“Deu um salto e foi ter com Jesus!”
(Mc 10,50)
Este sim, é um verdadeiro salto vital, um salto de qualidade na fé, um passo em frente, na adesão a Cristo, Único Salvador. Podemos mesmo ver, nos passos da cura deste cego, o nosso próprio caminho da fé, desde o seu desejo de ver a Deus, até chegar à fonte da luz, que o ilumina, desde o batismo. À luz, deste luminoso passo da Escritura, vejamos os três passos fundamentais, no caminho da fé cristã:
1. Para chegar a fé, é preciso, em primeiro lugar, reconhecer, diante de Deus, que sou “um infeliz, um miserável, um pobre, cego e nu” (Ap.3,17). É preciso gritar, como aquele cego, e desde o mais fundo de mim mesmo, uma e outra vez: “Jesus, filho de David, tem piedade de mim”. É esta oração que comove o coração de Cristo, que então para, manda chamar o cego e o cura. Assim se vê, que sem a humildade, de quem se reconhece necessitado de salvação, não é possível chegar à fé, que nos salva. Como vos escrevi na Carta Pastoral, “a fé salva-me, na medida em que me cura de uma vida centrada e apostada em Mim, e me leva a abrir o coração, a um Deus, que é maior do que eu” (Abri os corações, n.10). Isso mesmo o atesta a cena do evangelho, que nos fala precisamente de uma fé “que nos liberta da ideia de que nos fazemos ou salvamos sozinhos. Dizer que é «a fé que nos salva», significa dizer que «não sou eu, com as minhas virtudes pessoais, que posso merecer ou conquistar a salvação. Sou salvo por um Amor, que é maior do que o meu pecado e maior do que o meu coração»” (Ibidem).
2. Mas, para chegar à fé, é preciso, depois, ter a coragem de sair da berma do caminho, para chegar ao encontro pessoal com Cristo. Isto implica liberdade para atirar fora a capa, que nos esconde as misérias, e disponibilidade, para responder e corresponder à Palavra de Cristo, que me chama. Na verdade, o momento decisivo da fé é o encontro pessoal e direto entre o Senhor e aquele homem que sofria. Encontram-se um diante do outro: Deus, com a sua vontade de curar, e o homem, com o seu desejo de ser curado. Duas liberdades, duas vontades convergentes: "Que queres que Eu te faça?", pergunta o Senhor. "Que eu recupere a vista!", responde o cego. "Vai, a tua fé te salvou". Com estas palavras realiza-se o milagre, que faz brotar, da alegria de Deus, a alegria do homem. Aqui se vê que a fé é verdadeiramente um dom de Deus, uma graça (cf. CIC 153)mas é também «um ato autenticamente humano» (CIC 154), pelo qual o homem, de modo livre e inteligente, confia em Deus e adere à sua Palavra. Aqui se vê, e mais uma vez, que “no início do ser cristão, não há uma decisão moral ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa, que dá à vida um novo horizonte e um rumo decisivo” (DCE 1).
3. A fé traduz-se, por fim e sempre, num caminho de seguimento de Jesus, tal como o de Bartimeu, que vindo à luz, "começou a seguir Jesus no seu caminho": isto é, torna-se um discípulo, e sobe com o Mestre a Jerusalém, para participar com Ele no grande mistério da cruz, da morte e da ressurreição. A fé torna-se então, e para sempre, uma “companheira de vida, que nos permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós” (PF 15). Por isso, quem se deixa fascinar por Cristo, quem foi iluminado por Ele no batismo (Hb 10,38) não pode viver, sem dar testemunho da alegria de seguir os seus passos, sem anunciar a todos, o amor de Deus, com o testemunho da própria vida.
Posto isto, valia a pena ficarmos em silêncio e respondermos à pergunta do Papa, na sua primeira catequese, sobre o Ano da fé: “a fé é verdadeiramente a força transformadora da minha vida? Ou é apenas um dos elementos que fazem parte da existência, sem ser aquele determinante, que a abrange totalmente”?
Fonte: aqui
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