1. Há gente que faz pergunta sobre pergunta, para adiar
o problema e não dar de frente, com a realidade! Gente que gosta do
espetacular e de especular, sobre teorias, boas políticas, boas
práticas, e até sobre os grandes princípios da doutrina social da
Igreja, mas, entretanto, foge da realidade nua e crua, a sete pés, para
não sujar as suas mãos na resolução dos problemas! Jesus não se deixa
embrulhar, em conversa fiada, em línguas de perguntador, e responde
simplesmente, com um programa prático da fé: “Faz isso e viverás”. É o primeiro mandamento. E o segundo: “Vai e faz o mesmo”,
isto é, faz o mesmo que o samaritano… Ele, que sem ser interrogado, se
sentiu questionado; Ele que se viu posto em causa e se deixou interpelar
por dentro, como se o grito silencioso do homem, quase morto,
fosse para ele uma ordem de serviço, um mandamento gravado na alma, um
imperativo de consciência, uma responsabilidade que não podia delegar às
mãos de outro! “Ele passou junto do homem ali deixado meio morto, e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão”. E traduziu essa compaixão em gestos de cura, de cuidado extremo do outro e pelo outro!
2. A propósito desta cena, vem-nos à memória, a recente
visita do Papa Francisco, à ilha italiana de Lampeduza, onde tantos
imigrantes e refugiados morrem no mar, na tentativa de deixar África e
alcançar a Europa. E ali mesmo disse-nos o Papa: “Hoje ninguém, no
mundo, se sente responsável por isso; perdemos o sentido da
responsabilidade fraterna; caímos na atitude hipócrita do sacerdote e do
levita de que falava Jesus na parábola do Bom Samaritano: ao vermos o
irmão, quase morto, na beira da estrada, talvez pensemos «coitado»
e prosseguimos o nosso caminho; não é dever nosso; e isto basta, para
nos tranquilizarmos, para sentirmos a consciência, em paz”. E
acrescentou: “A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós
mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, faz-nos viver como
se fôssemos bolas de sabão: estas são bonitas, mas não são nada, são
pura ilusão do fútil, do provisório. Esta cultura do bem-estar leva à
indiferença, em relação aos outros; antes, leva à globalização da
indiferença. Neste mundo da globalização, - dizia o Papa Francisco -
caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do
outro; este não nos diz respeito, não nos interessa, não é
responsabilidade nossa! A globalização da indiferença torna-nos a todos
«inominados», isto é, responsáveis, sem nome nem rosto” (Papa Francisco,
Homilia em Lampedusa, 8-07-2013). Bento XVI dissera, na sua encíclica social: “a globalização faz-nos vizinhos, mas não nos torna irmãos” (CV 19).
3. O Ano da fé é também ocasião propícia para o
testemunho da caridade (PF 14). A fé autêntica frutifica sempre em amor.
Aliás, só, pela fé, podemos descortinar no outro, o verdadeiro rosto de
Cristo. Não há, portanto, pausa, nem férias, nem intervalo possível,
para uma vivência da fé, que se traduza no amor ao próximo! Este tempo
de praia, não pode ser o tempo de metermos a cabeça na areia, para não
ouvir as perguntas, que Deus, desde sempre, sussurra à nossa
consciência: “que fizeste (ou não fizeste) do teu irmão, que fizeste
(ou não fizeste) pelo teu irmão, que fizeste (ou não fizeste) ao teu
irmão” (cf. Gn.4,9.10).
4. Que a luz da fé, nos faça olhar para o irmão, “com os olhos de Jesus”(Papa
Francisco, Luz da Fé, 18). Que a mesma luz da fé “nos ensine a ver que,
em cada homem, há uma bênção para mim; que a luz do rosto de Deus, me
ilumina através do rosto do irmão” (LF 54). Que a fé se torne então “luz
para os nossos olhos” (LF, 22), nos dê um coração que vê. Este coração
vê onde há necessidade de amor e age de acordo com isso» (Deus caritas
est, 31): Se crês assim, “faz isso e viverás”!
Fonte: ABC da Catequese
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