Conceito-chave da eclesiologia do Vaticano II
A importância
do pós-Concílio é notória na acentuação que tem sido feita da comunhão
como “ideia central e fundamental nos documentos do Concílio”
Convirá, entretanto,
recordar o itinerário percorrido até se ter explicitado este reconhecimento
para se poder aferir, com a maior clareza possível, a sua verificabilidade.
Compreendida
como mistério, a Igreja não é redutível a palavras ou definições. Daí
que o Concílio tenha, conscientemente, evitado descrevê-la através de um único
conceito, recorrendo a várias representações como redil, rebanho, construção de
Deus, esposa do Cordeiro, etc. Aliás,
a própria Sagrada Escritura, onde se encontram estas representações, recorre a
um extenso elenco de imagens para exprimir a realidade teológica da Igreja.
Cada uma destas imagens acentua um determinado aspeto, sem que qualquer delas
constitua, por si só, uma descrição exaustiva da Igreja.
É, contudo,
função da teologia utilizar estas imagens de forma reflexiva, “a fim de
elaborar uma noção mais precisa e mais geral de Igreja.
É aqui que aparecem os chamados modelos, enquanto referências a partir
das quais se procura situar, teologicamente, a Igreja.
Sabemos que o Vaticano II procurou superar um modelo marcadamente jurídico e
institucional que pairava quer na compreensão, quer na prática da Igreja.
Percebe-se assim que a noção de de
Deus tenha sido objeto de uma preferência dos Padres conciliares, como se
depreende, desde logo, pelo lítulo do capítulo segundo da Lumen Gentium: precisamente O povo
de Deus. É que esta noção prestava se a Ilustrar a conceção, essencialmente
comunitária, de Igreja que o Concílio pretendia propor. Com ela, na verdade, ficava
suficientemente realçada uma afirmação importante: a de que a Igreja não pode
ser identificada apenas com a hierarquia. A Igreja diz respeito a todos os
batizados, tanto no que concerne à sua dignidade de membros como no que se
refere à sua responsabilidade na missão.
Além disso, nesta noção de povo
de Deus, sublinhava-se outra vertente fundamental da compreensão da Igreja. Trata-se
da sua unidade, que é de natureza religiosa. Com efeito, o próprio Deus é o
autor de toda a comunhão eclesial. Por conseguinte, é preciso dispensar, nesta noção, uma atenção especial
ao determinativo de
Deus. Pois é a Deus
que este povo (a Igreja) deve a sua existência e a sua identidade.
Foi exatamente neste domínio que a
assimilação da eclesiologia do Vaticano II se revelou mais problemática. De facto,
uma leitura superficial do Concílio
levou a que a noção de povo
de Deus fosse, não raramente, apreendida e divulgada de forma ideológica.
Em certos ambientes, a compreensão do povo de Deus não terá sido
completamente imune à influência do próprio marxismo, ficando assim
amputada do seu sentido original, que é bíblico.
O risco de
se permanecer numa Igreja prevalentemente institucional era patente, embora de
modo diferente: a acentuação do pólo hierárquico dava lugar a uma ênfase na
oposição entre povo e hierarquia. Mais uma vez, a comunhão, na
sua genuinidade, estava em perigo. É neste contexto que o Sínodo Extraordinário
dos Bispos de 1985 propõe uma releitura do mistério da Igreja polarizada em
torno do modelo da comunhão.
Não se
trata, portanto, de substituir uma noção por outra, mas de fazer uma nova
acentuação. Tenha-se, com efeito, em linha de conta que a comunhão
aparecia já referida ao mistério da Igreja nos documentos do Concílio,
nomeadamente na Lumen Gentium e no Unitatis Redintegratio.
Deste modo, chega-se à
conclusão de que “o conceito de comunhão é muito adequado para exprimir
o núcleo profundo do mistério da Igreja e pode ser certamente a chave de
leitura de uma renovada eclesiologia católica”.
In Continuará o Concílio atual
In Continuará o Concílio atual
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.