1. O mês de novembro é o mês da saudade,
mas deve tornar-se para nós, cristãos, o mês da esperança! Por isso, antes
ainda da comemoração de fiéis defuntos, que nos põe de olhos no chão, a
liturgia deste belo dia de Todos-os-Santos atira-nos os olhos bem para
cima. Na verdade, somos pó, mas um pó
que aspira ao céu. Por isso, somos desafiados a projetar a nossa esperança na
contemplação, na imitação e na intercessão dos santos. A Carta aos Hebreus
define esta companhia dos santos, que nos circundam, como uma «multidão de
testemunhas» (Hb 12, 1). São testemunhas da nossa esperança, num mundo novo, que
começa aqui e há de chegar um dia à sua plenitude, no novo mundo que há de vir.
2. Por isso, os santos estão diante de
nós e tão presentes à vida de cada um de nós. Lembremos que, no dia do nosso
Batismo, ressoou para nós a invocação dos santos. Pouco antes da unção com o
Óleo dos catecúmenos, símbolo da força de Deus na luta contra o mal, o ministro
convida toda a assembleia a rezar por aqueles que estão prestes a receber o
Batismo, invocando os santos! Desde o dia do nosso batismo, estamos, por assim
dizer, em santa companhia, na
companhia dos nossos irmãos e irmãs mais velhos, que passaram pelo nosso
caminho, conheceram as mesmas dificuldades e vivem para sempre no abraço
amoroso de Deus. Recordo, como momento particularmente emocionante no dia da
minha ordenação, a prostração no chão, enquanto o coro cantava as ladainhas, invocando
todos os santos e santas de Deus. Se por um lado me sentia esmagado sob o peso
da missão que me era confiada, por outro lado, com a invocação dos santos,
sentia que o Paraíso inteiro me protegia, e que, por isso, a graça de Deus não
me havia de faltar.
3. Assim, na companhia dos santos, nunca
estamos sozinhos! A Igreja é composta por inúmeros irmãos e irmãs, muitas vezes
anónimos, que partiram antes de nós, e que mediante a ação do Espírito Santo
nos acompanham e assistem nas vicissitudes da nossa vida terrena. Por isso, nos
momentos difíceis da vida, é preciso ter a coragem de elevar o olhar para o
céu, pensando nos santos, que passaram através de tribulações ainda maiores e
conservaram brancas as suas vestes batismais, lavando-as no sangue do Cordeiro
(cf. Ap 7, 14).
4. Celebrar o dia de Todos-os-Santos
ajuda-nos, pois, a esperar contra toda a esperança, na confiança de que Deus
nunca nos abandonará. Cada vez que estivermos em grande necessidade, Ele
enviará um dos seus anjos, para nos animar e infundir consolação. “Anjos” às vezes com um rosto e um
coração humanos, porque os santos de Deus estão sempre aqui, escondidos no meio
de nós e fazem parte do nosso caminho. Na verdade, é um mistério, mas os santos
estão presentes na nossa vida. E quando alguém invoca um santo, do seu nome, da
sua terra, da sua profissão, é precisamente porque ele está próximo.
5. Que o Senhor conceda a todos a
esperança de sermos santos. Alguns poderão perguntar: “Padre, é possível ser santo na vida de todos os dias?” Sim, é
possível. “Mas isto significa que devemos
rezar o dia inteiro?” Não. Quer dizer apenas que tu deves cumprir o teu
dever ao longo do dia: rezar, ir ao trabalho, educar e proteger os teus filhos.
Mas para isso, é preciso fazer tudo, com o coração aberto a Deus, no trabalho, na doença e no sofrimento, no meio das dificuldades. Não pensemos
que é mais fácil sermos delinquentes do que santos! Não. Podemos ser santos,
porque o Senhor nos ajuda. É Ele que nos assiste. Ser santo é o grande presente
que cada um de nós pode oferecer ao mundo, porque a nossa história tem
necessidade de santos, de pessoas movidas pelo amor de Deus, capazes de viver,
de sofrer e de morrer pelos outros. Sem estes homens e mulheres, o mundo não
teria esperança. Por isso, faço votos para que vós — e também eu — recebamos do
Senhor o grande dom e a esperança feliz de sermos santos, como Deus é Santo!
Amaro Gonçalo
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