É na quarta-feira de cinzas que começa a quaresma. Passam-se quarenta dias antes
da Sexta-feira Santa. O nome “oficial” da quarta feira de cinzas é “ O Dia das
cinzas”. O motivo pelo qual este dia ficou conhecido como quarta-feira de cinzas
é que são 40 dias antes da Sexta-feira Santa, e o primeiro dia é sempre uma
quarta-feira.
"Qual será o sentido das
Cinzas?
Descobrimos uma série de textos bíblicos que nos sugerem o significado
das Cinzas na liturgia cristã. Ora vejamos: «Abraão continuou: Eu atrevo-me a
falar ao meu Senhor, eu que sou poeira e cinza» (Gen 17, 28). «Jejuaram naquele
dia, vestiram-se com saco, cobriram a cabeça com cinza e rasgaram as suas
vestes» (1 Mac 3, 47). «Satanás feriu com chagas malignas desde a planta dos pés
ao cume da cabeça. Então Job apanhou um saco de cerâmica para se coçar e
sentou-se no meio da cinza» (Job 2, 8). «De que se orgulha quem é terra e
cinza?» (Ecle 10, 9)…
Cobrir a cabeça com a cinza
ou sentar-se sobre a cinza, é sinal exterior de uma realidade profunda, a
realidade da existência interior: arrependimento dos caminhos da destruição,
reconhecer que sou tão frágil como o pó que desaparece ao mais pequeno sopro e
que ainda há muito para mudar e converter.
Esta prostração e este
despojamento, poderão ferir as mentes menos esclarecidas ou mais ávidas na
exaltação da grandeza do homem. A razão, aparentemente, poderá estar do seu
lado, porém, este sentido das cinzas pretende relembrar que será no
reconhecimento da sua pequenez, que o homem manifesta a sua grandeza e que na
sua simplicidade encontra a sua verdadeira dimensão diante de Deus, da Criação
e, sobretudo, diante dos seus semelhantes.
Deus não quer o sofrimento,
a morte e a angústia humana. Deus quer um homem vivo e feliz em plenitude. Deus
consiste no amor. Não cria homens religiosos, mas cria homens para viverem em
plenitude.
Mesmo na pequenez e
fragilidade humana, Deus quer que o homem se afirme infinitamente na construção
do amor e da paz para todos. Não deseja nunca que o homem se negue a si próprio.
Não nos quer sofredores e perdidos, mas que sejamos nós a negar o pecado, o mal,
a falta de amor, a falta de esperança e tudo o que seja egoísmos e ódios. O Deus
que se descobre em todo o tempo, mas particularmente, neste Tempo da Quaresma, é
o Deus da acção afirmativa, da acção sempre positiva sobre e para a
humanidade.
Reparemos no que diz o
profeta: «…ó povo de Gomorra: Que me interessa a quantidade dos teus
sacrifícios? - diz Javé. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura
de novilhos. Não gosto do sangue de bois, carneiros e cabritos. Quando vindes à
minha presença e pisais os Meus átrios, alguém vos exige alguma coisa? Deixai de
trazer ofertas inúteis. O incenso é coisa nojenta para mim; luas novas, sábados,
assembleias… não suporto injustiça juntamente com solenidade. Eu detesto as tuas
luas novas e solenidades. Para mim torna-se um peso que já não posso suportar.
Quando para mim ergueis as mãos, Eu desvio o Meu olhar; ainda que multipliqueis
as vossas orações, Eu não vos escutarei. As vossas mãos estão cheias de sangue.
Lavai-vos e purificai-vos, tirai da frente dos meus olhos as maldades que
praticais. Deixai de fazer o mal, e aprendei a fazer o bem…» (Is 1,
10-20).
Perante esta declaração
qual será o verdadeiro jejum? - Será este: deixar a injustiça, a mentira, o
egoísmo, a ganância, a violência das palavras e dos gestos, a concorrência
desleal, a calúnia, a inverdade das coisas como norma de vida pessoal e social,
a religiosidade puramente exterior, o fundamentalismo religioso e todas as
fezadas infantis, o comodismo interesseiro, o silêncio calculado, a vida
centrada no ego sem pensar que somos comunidade, o mal como opção consciente, a
recusa do encontro (se quiserem podem continuar a lista)... Podem ser estes ou
outros os propósitos de jejum para esta Quaresma e para toda a nossa vida.
Tentar não custa e se realizada qualquer coisa nem que seja em pequeno gesto ou
sinal pode já fazer uma grande diferença. Tentemos..."
Fonte: aqui
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