Li na Internet uma entrevista emocionante a um jovem tuareg, estudante de gestão na Universidade de Montpellier (França) e pensei que os meus leitores iriam apreciar alguns passos interessantes.Tuareg significa “abandonado” porque é um velho povo nómada que vive no deserto a norte do Mali. Pelo seu orgulho chamam-lhes “senhores do deserto”.
São cerca de 3 milhões. Pastoreiam rebanhos de camelos, de cabras, vacas e asnos num mundo de simplicidade e silêncio. “Quando estamos sozinhos naquele silêncio ouvimos o bater do nosso coração” - disse o tuareg entrevistado, com o rosto coberto por um belo turbante azul, transparente, uma fina tela de algodão que protege e permite respirar e ver.
A cor azul é a preferida por aquele povo, porque é “a cor do céu, do tecto da nossa casa”.
“Quais as melhores recordações da sua infância?
Despertava com a luz do sol e ali estavam as cabras de meu pai. Elas nos davam leite e carne, nós as levávamos onde havia água e pasto... Assim fizeram meu bisavô, meu avô, meu pai e também eu. Não havia outra coisa. Eu era feliz com isso.
Aos sete anos já nos deixam afastar do acampamento para aprender coisas importantes: farejar o ar, apurar a vista, escutar, orientar-se pelo sol e pelas estrelas.
Cada pequena coisa proporciona felicidade. Sentimos uma enorme alegria pelo simples facto de estarmos juntos.
Que mais o chocou na primeira viagem à Europa?
“Ver as pessoas a correr pelo aeroporto! No deserto só se corre quando há uma tempestade de areia. Me assustei!
Elas apenas iam buscar as suas malas – disse o entrevistador.
“Sim. Também vi imagens de mulheres nuas. Perguntei-me: porque essa falta de respeito para com a mulher?
No hotel vi uma torneira pela primeira vez na minha vida. Vi a água correr e senti vontade de chorar. Que desperdício! Todos os dias da minha vida tinha de procurar água.
No princípio de 1990 houve uma grande seca. Morreram os animais e nós adoecemos. Tinha eu 12 anos quando minha mãe morreu.
Convenci meu pai a deixar-me ir à escola. Caminhava 15 Km quase todos os dias, até que o professor me arranjou um lugar onde dormir e uma senhora dava-me de comer quando eu passava à sua porta. Entendi que esta ajuda vinha da minha mãe.
Donde lhe veio o desejo de estudar?
Um dia passou pelo nosso acampamento o rally Paris-Dakar. Uma jornalista deixou cair da sua mochila um livro. Apanhei-o e entreguei-lho. Ela ofereceu-me. Era o Principezinho. “Eu me prometi que um dia conseguiria lê-lo.”
E conseguiu.
Mário Salgueirinho
É tão sensibilisante que não há palavras!
ResponderEliminarMaria