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Leituras: aqui
1. “Pelo Natal, um salto de pardal”, diz a sabedoria do povo, ao falar da luz natural, que o dia ganha à noite, e que, todos os dias, se vai aumentando, devagarinho, e a custo zero! Mas o evangelho dá mais que “um salto de carneiro, em Janeiro”, passando muito rapidamente do nascimento do Menino à adolescência de Jesus! Em todo o caso, não se trata, aqui, de um aumento anormal, de um crescimento súbito do Menino, pois “Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça” (Lc 2,51-52). Na verdade, Jesus pensa e aprende de maneira humana. A sabedoria de Jesus não é uma ciência abstrata; ela está enraizada numa história concreta, num lugar e num tempo, nas várias fases da vida humana! No fundo, este fragmento do evangelho coloca-nos, no lento caminho do crescimento do Filho de Deus feito Homem, o que implica, em todo o caso, aceitarmos também nós, percorrermos, em família, um caminho de fé, que é demorado, e que é feito, dia a dia, como o de Maria e José, com mais perguntas, do que respostas!
2. E então a pergunta mais radical da fé surge sempre em situações mais aflitivas. Maria faz-se nossa porta-voz: “Filho, porque nos fizeste isto? Olha que Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura” (Lc 2,48). Quantas vezes, na desorientação e na escuridão da dor, não exclamámos: “Senhor, porque me fizeste isto”? São, sobretudo, para Maria e José, três dias de angústia e de sofrimento, por causa da falta de Jesus, três dias de uma escuridão, que nos reportam à espada de dor, causada pela ausência de Jesus, entre a Cruz e a ressurreição, ao terceiro dia!
3. Mas a resposta de Jesus à pergunta da Mãe é outra pergunta impressionante: “Porque me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai” (Lc 2, 49). Como se Jesus dissesse: “Eu estou com o Pai. O meu pai não é José, mas um Outro: é o próprio Deus. A Ele pertenço. Com Ele estou”. Como Filho, Jesus encontra-Se diretamente com o Pai; vive na sua presença; vê-O! Jesus está com o Pai, vê as coisas e os homens, na sua luz. Por isso, esta resposta misteriosa não significa que Jesus é um adolescente, que está no Templo, como um rebelde, contra os pais. Não. Jesus não é um revolucionário, que pretende afirmar a sua liberdade, descartando-se de qualquer vínculo. A sua liberdade não é a de um liberal, mas a do Filho, obediente, totalmente unido, no amor, à vontade do Pai, até à Cruz.
4. “Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse (…) sua Mãe guardava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2,50.51). Na verdade, a palavra de Jesus é grande demais, por essa altura. A própria fé de Maria é uma fé «a caminho», uma fé, que repetidas vezes se encontra na escuridão e, atravessando a escuridão, deve amadurecer. Maria não compreende as palavras de Jesus, mas guarda-as no seu coração, onde as faz chegar lentamente à sua maturação. Na verdade, as palavras de Jesus nunca deixam de ser maiores do que a nossa razão; superam, sempre, de novo, a nossa inteligência. Temos, muitas vezes, a tentação de as reduzir e manipular, para as fazer entrar na nossa medida. Mas o que se nos pede é a humildade da fé, capaz de respeitar esta grandeza. Crer significa submeter-se a esta grandeza de Deus, e crescer, pouco a pouco, rumo a ela.
5. Gostaria, por fim, de extrair, desta cena evangélica, algumas aplicações práticas, para as nossas famílias, no âmbito do Ano da fé:
5.1. Primeira: Vede – caros pais - como é importante aproveitar as ocasiões favoráveis, para introduzir, na família, a questão da fé, e para fazer amadurecer uma reflexão crítica, relativamente aos modos e modas atuais, do pensar e do viver, que tanto condicionam a vida dos mais novos. Os pais devem estar muito vigilantes, atentos a tudo o que se diz, ao que se escreve, ao que se passa, num mundo global e local, e também no mundo virtual, que é hoje boa parte do mundo real dos nossos adolescentes. Só assim podereis conhecer o mundo dos vossos filhos e ajudá-los a ver as coisas à luz da fé, a ver cada situação, com os olhos do próprio Deus!
5.2. Segunda: Esta atenção dos pais implica uma fina sensibilidade, para intuir e entender as possíveis interrogações religiosas, que afinal até estão presentes no espírito dos mais novos, às vezes de forma evidente, outras vezes, de forma escondida e até envergonhada ou reprimida, pelo pensamento dominante. A rebeldia do adolescente é, muitas vezes, o sintoma de uma insatisfação do coração por preencher, de uma pergunta da razão por responder, de uma liberdade por aprender. Importa, como Maria e José, com Jesus, saber escutar e perscrutar o mundo oculto dos filhos. Importa ainda conciliar liberdade e obediência. “O adolescente Jesus era deixado livre, para decidir juntar-se aos seus amigos e aos da sua idade, e ficar na sua companhia ao longo do caminho. Mas, à noite, esperavam-no os pais”, para uma visão do dia, para uma revisão de vida!
5.3. Por isso, e por fim, esta conversa entre Jesus, Maria e José, sugere-nos a importância da escuta e do diálogo, em família. É aí, em primeiro lugar, que as pessoas devem aprender a estar juntas, a harmonizar os contrastes, a estabelecer um diálogo recíproco, que é feito de escuta e de palavra; é aí que devem aprender a compreender-se, a comprometer-se e a amar-se. É aí, que devem entender a obra de Deus e reconhecer a presença do bem, que não faz ruído. E aí, em casa. Mas, para começar em casa e chegar aí, é preciso que os pais não deixem de percorrer com os filhos o caminho de ida ao Templo e de regresso a casa: é preciso voltar a estar com os filhos, e como filhos de Deus, na casa e nas coisas do Pai! Só assim, aprenderemos, que, na pequena ou na grande família, somos sempre uma “comunidade de caminho”, que precisa de crescer, todos os dias, na fé, e de a pedir sem cessar: Senhor, com Maria e José, aumenta, aumenta a nossa fé!
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