quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A Igreja precisa de uma eminentíssima e reverendíssima reforma!

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Quando, entre nós, se fala em Igreja, referimo-nos, normalmente, à hierarquia da mesma Igreja Católica. Ao dizermos “a Igreja fez isto ou aquilo”, referimo-nos sempre aos padres, aos bispos ou ao próprio Papa. Como sabemos, ou devíamos saber, isto é uma ideia errada embora seja a ideia dominante entre o povo. Esquecemo-nos que a Igreja somos todos nós os batizados em Cristo porque Ele nunca estabeleceu uma hierarquia sagrada. Para se distinguirem os simples fiéis da hierarquia da Igreja, inventou-se a palavra “leigos” que, por si mesma é depreciativa. Verificamos isto na expressão: ”tu és um leigo na matéria” o que quer dizer: ”não percebes nada do assunto”.
Agora pergunto eu: ”porque é que, ao longo dos tempos, permaneceu este erro embora a hierarquia de que falo, tenha procurado esclarecer que todos somos Igreja?”
Sabemos que a Igreja de que falo se foi estabelecendo, ao longo dos séculos, sobre as estruturas políticas do antigo império romano. Isto
é evidente até nos paramentos e outros acessórios usados pelo clero. Aliás, conhecendo bem a história, podemos afirmar: “ o padre paramentado é um romano vestido a rigor”. Isto nada tem de depreciativo mas pelo contrário, procura dar a conhecer a origem das coisas a que os cristãos católicos, normalmente, atribuem um valor sagrado. E se falarmos das insígnias episcopais, cardinalícias ou até do próprio Papa, a sua origem está nos hábitos e costumes da Roma antiga. Aliás até para distinguirmos os cristãos uns dos outros, utilizamos a expressão: “católicos romanos” para os distinguirmos dos ortodoxos ou protestantes. Até podíamos ir mais longe para sabermos a origem das procissões e as datas de certas festas tão características do nosso cristianismo.
E aqui está uma das razões por que a chamada Igreja é tão pouco atrativa hoje embora seja dominante entre nós. O anticlericalismo, a crítica a decisões da hierarquia, as superstições atribuídas a certas ce1ebraçes litúrgicas, são o sinal de que alguma coisa está errada. Há tempos, alguém perguntou ao atual cardeal patriarca de Lisboa porque é que a Igreja não ordenava mulheres ou homens casados. A resposta foi, mais ou menos esta: ”peçam ao Espírito Santo que inspire a sua Igreja nas reformas necessárias”. Então os fiéis católicos também não receberam o Espírito Santo no Batismo e na Confirmação? Não terão eles uma palavra a dizer sobre a Igreja que são?
Costuma falar-se da liberdade dos filhos de Deus, mas, muitas vezes só há liberdade de ouvir e acatar a hierarquia da Igreja. Para quando uma mudança radical que acabe com preconceitos, ideias feitas ou
com a ignorância? Lembro-me muito bem dum episódio passado aí em Tarouca nos anos cinquenta. Num dia de semana, ia eu a sair da igreja, quando sou interrogado por duas jovens que apontavam para baixo e me perguntavam: “olha um homem com uma faixa vermelha e um chapeuzinho vermelho. Quem é?” Eu olhei e vi que era o Senhor Bispo de Lamego que, por qualquer motivo viera a Tarouca e perguntava onde morava o Padre Duarte. As jovens não sabiam sequer reconhecer um bispo pelas suas vestes!
E bom que os fiéis, os tais leigos, sejam instruídos não só na doutrina e nas leis da Igreja (hierarquia) mas sobretudo no Evangelho e na desmistificação de certas práticas que tornam tantas cerimónias, para o povo em geral, superstições perigosas mas dominantes. Se calhar, as palavras de Frei Bartolomeu dos Mártires no Concílio de Trento: “os eminentíssimos e reverendíssimos cardeais precisam duma eminentíssima e reverendíssima reforma” são hoje mais atuais do que nunca. Há tanta coisa na Igreja(hierarquia e fiéis) que tornam tão baças a imagem de Cristo e do Seu Evangelho que vai sendo altura de deixar ver com toda a nitidez Aquele em Quem acreditamos e no Qual fomos batizados.
A Igreja precisa de uma eminentíssima e reverendíssima reforma!
Carlos A.Borges Simão

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