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“Effathá! Abre-te”!1. Não é uma palavra mágica, para Sésamo nos abrir as portas do sonho! É a palavra-chave de Jesus, para abrir a porta dos sentidos, à autêntica comunicação com Ele! Cerrado e encerrado no seu próprio mundo, este surdo, que fala com dificuldade, é trazido por outros. Mas precisará de fugir do ruído, que lhe impede a escuta, e chegar a um contacto pessoal com Jesus.
Na verdade, Jesus está em terra de pagãos, e as vias de comunicação não lhe são fáceis. Não bastam, portanto, palavras fortes, para quem não ouve e quase não fala. Para entrar no coração daquele homem, Jesus tem de atravessar a porta dos sentidos! Mete-lhe os dedos nos ouvidos e com saliva toca-lhe a língua. Mas ainda assim não basta, para reatar o fio da comunicação! Jesus sabe bem que o pior surdo é o que não quer ouvir, e que não falta, por lá, quem morda pela calada! Jesus sente muitas dificuldades e resistências. Diz o evangelho que “ergueu os olhos ao céu e suspirou”, por uma ajuda do alto. Mas é pedido e exigido igualmente àquele surdo tartamudo que colabore, que responda e corresponda, que dê um passo pessoal, decisivo e fundamental, para o encontro com Cristo: que se abra, a partir de dentro, que abra inteiramente o seu coração a Cristo. “Effathá, abre-te”. Jesus não lhe diz: «abre os teus ouvidos»; nem lhe diz «solta a língua». Diz-lhe “Abre-te”, como quem lhe diz: é a partir de ti mesmo, da tua decisão livre, da tua resposta pessoal, da tua abertura aos outros, que é possível desbloquear o coração, para escutares a Palavra de Deus, para depois a anunciares aos outros com desassombro!
2. Queridos irmãos e irmãs: Este quadro bíblico é, a vários títulos, inspirador, para o Ano da Fé, que estamos às portas de abrir. E isto, em dois sentidos:
2.1. Desde logo, porque nos fala da preferência de Jesus, por frequentar a fronteira e entrar em território pagão! Não é nada cómodo. Preferimos o nosso auditório habitual e habitado, ouvidos piedosos e afinados, bocas abertas e afiadas, para os louvores do Senhor! Mas é urgente e é preciso muito mais. É preciso entrar no pátio dos gentios e propor Cristo aos outros, levando os outros a Cristo, sem aceção de pessoas. Precisamos de “abrir os ouvidos”, porque “a fé vem de ouvir a palavra de Deus” (Rm. 10,17). Precisamos de falar de Cristo, de O mostrar (cf. Jo.12,21), porque ninguém O pode seguir, se não ouvir falar dEle (Rm.10,14), se não houver quem lhO mostre. Precisamos nós e precisam todos os que ainda não abriram, no coração, a porta da fé, mesmo se “vivem uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo. Esta busca é um verdadeiro «preâmbulo» da fé, porque move as pessoas pela estrada que conduz ao mistério de Deus” (PF 10). Mas é preciso que os ajudemos, como aqueles outros ajudaram o surdo-mudo, a chegar ao encontro com Cristo. “É precisamente a este encontro que nos convida e abre plenamente a fé” (PF 10). Disse Zita Seabra, no contexto do simpósio do clero, esta semana: “Uma sociedade sem fé é uma sociedade vazia e foi para isso que procurei chamar a atenção: para a necessidade de a trazer à praça pública; que a Igreja não fique num gueto, fechada sobre si própria, apenas a falar de fé aos que já a têm. Deve vir ao átrio, discuta com quem não tem Fé e suscite a discussão destas questões que são verdadeiramente as questões importantes”.
2.2. Por outro lado, a palavra de ordem “abre-te” é mesmo a chave de todo este Ano da Fé. O Santo Padre lembra-nos que a fé é uma porta de entrada e que “atravessar aquela porta implica embrenhar-se num caminho novo que dura a vida inteira”, e lembra-nos ainda “a necessidade de redescobrir o caminho da fé, para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo”. E este é o desafio que nos é feito, primeiramente, a nós que aqui estamos: “já entrámos, decididamente, por essa porta, ou só espreitámos por ela? Por vezes ainda olhamos para trás, vendo toda a realidade humana sem o olhar da fé? Aceitámos, decididamente, trilhar esse novo caminho, o caminho da vida concebida à luz de Cristo e conduzida por Ele” (D. José Policarpo, Carta Pastoral “A força da fé”, 2012)?
3. Irmãos e irmãs: Esta palavra «effathá, abre-te», foi-nos dita, precisamente, no dia do Batismo e nunca mais deixa de ressoar nos nossos corações, com um desejo expresso pela voz da Igreja: «O Senhor Jesus, que fez ouvir os surdos e falar os mudos, te dê a graça de, em breve, poderes ouvir a sua Palavra e professar a fé, para louvor e glória de Deus Pai» (Ritual do Batismo, 65-66;101). Na verdade, cristãos surdos à Palavra serão como tartamudos a anunciar o evangelho.
Por isso, «Effatá, abre-te», é a palavra-chave, para a vida e para o Ano da fé! Eis o que tenho a dizer-vos, com toda a alma: “abri nos corações a porta da fé”!
Fonte: aqui
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