Apareceu há dias a tradução portuguesa de um livro que dois editores da revista Economist publicaram, que tem precisamente por título "O Regresso de Deus", com um subtítulo apelativo: "Como o regresso da fé está a mudar o mundo".
Partindo do relato do que acontece numa casa chinesa, onde um grupo católico de profissionais bem sucedidos cumpre um ritual religioso, os autores levam o leitor a ver como o progresso das novas e velhas religiões ocorre a par e passo com o crescimento do país, tal como acontece pelo resto do mundo.
Partindo desta casa, os autores fazem uma investigação sobre as tendências religiosas em todo o mundo identificando um padrão: a velha ideia europeia de que a religião é um entrave ao progresso está, por todo o mundo, a dar lugar ao ideal americano de pluralismo e convivência pacífica entre a Modernidade e a Fé.
Numa Europa que tenta negar que a herança cristã é indissociável da nossa história e civilização, este livro mostra-nos a realidade do resto do mundo. Um mundo onde a religiosidade floresce e cada vez mais faz parte do quotidiano e da vida pública. Acresce uma escrita cativante de John Micklethwait e Adrian Wooldridge, dois excelentes jornalistas da revista The Economist, aliás o primeiro é o próprio editor.
O que achei mais interessante e o que verdadeiramente sobressai neste livro é a reflexão feita sobre o papel da religião na sociedade e sobre a sua relação com a Política. Só um país tolerante perante a religião, no qual o pluralismo seja uma realidade e no qual Igreja e Política não se misturem, pode prosperar. É esta a conclusão a que chegam Micklethwait e Wooldridge.
E eu pergunto: a crise em que vive o mundo ocidental, sobretudo a Europa, não será também devida ao afastamento da religião? É que é aqui, neste continente, que mais se tem sentido a crise económica e a crise espiritual.
In O Amigo do Povo
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