"Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc.2,7)!
1. O mais inesperado intruso do mundo nasce em Belém de Judá, um lugar predisposto e prescrito, para o nascimento do Messias! O Filho de Deus vem ao mundo e não encontra abrigo, nos palácios e nas hospedarias do seu tempo, nem sequer tem a sorte de nascer em casa própria ou alugada! Na verdade, só por amor, o Deus Altíssimo, podia sujeitar-se ao desconforto de um sem-abrigo!Mas é isto mesmo sua nua e crua fragilidade humana, que servirá de sinal, aos pastores, ao grupo social dos «sem-abrigo» daquela época:“encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura” (Lc.2,12).
2. Talvez nos tivéssemos rendido mais facilmente, diante do poder, diante da sabedoria deste mundo; mas Deus não quer a nossa rendição; pelo contrário, faz apelo ao nosso coração e à nossa livre decisão de aceitar o seu amor! No Presépio, revela-se um Deus que "não é, em primeiro lugar, poder absoluto, mas amor absoluto" (H. U. Von Balthasar). Ele não se impõe; jamais entra à força, mas, como uma criança, pede para entrar, ser ouvido, acolhido, cuidado com amor!
3. Primeiras testemunhas do nascimento de Cristo, os pastores encontram-se não só diante do Menino Jesus, mas de uma pequena família: mãe, pai e um filho recém-nascido. Sem lugar na hospedaria, Jesus encontra, no calor humano e divino de Maria e José, o seu refúgio mais seguro, a sua verdadeira tenda de abrigo, para “acampar” (Jo.1, 14) no meio de nós! O Filho de Deus entrou na história dos homens através da família! Deste modo consagrou-a como caminho primário e efectivo, do seu encontro com a humanidade. Fez da família, o primeiro abrigo, da vida e do amor!
4. O Natal - dizemo-lo vezes sem conta – é, por excelência, «a festa da família»! Mas não o é tanto, nem sobretudo, porque as famílias se reúnem nesta época, mas primeiramente porque Jesus quis nascer e crescer numa família humana. Por um lado, é uma família como todas e, como tal, é modelo de fidelidade e de perseverança, de silêncio orante e de diálogo paciente, de pureza de coração e de atenção concreta, comunhão de vida e amor! Em suma, é modelo de todos aqueles valores que guardam a família como “abrigo”, que nos guarda a nós. Mas, ao mesmo tempo, a Família de Nazaré é única, é «sagrada», porque absorvida pelo desejo de cumprir a vontade de Deus. Precisamente por isso, ela indica às famílias cristãs, que a luz e a presença do Deus devem guiar e acompanhar a construção da família humana, como “abrigo” sagrado!
5. Sem Deus, sem o influxo e o reflexo do seu amor, a construção desta Casa de abrigo ameaça ruínas (cf. Sal.127,1)! Estas ruínas são hoje as ruínas da fome, disfarçada de bem vestir, e da pobreza súbita ou envergonhada; são as ruínas do crédito mal parado e da usura dos mercados; são as ruínas da ganância bancária e da arrogância das agências de rating; são as ruínas da incerteza social e política; são as ruínas do desemprego, da droga, da injustiça, da corrupção; e são as ruínas mais interiores de cada um, que nos bloqueiam: amarguras, maus humores, individualismos, rupturas e solidões. Ruínas que nos levam a fecharmo-nos sobre nós mesmos, e que não nos deixam ver a luz do Salvador, a única que nos pode descerrar as trevas e entrar pela nossa Casa dentro!
6. Mas é tão grande e feliz, tão inaudito, o anúncio deste dia de Natal, que até as ruínas de Jerusalém - dizia-nos o profeta Isaías (Is.52,9)- são convidadas a entoar gritos de júbilo, a irromper em cânticos de alegria! A escuridão, que há dentro de nós e à nossa volta, é iluminada pelo resplendor do Natal. «A luz brilha nas trevas»! (Jo.1,5), entrou neste mundo, obscuro e cheio de ruínas! Deus veio até nós, fez-se da nossa carne, fez-se um de nós, é Deus connosco, para nos fazer um com Ele. Eis aqui o admirável acontecimento do Natal, eis aqui um prodígio de alegria e de espanto, que só podemos celebrar e cantar!
7. Queridos irmãos e irmãs: neste Ano diocesano da família, nesta noite (neste dia) de Natal, a que nos desafiará a ternura deste Menino «sem abrigo», envolto em panos, deitado numa Manjedoura? Ouvíamo-lo na segunda leitura: “ensina-nos a renunciar à impiedade” de uma vida sem Deus, sufocada“pelos desejos mundanos! E a vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade”. O mesmo é dizer, desafia-nos a vivermos com equilíbrio, a ter um Natal, com bem menos, para ter um Natal melhor! Ensina-nos, a vivermos com sobriedade, a vivermos simplesmente, para que outros possam simplesmente viver! É este o verdadeiro espírito do Natal! Como bem anuncia certa publicidade: «a felicidade vem de dentro de casa. Neste Natal, viva mais a sua Casa». Que assim seja, para que seja verdadeiramente Natal, «a festa da família»!
Fonte: aqui
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