sábado, 3 de dezembro de 2011

II Domingo de Advento - Ano B

1. «Consolai, consolai o meu Povo! Falai ao coração»! Eis o imperativo de um verdadeiro diálogo, em que a verdade a caridade andam juntas, em que a inteligência e o amor, caminham de mãos dadas! É um imperativo, que soa e ressoa, como verdadeira «boa nova» (Mc.1,1), no vasto deserto da solidão, que hoje se vive, a começar pelo isolamento que se verifica dentro das quatro paredes de uma casa, sem calor humano, onde as pessoas deixaram de falar ou de se falar! Dizer que não há tempo, para dialogar é o mesmo que afirmar que não há tempo para estar casado, nem tempo, para criar laços e construir uma família!
2. Permiti-me recordar-vos, desde já, algumas condições, para que esse diálogo não transforme a nossa linguagem “numa fonte de mal-entendidos”, mas se torne um espaço de acolhimento do outro e doação ao outro, de escuta e de presença, de comunicação do coração ao coração!
Primeiro, a clareza, para que todas as palavras e gestos sejam compreendidos por ambas as partes. Esta clareza supõe atenção ao que se diz e atenção ao que o outro diz. Esta clareza exige falar verdade. Faltar à sinceridade é destruir, pela base, qualquer diálogo!
Outra característica é a mansidão, aprendida na escola de Cristo, como Ele nos recomendou: “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). O diálogo não é orgulhoso, não é altivo, não é ofensivo. A autoridade vem-lhe da verdade que expõe, da caridade que difunde, do exemplo que propõe; é proposto, não é imposto. O diálogo é pacífico, evita os modos violentos, é paciente e é generoso. Por isso, ele supõe a humildade, adisposição para reconhecer com apreço a parte de verdade que o outro tem e a parte de erro ou culpa que eu possa ter.
Outra condição do diálogo é a confiança, a boa fé, a recta intenção, com que cada parte para a conversa, sem preconceitos, aceitando o outro, respeitando-o e colocando-se do seu lado, para compreender o seu ponto de vista. Só a confiança facilita a partilha de sentimentos, de vivências, de confidências, e enlaça os corações, numa adesão mútua ao Bem e à verdade, sem interesses egoístas.
O diálogo supõe a prudência: é preciso saber as condições psicológicas e morais, daquele(s) com quem quero falar: se é criança, se é inculto, se está indisposto, se parte para a conversa desconfiado ou hostil. Essa prudência leva a tomar pulso à sensibilidade alheia e a modificarmos as nossas palavras e modos, para não sermos desagradáveis, nem incompreensíveis.
Saibamos ainda preparar um diálogo sério com o outro, conversando primeiro com Deus, pedindo-lhe discernimento e sabedoria, para aquilo que queremos compreender, propor, mudar ou alcançar. Tomemos como guia e inspiração do diálogo com o outro, não as nossas opiniões, razões e vontades, mas uma palavra do evangelho. E peçamos a Deus que seja Ele a preparar a hora, o modo e o lugar, para um diálogo frutuoso na paz.
3. Custa muito chegar a um verdadeiro diálogo. E por isso, o diálogo exige uma espécie de “martírio da paciência”, o esforço e a coragem de todos os dias, para ir ao encontro do outro, em diálogos frequentes, prolongados e sinceros. Esta arte do diálogo – caríssimos casais, pais e filhos - exige tempo, muito tempo, paciência, muita paciência, para ser tomado a sério e retomado, uma e outra vez e mais uma vez, sem quebrar o fio frágil da comunicação! Não por acaso, alguém nos disse que a «paciência é a última porta da sabedoria» (Agustina Bessa-Luís), é mesmo «a medula do amor» (Sta. Catarina), no relacionamento com os outros. E São Paulo, no hino à caridade, fala-nos da paciência, como primeiro atributo do amor!
4. Irmãos e irmãs: “Parece-me muito importante, nos dias de hoje, ressaltar o valor da paciência, virtude que pertencia à bagagem normal dos nossos pais, mas que hoje é menos popular, num mundo que exalta a mudança e a capacidade de se adaptar a situações sempre novas e diversas. Sem tirar nada a estas qualidades, o Advento chama-nos a incrementar a paciência, aquela tenacidade interior, aquela resistência do ânimo que nos permitem não desesperar, na expectativa de um bem que demora para chegar, mas a esperá-lo, aliás, a preparar a sua vinda, com confiança laboriosa” (Bento XVI).
5. Diálogo e paciência: eis então duas palavras mais, a gravar no guarda-chuva, mas sobretudo a escrever no diário íntimo da nossa vida familiar!
Caríssimo pai ou mãe, caríssimo casal, querido (a) filho (a): neste tempo, que te é dado, oferece o tempo, para os outros. E comunica, na verdade e na caridade paciente, de acordo com este repetido apelo de Santo Agostinho: “Se calas, cala por amor. Se falas, fala por amor. Se corriges, corrige por amor. Se perdoas, perdoa por amor. Põe no fundo do coração, a raiz do amor. Dessa raiz não pode crescer senão o bem”.
E lembra-te sempre do fruto mais precioso do diálogo e da paciência é o de criar laços: «foi o tempo que gastaste com a rosa, que tornou a tua rosa tão importante»! (Saint Éxupery, O Principezinho).
Fonte: aqui

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