quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Devoções Populares


O Sínodo de 1985, disse que "as devoções populares mereciam maior atenção por parte dos pastores" e Paulo VI considerava "a religiosidade popular uma realidade, ao mesmo tempo rica e vulnerável". E preciso reconhecer seus inegáveis valores e superar os seus possíveis desvios, nomeadamente a superstição e a deturpação religiosa.
É certo, digo eu, que a Liturgia oficial apresenta, por vezes, uma imagem do Sagrado demasiado racional, abstracta e distante, quando as necessidades vitais do dia-a-dia precisam de alguém mais próximo e familiar a quem recorrer, sem susto ou terror sagrado.

Podemos distinguir várias devoções na nossas tradições po­pulares, quer seja a Jesus Cristo, a Nossa Senhora e aos santos.

DEVOÇÕES A CRISTO:

Via-Sacra
As catorze estações da Via-sacra actuais devem-se ao traba­lho espiritual dos franciscanos, tradicionais devotos da Paixão do Senhor e guardiões da Terra San­ta. Concordamos que o número das estações é arbitrário e que os conteúdos poderiam ser, quantas vezes, evangelicamente mais fundamentadas. Concordamos igualmente que, para além dos tormentos e dores de Jesus, deveria haver referências à Ressurreição do Senhor. Quem não compreende que da meditação do amor de Deus, manifestado em Jesus, que­ se entregou por nós, podem nas­cer sentimentos de conversão e de mudança de vida? Como todos os meios de santificação, este exercí­cio da Via-Sacra pode ser utilizado, com proveito, por muitas pessoas, embora eu preferisse ver o nosso povo entregue à Leitura Orante da Bíblia, partindo dos textos do Evangelho.

Devoção ao Coração de Jesus
Trata-se de uma devoção, que foi e é ainda um pouco polémica. Costuma recordar-se a influência de Santa Gertrudes e de São João Eudes, como antepassados ilustres desta devoção. Mas, como hoje é entendida, a prática devota ao Coração de Jesus provém das reve­lações a Santa Margarida Alacoque e do empenhamento, dizem, dos Jesuítas, a partir do século XVII.
A devoção das primeiras sextas-feiras, nove meses seguidos, com todas as implicações sentimentais e resultados garantidos de salvação, nasceu num contexto litúrgico decadente e passou-se entre os frios jansenistas, que afastavam os crentes da comunhão frequente e os devotos intransigentes do Coração de Jesus.
Pio XII, numa encíclica, pro­curou dar consistência teológica a esta devoção, que, por vezes, insistiu demasiado nas promessas de uma salvação fácil e automática, graças ao desagravo, infantilmente proposto e celebrado de forma su­persticiosa... A grande conclusão a tirar é que a melhor devoção ao Co­ração de Jesus é viver, diariamente, as duas vertentes da Eucaristia: Palavra de Deus e recepção do Corpo e Sangue de Jesus, entregue em cada Missa por nós.

DEVOÇÕESA NOSSA SENHORA:

Angelus ou Trindades
A devocão das Três Ave Marias é muito antiga, mas não se conhece a sua origem. Talvez tenha aparecido no século XVII por influência dos Frades Menores.
Das pessoas da minha geração, quem não conhece o toque dos sinos de manhã, ao meio-dia e à noite? Quem não se lembra do quadro do "Angelus" de Millet que fixa na tela um costume cristão antigo, sobretudo dos camponeses? Espe­remos que a inevitável urbanização não acabe com esta eficaz maneira de santificar o tempo... e de agra­decer a Deus os dons recebidos.

O Terço do Rosário
Trata-se de um género de ora­ção - quanto ao método - comum à Índia, ao Egipto e ao islamismo. Trata-se da repetição, quantas ve­zes monótona, às vezes cansativa e fastidiosa, de Pai-Nossos e Ave­Marias, através das contas do Ro­sário e da meditação dos mistérios da vida , morte e ressurreição de Cristo. Fala-se do rosário para incutir no crente a ideia de que cada AVE-MARIA devia ser uma rosa a oferecer a Nossa Senhora. Fala-se da influência de São Domingos na divulgação desta devoção e das aparições de Fátima em 1917, em que a Mãe do céu pediu a recitação do Terço como meio de acabar com a guerra. Para João Paulo II, esta era a sua oração preferida.
A.Matos, in JB

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