Esta serena palavra «pai» não está hoje isenta de ambiguidades. “Hoje, nem sempre é fácil falar de paternidade. Sobretudo no nosso mundo ocidental, as famílias desagregadas, os compromissos de trabalho cada vez mais exigentes, as preocupações, e muitas vezes a dificuldade de adaptar os balanços familiares, e a invasão distraída dos mass media no interior da vida quotidiana, são alguns dos numerosos fatores que podem impedir uma relação tranquila e construtiva entre pais e filhos. Às vezes a comunicação torna-se difícil, a confiança diminui e o relacionamento com a figura paterna pode tornar-se problemático; e assim, na ausência de um modelo de referência adequado, é difícil também imaginar Deus como um Pai. Para quantos fizeram a experiência de um pai demasiado autoritário e inflexível, ou indiferente e pouco carinhoso ou até mesmo ausente, não é fácil pensar com serenidade em Deus como Pai e abandonar-se a Ele com confiança” (Bento XVI, Audiência, 30.01.2013). Chega-se mesmo a falar de uma espécie de evaporação do pai (Jacques Lacan), na cultura atual, apostada em renegar as suas origens, em libertar-se de uma “autoridade transcendente”, de quem estamos sempre a suspeitar que nos pode diminuir com o seu poder.
Por isso, precisamos aqui de ressalvar um aspeto: a imagem do Pai, que Jesus nos revela, não é decalcada de nenhum pai, mais ou menos bom, deste mundo. Pelo contrário, cada pai, neste mundo, é que pode aproximar-se, mais ou menos, da imagem do único Pai, que é bom, e que Jesus nos mostra, em tudo o que é, em tudo o que diz, em tudo o que faz. Por isso, disse Tertuliano, e muito bem: “Deus é Pai e ninguém é tão Pai como Ele” (CIC 239). Se queremos, pois, conhecer o rosto deste Pai, se queremos entrar no coração de Deus, é para Jesus, que devemos olhar, é a Jesus que devemos ouvir, é por Jesus que devemos ir, pois Ele mesmo nos disse: «Quem me vê, vê o Pai. Eu e o Pai, somos um» (Jo.14,8). Em boa verdade, Jesus revela-nos um Deus, que é Pai, em sentido inédito! Não é «pai», apenas no sentido de que é o Criador, “a origem primeira de tudo, a autoridade transcendente de tudo quanto existe” (CIC 238). Ele é o Pai, que gera eternamente, no amor, o Filho, Jesus Cristo. E Jesus é o Filho, muito amado, no qual se vê, de modo humano, a imagem do Deus invisível (cf. Col.1,15).
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