Recordo aqui o que sobre ela escrevi no blog Asas da Montanha em 19 de Janeiro de 2008, então a 2 meses de perfazer oitenta anos.
"Quem a vê caminhar parece uma rapariga nova, tal a agilidade com que se mexe. Sempre disponível para aquilo que se lhe pede. Acaba de ser nomeada Ministro Extraordinário da Comunhão. Foi uma alegria e tanto. Eu sei que ela o esperava há muito tempo, embora nunca mo tivesse dito. Durante a semana, substitui o sacristão. Vai buscar a chave, toca o sino, prepara o altar, preenche os papéis com as intenções da Missa, procura os devidos leccionários e faz a leitura. Claro que se topa alguém na assembleia que ela sabe que lê bem, vai desinquietar. Não é abocanhante.
Quando entro, já ela está a rezar há bastante tempo. Vai sempre à sacristia antes da Eucaristia com a pergunta sagrada: "Tá tudo bem? É preciso alguma coisa? "
Terminada a Eucaristia, volta a colocar tudo no seu lugar, "porque a casa de Deus é para se manter arrumadinha". Se vê que estou com tempo, lá vem um desabafo, uma historieta, uma experiência. Mas se repara que estou com pressa, não me retém. Apenas pergunta: "Já posso fechar as luzes?" Saio da sacristia, e a voz dela acompanha-me: "Vá descansado, eu cá trato de tudo."
Ah! É catequista do 10º ano conjuntamente com outro catequista. Embora de idades muito díspares, entendem-se muito bem e os adolescentes gostam deles. Tem sempre uma história na ponta da língua para ilustrar um ou outro ponto da lição.
Anda agora feliz, mais do que nunca. Todos os dias vai rezar o terço com os idosos que estão no Lar e duas vezes por semana distribui a Sagrada Comunhão, com um consequente tempo de adoração.
Nos passeios dos vários grupos paroquiais - ela pertence a quase todos - é sempre uma fonte de alegria e de boa disposição. Em muitos deles, mormente de pequenos grupos, já vi muita gente de lágrimas nos olhos de tanto rir. Tem realmente uma graça imensa, espontânea, sem baixezas. Então a "história da porca", contada por ela, é de gritos.
Oitenta anos! E ainda pelo Natal distribuiu 200 boletins paroquiais de casa em casa, subindo e descendo escadas quando eram prédios. E comentava no fim: "Tou aqui fresca como uma alface."
No domingo do Mês em que o jornal está à venda, já nem lhe digo nada. Só aponto e ela acena com a cabeça. No fim, lá está, fora da porta da Igreja, no "negócio".
E pensar que esta senhora, "criou um bando de filhos", como ela diz! E pensar que ainda há 2/3 anos foi operada e já se falava do seu fim, tal a gravidade da doença! Trabalhou como uma dobadoira, passou aquelas que o diabo enrosta, mas não se queixa. Gosta demais de viver e transmite-o.
De quando em vez, acompanha-me à 3ª Missa (sim, porque as duas da Igreja ninguém lhas tira, chova ou neve). Na viagem conta-me e reconta-me peripécias da sua vida. Mas nunca deixa de referir o quanto amava o seu falecido marido.
Onde irá buscar tanta força para viver lutando com alegria? Saberão certamente. À fé. Pode exprimi-la aqui e ali em termos menos modernos, mas que é uma fé profunda, com razões de viver, isso é.
Um livro que se lhe dê, chama-lhe um rebuçado. Uns dias depois, lá aparece com o resumo. Claro, que nada lhe tira uns momentos diários de leitura bíblica..."
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.