1.Com o ano litúrgico a dar as últimas, é altura de pedir e de prestar contas! E a parábola dos talentos, aí está, a chamar-nos à responsabilidade, sobre o que fizemos do muito ou do pouco e de tudo o mais que recebemos. Os talentos, mais do que qualidades ou capacidades, representam, afinal, todos os bens e riquezas, que o Senhor Jesus, ao ir-se deste mundo, nos deixou em herança, para que os façamos frutificar: a sua Palavra, expressa no Evangelho; o Baptismo, que nos renova no Espírito Santo; a oração do "Pai-Nosso", que elevamos a Deus como filhos unidos no Filho; o seu perdão, que Ele mandou levar a todos; o sacramento do seu Corpo imolado e do seu Sangue derramado. Numa palavra: o Reino de Deus, que é Ele mesmo, presente e vivo no meio de nós. Este é o tesouro que Jesus confiou aos seus amigos, no final da sua breve existência terrena!Ora, o que Cristo nos concedeu, multiplica-se quando é doado! É um tesouro feito para ser despendido, investido, compartilhado com todos!
2.A parábola dos talentos insiste na atitude com que acolhemos e valorizamos os dons. Que destino damos aos talentos recebidos? Multiplicamo-los, partilhando-os e comunicando-os aos outros? Ou congelamo-los, escondendo-os e guardando-os, só para nós? Arriscamos, investindo-os e fazendo-os frutificar? Ou escondemo-los, atados e paralisados pelo medo? A atenção da parábola parece concentrar-se no servo, a quem foi confiado um só talento! Pensava ele responder fielmente a Deus, com a sua postura conservadora, a salvo de todo o risco! Tal suposta fidelidade oculta coisas más, como a rigidez, a cobardia, o imobilismo, a comodidade e a falta de fé na criatividade do Espírito. A verdadeira fidelidade a Deus não se vive a partir da passividade e da inércia, mas da vitalidade e risco de quem procura escutar hoje os seus chamamentos!
[3.A mensagem de Jesus é clara: não ao conservadorismo, sim à criatividade! Não à obsessão pela segurança, sim ao esforço arriscado para transformar o mundo. Não à fé enterrada, envergonhada e conformada, sim ao seguimento alegre e comprometido de Jesus. Bem sei que é mais cómodo não se comprometer com nada, que possa complicar a vida e defender o nosso pequeno bem-estar. Mas essa é a melhor forma de viver uma vida estéril, pequena e sem horizonte. O mesmo acontece na vida cristã. O nosso maior risco é congelar a nossa fé e apagar a frescura do evangelho!
4.Ora, a tarefa da Igreja não é conservar o passado. Por isso, as virtudes que se devem desenvolver, no interior da Igreja actual, não se chamam «prudência», «conformidade», «resignação», «fidelidade ao passado». Tem antes o nome de «audácia», «capacidade de risco», «busca criativa», «escuta do Espírito», que tudo faz novo. Disse-o Bento XVI aqui no Porto:“Temos de vencer a tentação de nos limitarmos ao que ainda temos, ou julgamos ter, de nosso e seguro: seria morrer a prazo, enquanto presença de Igreja no mundo”.Arriscar não é, pois, um caminho fácil. Mas não há outro, se queremos aproveitar a vida, comunicar a experiência cristã num mundo em mudança (cf. Pagola, O Caminho aberto por Jesus, 248).]
5.Neste ano pastoral, dedicado à família, e neste dia de oração pelos seminários diocesanos, que nos pode dizer, na prática, esta parábola?
Ela fala-nos, em primeiro lugar, da urgência de educar os nossos filhos, e desde a mais tenra idade, na experiência de que a vida é um dom de Deus, um dom recebido, um empréstimo contraído, para se tornar um dom enriquecido. E este dom por sua vez, já frutificado, há de tornar-se dom oferecido aos outros.
Em segundo lugar, para chegar a esta generosidade, no serviço de Deus, em favor dos outros, importa aprender a viver com sobriedade, com simplicidade, apreciando as pequenas coisas e valorizando os pequenos gestos de amor e de serviço desinteressado!
A chamada crise, de vocações para o sacerdócio ou para o matrimónio, não é senão o reflexo de uma crise mais profunda, de confiança na vida, dessa vida, tantas vezes, enterrada e apodrecida, por esse medo asfixiante e paralisante de a dar e de a consagrar, inteira e para sempre, a Deus e aos outros” (cf. Amaro Gonçalo, Homilia no XXXIII Domingo Comum A 2008)!
6.A quantos de vós, que desejam seguir Cristo, como casais, pais, sacerdotes e fiéis leigos, eu vos digo, mais uma vez e mil e uma vezes: não tenhais medo! Não tenhais medo do risco, a começar pelo risco de amar e de amar até ao fim! Digo-vos isto, especialmente a vós, os mais novos, conhecendo bem a vossa dificuldade em encontrardes um trabalho estável, e sabendo como isso é causa de grande incerteza, sobre o futuro. Sei mesmo como essa incerteza vos leva a adiar decisões definitivas, e como esse medo afecta negativamente o crescimento da sociedade, que não valoriza a riqueza de energias, de competências e de criatividade da vossa geração!
7.Mas é preciso vencer a omnipotência do medo, com a ousadia da fé! E, por isso, eu insisto: queridos jovens, não tenhais medo de enfrentar estes desafios! Nunca percais a esperança! Tende coragem, também nas dificuldades, permanecendo firmes na fé. Tende a certeza de que, em todas as circunstâncias, sois amados e protegidos pelo amor de Deus, que é a vossa força. Deus é bom. E nada vos pode separar do amor de Deus! Devolvei-lhe, multiplicado, tudo o que dEle recebeste de graça e emprestado!
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