sábado, 7 de agosto de 2010

Homilia no XIX Domingo Comum - Ano C

«É preciso ter calma. Não dar o corpo pela alma»! A frase assentaria como uma luva na conclusão do Evangelho de hoje, mesmo que tenha saído da irreverência de um cantor como o Pedro Abrunhosa.
Toda a palavra evangélica se concentra nestas palavras: «onde está o teu tesouro aí está o teu coração». Há um apelo de vigilância, de atenção sobre a vida, de um olhar crítico sobre o tempo presente, que não se enquadra nada com esta ideia tão moderna do «carpe diem». Quer dizer, da curtição. Retratada na parábola, pela figura do servo, administrador infiel. «Carpe diem»! Ele goza o instante»!... Curte a vida. Aproveita agora, que depois será tarde. Absorve o
tutano da vida, porque o futuro não lhe pertence. «Comer, beber, embriagar-se» com vinho ou com barulho ou com fumo... é tudo o que ele julga levar deste mundo.
Porque regressamos nós afinal à máxima pagã do «gozo do instante»? Que move afinal o homem contemporâneo? Que valores o acalentam? Que desejos o animam? Que esperança o guia? Onde põe o ser humano o seu coração? Onde crê que se encontra o seu verdadeiro bem? Jesus diz: «Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração». Porque onde puseres toda a tua esperança, aí estará o mais fundo do teu ser.
Entregue às coisas, dominado pela posse delas, o homem moderno parece hipotecar o seu coração e fazer dele uma sucata de desejos fugazes. Sonhos que tão depressa se cumprem como se desfazem. Porque deixou de acreditar no futuro, o homem não espera mais que o presente. E o tempo que nos é dado, mais do que para construir a cidade do futuro serve para alienar o presente. E isto porque morreu a esperança. E se morre a esperança é porque o homem deixou de acreditar na Promessa de um futuro já começado, de uma Pátria por alcançar. A sedução do mundo sufoca a esperança da Pátria futura e ata-nos à terra, sem horizontes.
Nós «esperamos a cidade de sólidos fundamentos cujo arquitecto e construtor é Deus». Que esta esperança mantenha viva a chama do futuro e nos comprometa no presente. E assim nos faça caminhar. Solidários nos bens e nos perigos. À maneira de Abraão, aí vamos como peregrinos do infinito, prisioneiros do invisível...

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