quarta-feira, 2 de junho de 2010

Não adiar

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Há atitudes na vida que não podem ser adiadas. Pode ser um telefonema de encorajamento numa hora difícil de um companheiro. Pode ser um cartão de condolências a alguém em hora de luto. Pode ser uma visita para encorajar um colega internado num hospital ou acamado em casa por doença grave. Tantas oportunidades de levar a outros um pingo de alívio, de conforto e de esperança.
Por vezes, os afazeres da vida fazem-nos adiar e voltar a adiar, podendo ser tarde demais, como conta a escritora Matilde Rosa Araújo num dos seus livros..
Era professora. Uma das suas alunas adoeceu gravemente e foi internada num hospital. As companheiras foram visitá-la e vieram comunicar à professora que a moça gostava de vê-la. A professora mandou-lhe um recado dizendo que logo que fosse possível iria visitá-la. A doente ficou radiante e todos os dias esperava o sorriso da sua mestra.
O tempo rolou e a professora sem disponibilidade para fazer a visita prometida. Entretanto a saúde da aluna foi piorando. Matilde conseguiu finalmente um tempo livre para ir ver a aluna. Quando chegou ao hospital, a moça tinha morrido. Era já tarde...
Regressou consternada e escreveu esta história triste para sobreavisar que adiar pode impedir de nos despedirmos, de agradecer, de reconciliar, de pedir desculpas, de mostrar a quem sofre que não está sozinho levando a sua cruz, que tem amigos que conseguiram um tempo para ir junto do seu leito de sofrimento, como que dizendo: “ Estou aqui” nesta hora difícil.
Adiar pode ser tarde demais e este gesto adiado algumas vezes por motivos fúteis deixará na alma uma sensação de culpa: de esquecimento, de ingratidão, de falta de amor.
Mário Salgueirinho

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