sábado, 18 de setembro de 2010

25º DOMINGO DO TEMPO COMUM - Ano C

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TÃO POBRE, TÃO POBRE, TÃO POBRE…, QUE SÓ TINHA DINHEIRO!

1. O uso cristão da riqueza preenche quase por completo o Capítulo 16 do Evangelho de Lucas. Digo «quase», porque temos de excluir apenas uma breve palavra sobre a lei (Lucas 16,16-17) e outra, brevíssima, sobre o divórcio (Lucas 16,18). Dividindo o Capítulo em duas grandes partes, ficamos então com duas belas parábolas de Jesus: a primeira (Lucas 16,1-13), conhecida como «O administrador desonesto», será proclamada neste Domingo XXV do Tempo Comum, e a segunda (Lucas 16,19-31), conhecida como parábola do «Rico avarento e do pobre Lázaro», será proclamada no Domingo seguinte, XXVI do Tempo Comum.

2. A parábola do Administrador desonesto, que ouviremos neste Domingo XXV, tem sempre desorientado quer os ouvintes que a lêem ou ouvem com simplicidade, quer os exegetas que pretendem captar os seus segredos. E o problema reside nisto: é possível que o Evangelho proponha como modelo a imitar um homem desonesto?

3. Os exegetas enveredam muitas vezes, para atenuar o mal-estar, pelos costumes em uso na Palestina, em que as terras eram muitas vezes propriedade de grandes senhores, em muitos casos estrangeiros, que deixavam no terreno administradores locais, a quem davam grande margem de manobra, desde que, no final do ano, entrgassem ao senhor o que tinham acordado. Neste sentido, é facilmente compreensível que o administrador ou feitor, de acordo com os negócios feitos, podia também obter licitamente os seus lucros, e que tenha sido com a sua parte dos lucros que o administrador, não prejudicando em nada o seu senhor, tenha levado a efeito aqueles descontos que vemos nesta parábola.

4. Explicação aparentemente fácil, mas que não pode ser levada em conta. Em boa verdade, a parábola não chama a atenção para a desonestidade do administrador, nem para os meios a que recorreu para fazer amigos. Claramente, a sua desonestidade não interessa a Jesus: não a condena, nem recomenda que a imitemos. Em vez disso, Jesus chama a nossa atenção para a rapidez e a inteligência com que o administrador procede, sem permitir que o assalte sequer um momento de hesitação.

5. É verdade que o administrador e o discípulo de Jesus pertencem a duas maneiras diferentes de estar na vida e de proceder: o primeiro obedece à lógica do mundo; o segundo à do Reino. Trata-se evidentemente de duas maneiras diferentes de encarar a vida. Não obstante, o discípulo de Jesus, de acordo com o andamento da parábola, deve aprender do admnistrador a capacidade de decidir e a habilidade. É isto que está em causa. Face ao Reino de Deus, o discípulo de Jesus deve ser igualmente rápido e hábil em tomar decisões.

6. Ainda se pode e deve compreender bem a função do dinheiro. O dinheiro é para servir o homem, mas torna-se muitas vezes no seu dono. Daí a muito bíblica e oriental advertência de Jesus: »Ninguém pode servir a dois senhores», donde: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Lucas 16,13).

7. De notar que o Livro de Ben-Sirá já advertia com sabedoria: «Muitos pecam por amor ao dinheiro. Aquele que procura enriquecer faz todas as falcatruas». E ainda: «Como se introduz um pau entre as junturas das pedras, assim se intromete o pecado entre a venda e a compra» (Ben-Sirá 27,1-3).

8. O livro de Amós, que hoje ouvimos também, caustica asperamente a exploração dos pobres, a corrupção e o lucro fácil. O mundo de Amós é de oito séculos antes de Cristo. Mas parece ter sido escrito hoje, dada a sua tremenda actualidade.

9. Mas nunca nos esqueçamos que não pode ser o dinheiro a comandar a nossa vida. Nunca nos devemos esquecer da história daquele fulano que era tão pobre, tão pobre, tão pobre…, que só tinha dinheiro!
Leituras deste domingo - pode encontrá-las aqui.

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