Em virtude de no dia
29 de setembro se realizarem as eleições autárquicas, em reunião ordinária da
Câmara Municipal de Tarouca, de 20 de junho de 2013, foi deliberado por
unanimidade antecipar a próxima Feira Anual de S.Miguel para o dia 28 de
setembro de 2013.
Decorre, por isso, neste dia 28 de setembro a Feira Anual de S. Miguel. Embora não esteja propiamente frio, temos céu nublado com aguaceiros. Durante a noite e madrugada o vento bastante forte e intensas cargas de água terão afugentado feirantes e forasteiros. De facto, a feira está fracota. Na maioria dos concelhos, o feriado municipal coincide com a festa do padroeiro da paróquia-sede. Neste caso, deveria ser São Pedro, que é o padroeiro da paróquia de Tarouca. Mas a tradição tem muita importância. E pronto, é São Miguel quem dá origem ao feriado municipal.
Não tem celebrações religiosas especiais, tirando a Eucaristia às 11 horas.
A marrã e o basulaque
Cada terra tem as suas tradições. Em Tarouca, há duas tradições culinárias interessantes: o basulaque e a marrã pelo S. Miguel.
Penso que podemos contextuar a tradição, embora não o afirme categoricamente.
Em tempos que já lá vão, a carne era um luxo. Os que podiam matavam o seu porquito e era na salgadeira ou nas partes defumadas que estava a carne que comiam. Tinha que dar para o ano inteiro e, por isso, o seu consumo era milimetricamente programado. Galinha? Cordeiro? Só nas grandes ocasiões e em algumas casas.
Ora, com o fim das
colheitas, começavam as matanças dos porcos. E havia algum tempito de
alguma fartura: as febras, os torresmos, etc.
É neste
contexto, suponho, que se situa a tradição da marrã. A primeira carne
fresca. Por isso, imensa gente, de muitos lados, vinha ao S. Miguel para
se consolar com as febras assadas nas brasas ou fritas. Na minha terra,
que fica a alguns quilómetros daqui, desde pequeno ouvia falar aos mais
velhos: "Vamos à marrã a Tarouca."
Ainda hoje, muita
gente aqui se desloca por causa da marrã. Atualmente, não é por causa
da carência de carne - febras é um prato vulgaríssimo - mas pelo
contexto da tradição. "sabem como nunca", dizem os que procuram o
petisco nas barraquitas da feira.
Claro que a carne já
não tem o sabor de outros tempos. O porco caseiro foi há muito
substituído por aquele que resulta da exploração industrial.
O basulaque é um prato típico de Tarouca, Tarouca mesmo. Nos povos da freguesia muito pouca gente o sabe confecionar. E mesmo na sede, praticamente só os mais velhos lhe mantêm o timbre, o sabor, a originalidade. O que, confesso, é pena.
O basulaque é
fundamentalmente confecionado com os "miúdos" dos animais. De belo
sabor - para quem gosta, claro... O segredo está no jeito e nos
temperos.
Suponho que também esta tradição enraíza na
situação sócio-económica de outros tempos e que seria então um prato dos
pobres. Estes não tinham acesso às partes nobres do animal. Então
recolhiam aquilo que os outros não consumiam e deitavam fora: vísceras,
rins, fígado, miolos... Depois, limpavam, tratavam e cozinhavam a
refeição que, com o decorrer dos tempos, passou a ser melhorada na sua
confeção.
Hoje o basulaque não é um prato propriamente
barato. Em restaurantes, aparece no jantar anterior à festa de São
Miguel e, porventura, no dia. Nas famílias com um fundo histórico
tarouquense, aparece nas mesas nesta ocasião. E digo-lhes que é aí que o
basulaque atinge todo o esplendor do seu sabor.
In Asas da Montanha
In Asas da Montanha
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