Leituras: aqui
“Dorme e levanta-se noite e dia, enquanto a semente germina e cresce,
sem ele saber como”
1. Esta é uma parábola, que nos deixa, de braços caídos, e praticamente de férias antecipadas! Não apresenta aplicações práticas, nem trabalho a fazer. Não diz sequer o que há a fazermos, mas tão só o que faz a semente por si e por nós! Não põe o acento no esforço do semeador, nem chama a atenção para a qualidade do terreno! É uma parábola, que nos desafia a acreditar na fecundidade, na força vital da própria semente, lançada à terra. Débil e forte, ela é, tal como a palavra de Deus, viva e eficaz, e tem uma força interna irresistível! Jesus parece dizer aos mais incrédulos e impacientes: mesmo quando parece que não se passa nada, o Reino de Deus está presente, germina e cresce. Simplesmente acontece. Durma ou vele, de noite e de dia, a semente germina e cresce! E, ironia das ironias, «sem o homem saber como»! Parece-me ouvir uma clara explicação da parábola, quando São Paulo nos diz, em certo passo: “Eu plantei. Apolo regou. Mas foi Deus que fez crescer. Nem o que planta nem o que rega, são coisa alguma. Mas Deus, que faz crescer” (I Cor.3,6-7).
2. Desta feita, somos desafiados a algo de provocador: Deitemo-nos a dormir! Sim, é hora de dormir e descansar, isto é, de “esperar” e de “confiar”, porque o ritmo de crescimento da semente não se apressa com o estresse da minha pressa! Mas, ao contrário do que parece, este não é um programa de vida simples. Habituados a valorizar a eficácia e o rendimento, não é assim tão fácil aprender a vida como dádiva, viver na calma, sem se mover demasiado, acreditar que não sou o salvador do mundo, nem sequer da pátria. Mas se alguém tem dúvidas, de como é difícil, “dormir e levantar-se e ver a semente crescer, sem lhe pormos as mãos” então experimente, como custa, ao menos uma vez desligar o telemóvel; ao menos uma vez não emitir opinião; ao menos uma vez não fazer um diagnóstico, com a receita na mão! Ao menos uma vez, renunciar a ouvir a própria voz, e fazer uma cura de silêncio interior. Ao menos uma vez, dizer «não sei». Ao menos uma vez, “deixar estar”, ao menos uma vez «deixar» Deus fazer!
3. Gostaria de aplicar, neste final de ano escolar e pastoral, esta parábola mal-amada, aos catequistas e professores, que semeiam, todo o ano, na esperança. Porque tendes fé, confiai, agora, e por fim, os vossos educandos, “a Deus e à palavra da sua graça” (At.20,32)! Acreditai na riqueza vital da sabedoria transmitida. Mesmo que não pareça, dará fruto a seu tempo! Chegou, para vós, a hora de dizer e de rezar assim: «Senhor, fiz o que pude. Fiz o que soube. Falhei, algumas vezes; outras vezes, senti-me impotente. Agora que os meus alunos ou catequizandos vão partir, sê tu a fazer frutificar a semente que lancei nos seus corações, nas suas consciências, nas suas inteligências e nas suas vidas»!
4. E deixai-me dizer-vos: “Muito obrigado, queridos professores, caríssimos catequistas: «Obrigado», de todo o coração. O Senhor vos recompense. Seja a vossa luz e a vossa alegria. E que vejais prosperar, com abundância, tanto quanto possível, a obra das vossas mãos, e os frutos que só Deus nos permite dar”!
5. Este final de ano é, pois, um tempo de reconhecimento aos heróis e heroínas, que nos novos tempos, aceitam a missão e profissão de revelar os saberes aos mais jovens. Os professores e catequistas continuam a fazer parte do plantel dos nossos discretos heróis. Que ninguém lhes inveje as poucas horas que têm para se deitar e dormir! Pois sem isso, tão pouco a semente poderá germinar e crescer!
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