sexta-feira, 28 de outubro de 2011

XXXIº Domingo Comum - Ano A

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Leituras: aqui

COMENTÁRIO
1. «Dizem e não fazem»! Sobram as palavras e falta o exemplo! Não é ainda uma censura à austeridade do governo, que, pelos vistos, não chega aos bolsos de quem a impõe. A censura recai, em primeiro lugar, sobre os que se sentam na cadeira de Moisés, escribas e fariseus! E, neste sentido, o pobre pregador desta homilia, é o primeiro a «levar por tabela» e a ter de precaver-se do risco fatal de «andar a bater a penitência no peito dos outros»! Mas, em boa verdade, esta denúncia de incoerência entre “o dizer e o não fazer”, esta crítica a qualquer forma de abuso de poder sobre os outros, pode estender-se também a todos os que estão revestidos de autoridade, ou exercem cargos de direcção ou de educação, na sociedade ou na comunidade cristã.
E, sem querer sacudir a água do capote, temos de convir que não estão fora do alcance destas duras palavras de Jesus, os próprios pais, pai e mãe, que exercem uma autoridade própria, juntos dos filhos, de quem são, aliás, os primeiros educadores! É tal, a beleza e a riqueza da missão dos pais, que o profeta Malaquias tira da imagem do «pai» um título, que pertence, por inteiro, a Deus, em primeiro lugar. No Evangelho, Jesus confirma que «um só é o vosso Pai» e «um só é o vosso Mestre»! São Paulo compara o seu ofício pastoral ao de “uma mãe que acalenta os filhos que anda a criar”; parte daí mesmo, como se não houvesse melhor exemplo, para quem faz do anúncio do evangelho uma partilha da própria vida!
2. Caríssimos irmãos e irmãs: Estamos todos centrados e concentrados, durante este ano, na perspectiva da “Família”, como primeira experiência de Igreja e primeira escola de vida, de valores e de fé! Na família, «verdadeira Igreja Doméstica, os pais devem ser, para os filhos, os primeiros educadores da fé, mediante a palavra e o exemplo», diz o Concílio (LG11). «O testemunho de vida cristã oferecido pelos pais no seio da família chega aos filhos envolvido no carinho e respeito paterno e materno. Os filhos sentem e vivem plenamente a proximidade de Deus e de Jesus que os pais manifestam, até ao ponto desta primeira experiência cristã deixar neles uma marca decisiva que dura toda a vida. Este despertar religioso infantil no ambiente familiar tem por isso mesmo um carácter insubstituível” (DGC 226). Educar na fé os filhos, não é, pois, em primeiro lugar, instrui-los em assuntos religiosos ou desfiar em casa um catecismo; é sobretudo criar uma atmosfera de amor, que fale de Deus, e um ambiente de oração, que deixe Deus falar. De facto, todos os dias o vemos, lemos e sabemos: o que não se aprender e viver em casa, seja na humanidade e na ternura dos gestos de amor, seja na qualidade das relações de doação e de respeito, seja na abertura orante do coração a Deus, dificilmente se poderá aprender e viver fora de casa, no ambiente social ou na vida paroquial. Por isso, a futura evangelização, «depende em grande medida da Igreja doméstica» (João Paulo II, FC 52), isto é, da família cristã!
3. Talvez os meus ouvintes, contraponham a esta tese ideal, a antítese das palavras de Jesus: mas «eles dizem e não fazem». Eles pedem a catequese para os filhos, como quem delega e não como quem assume a responsabilidade de os educar na fé». Talvez outros me contestem ainda mais, com o frio realismo dos números, dizendo: «a família sofre hoje uma grave crise, que põe em causa a sua capacidade educadora e catequética». Há uma crónica falta de diálogo e um silêncio educativo, que quebram os elos da transmissão dos valores e da fé, através da família.
4. Eu diria, então, uma palavra de esperança e de confiança, na missão educativa da família cristã: creio que «apesar de tudo, a família actual tem grandes potencialidades e recursos para a educação da fé». Todos os estudos de opinião mostram que, mesmo em crise, a família é ainda a instituição mais relevante na vida e na felicidade das pessoas. E este potencial educativo da família supera em muito as condições de normalidade, em que esta possa funcionar ou não. Muitas famílias, estruturalmente disfuncionais, conservam, para lá das aparências, valências educativas muito fortes, que se concentram sobretudo na qualidade da sua capacidade de relação e de comunicação de valores, convicções e normas de conduta. Pode mesmo dizer-se que, em certas ocasiões, uma família desordenada e desestruturada, mas com uma boa dose de acordo e sensibilidade educativa, pode educar melhor que uma família dita normal, mas com pouco amor, entendimento mútuo e capacidade comunicativa. Todos os estudos apontam para a conclusão de que, nestes tempos de crise religiosa, o acolhimento da fé numa pessoa, depende basicamente da experiência religiosa que a família lhe tiver dado, desde o seu berço. Tende esta confiança: nenhum grupo humano pode competir com a família, no momento de oferecer aos filhos a base religiosa de valores, num clima de afecto. Contra ventos e marés, a família, em mudança, continua a ser o ambiente, no qual a educação religiosa não só é possível, mas é, inclusive, insubstituível. Nesta tarefa, nada nem ninguém se lhe pode comparar. “Esta função educativa da primária dos pais é de tal ordem que, onde não existir, dificilmente poderá ser suprida” (GE 2).
5. Queridos irmãos e irmãs: Façamos então tudo o que pudermos, para responsabilizar, motivar e acompanhar as famílias! Animemos as famílias, dando-lhes confiança na sua obra educativa. Mas não as deixemos sozinhas, nessa missão, para a qual hão-de contar sempre com a Igreja, como sua grande família. Ofereçamos-lhes sobretudo ocasiões e espaços de formação, de confronto, de acompanhamento, de ajuda.
O melhor que podemos fazer pelas famílias não é fazer coisas por elas ou em vez delas; é deixarmos que sejam elas a fazer; que se tornem elas mesmas agentes e protagonistas da missão! Queira Deus, que, ao longo deste ano pastoral, as nossas famílias se tornem cada vez mais «o coração da nova evangelização» (João Paulo II, EV 92).
Fonte:aqui

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