Os tempos que correm, numa progressão enorme, são tempos de desumanidade cruel: raptam-se e assassinam-se crianças, assaltam-se adultos e enganam-se idosos simples, matam-se namoradas e esposas, mães e pais. Atropelam-se pessoas sem dar ajuda, pratica-se terrorismo mortal por todos os meios, etc.
Este planeta que poderia ser uma aldeia global pacífica, tranquila e feliz, transformou-se num habitáculo de sofrimento e morte.
Esta desumanidade aviltante mostra-se na vida e até na morte. Ouvi na Rádio uma reportagem impressionante, sintomática do mundo bárbaro em que vivemos.
Há em Lisboa uma confraria – Confraria de São Roque – que tem por objectivo acompanhar aos cemitérios os funerais dos “sem-abrigo”, que a Santa Casa da Misericórdia paga e que ninguém acompanha.
O jornalista entrevistou duas senhoras membros da referida Confraria, que acompanhavam à sepultura um infeliz, sem família, sem saber-se o seu nome, sem uma flor, sem uma lágrima, sem oração, se aquelas duas bondosas senhoras não rezassem silenciosamente. Apenas dois empregados da funerária. E mais ninguém a afirmar esperança na vida além da morte.
Uma delas, enquanto caminha, vai pensando como é possível que abandonem seus familiares nos hospitais, dando moradas falsas.
Bem-aventuradas mulheres que acompanham à última jazida
gente infeliz, sem nada e sem ninguém, como estandartes de fé e de esperança na vida eterna.
Mário Salgueirinho
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