciativa de várias confissões religiosas e não-crentes: “Trata-se de uma emoção delicada: um transbordar do coração perante as alegrias e sofrimentos dos outros. É um movimento profundo que arranca das raízes do nosso ser, antecedendo a reflexão da razão e a inclinação da vontade. Mais do que uma atracção "química" pelo outro, ou sequer um sentimento psicológico de afinidade, é uma virtude ou força espiritual. Os cristãos lêem-na como brotando do próprio Deus, e por isso lhe chamam "virtude teologal" (http://www.snpcultura.org/vol_carta_pela_compaixao.html).
Se queremos viver neste reino, talvez seja necessário um primeiro exercício: destronizarmo-nos a nós próprios, deixar de ser o centro das preocupações e colocar aí Deus e os outros. Valorizar os sentimentos, as atitudes, as palavras, o sofrimento e a alegria, que generosamente partilham. Despojarmo-nos dos mantos e vestes que aparentam auto-suficiência e olhar os outros nos olhos. Gostando mais de quem vemos. Escutando a verdade que também testemunham.
P. Vítor Gonçalves

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