terça-feira, 10 de setembro de 2013

O fascínio do Papa Francisco

 
Um observador imparcial, alheio a uma visão inspirada na fé, não pode deixar de ficar impressionando pelo que a Igreja Católica revela de perenidade, por um lado, e de vitalidade, por outro. A perenidade é a de uma doutrina que permanece para além dos séculos e de todas as mudanças sociais. A vitalidade revela-se na sua capacidade de resistir até às infidelidades e incoerências de muitos dos seus membros (e o escândalo contemporâneo dos abusos sexuais praticados por sacerdotes é apenas um entre muitos ocorridos ao longo da História). E revela-se, sobretudo, na sua capacidade de rejuvenescimento, apesar dos seus dois mil anos, até nos momentos mais difíceis e imprevistos (assim, por exemplo, aquando do concílio Vaticano II, há cinquenta anos).
Uma visão de fé reconhecerá nestes aspetos a ação do Espírito Santo e a concretização de uma promessa: «Estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20).
Todas estas reflexões surgem a propósito do início do pontificado do Papa Francisco e da sua primeira grande viagem, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Num contexto em que se sucediam escândalos e que poderia conduzir o pessimismo, surge este Papa, com toda a sua novidade, frescura e fascínio, como um dom que facilmente atribuímos à Providência divina.
Da viagem ao Brasil, impressionam os milhões de jovens e adultos que acorreram aos encontros e celebrações e os comentários acentuadamente positivos (por vezes até entusiastas) da comunicação social laica.
É bem verdade, como já dizia Paulo VI, que a nossa época dá mais importância aos testemunhos do que aos mestres. O fascínio do Papa Francisco vem, sobretudo, do seu testemunho coerente. É exemplo vivo daquela alegria que, segundo as suas palavras, deve distinguir os cristãos. Os seus hábitos pessoais estão em sintonia com o espírito de pobreza e humildade que proclama para a Igreja. A sua vontade de a todos saudar calorosamente, para além dos cuidados de segurança (porque um abraço de amizade não pode ser impedido por qualquer barreira de vidro), sem nunca dar sinais de cansaço ou indiferença, ilustra bem aquela cultura do encontro e da ternura de que também fala nos seus discursos.
Há quem venha neste seu estilo uma descontinuidade com os seus antecessores. Não deve, porém, falar-se em descontinuidade, mas antes em algumas facetas que neste Papa vêm mais em relevo, mas que nos outros não estavam ausentes. Como ele próprio já afirmou, os seus antecessores levavam também uma vida sóbria. A continuidade doutrinal é bem visível, desde logo pelo facto de a sua primeira encíclica, sobre a fé, ter a marca inconfundível do seu antecessor, Bento XVI. Num jardim, cada uma das flores tem a sua beleza própria, que não fere nem ofusca a beleza das outras.
Ainda a respeito da eventual descontinuidade com os seus antecessores, há quem note na mensagem deste Papa uma menor insistência em questões que mais contrastam com a mentalidade dominante (a condenação do aborto e dos ataques à família, entre outros). Estaria também aí um dos motivos da sua maior popularidade, condenada a desaparecer se esses temas vierem a ser abordados.
Antes de mais, importa, também a este respeito, não acentuar em demasia essa eventual diferença. Dou apenas um exemplo significativo: quando o Papa, no Brasil, convidou os jovens a serem “revolucionários”, a comunicação social deu grande destaque a esta frase, por vezes esquecendo o seu contexto; sendo que ele apelou a que os jovens sejam “revolucionários” caminhando “contra a corrente” da “cultura do provisório”, a que foge das escolhas definitivas como é a do casamento indissolúvel. Longe dos seus horizontes está, pois, uma qualquer popularidade fácil.
Quando interpelado diretamente sobre esta questão, quando regressava do Brasil, disse o Papa que não abordou esses temas polémicos porque a sua posição a esse respeito (que é, obviamente, a da Igreja) já é conhecida e nada tem a acrescentar a ela. E acentuou também que quer, antes de tudo, transmitir uma mensagem positiva. Sim, porque essa mensagem, como a de Jesus, é, antes de mais, uma “boa nova” de alegria, esperança e libertação, não uma condenação; é um “sim”, mais do que um “não”.
Depois, quando essa mensagem for compreendida em toda a sua profundidade, na sua beleza, mas também na sua exigência, hão-de ser compreendidas, por acréscimo, todas as suas implicações, mesmo aquelas que mais contrastam com a mentalidade dominante.
Pedro Vaz Patto, aqui

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