“Outro Concílio seria um perigo, o Vaticano II não está recebido suficientemente para marcar o ritmo desse Concílio”, refere D. José Policarpo, numa entrevista hoje publicada no Semanário Agência ECCLESIA, dois dias antes do 50.º aniversário da abertura do último encontro mundial dos bispos católicos convocado pelo Papa João XXIII.
Segundo o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), nunca desapareceu “completamente” da Igreja Católica um “grupo pequeno de bispos do Vaticano II que estiveram sempre contra tudo”, os quais “não assinaram documentos” e, nalguns casos, “provocaram ruturas”.
“Essa tendência está hoje com mais visibilidade”, observa, acrescentando, por outro lado, que o Concílo "é ainda mais atual do que há 50 anos".
D. José Policarpo sustenta que as vozes que pedem um III Concílio do Vaticano vão em “dois sentidos” opostos: “Uns acham que é preciso ir muito mais longe nas mudanças da Igreja (ordenar as mulheres, deixar os padres casar…); a outra tendência quer rever o Vaticano II, tendo a coragem de dizer que se foi longe de mais. Isso é um perigo”.
“O grande desafio da Igreja é continuar a fazer a receção do Concílio Vaticano II, na fidelidade”, refere.
Para o cardeal-patriarca, o último Concílio foi mesmo “o maior acontecimento do século XX, em termos de história da humanidade”.
Do ponto de vista pessoal, o presidente da CEP recorda o início do evento, um ano após ter sido ordenado padre, como “um acontecimento empolgante, que mobilizou a Igreja toda”.
“Nós, que éramos jovens, vibramos muito com o Concílio”, recorda.
Este responsável sublinha que os bispos presentes rejeitaram o primeiro documento que lhes foi apresentado, o qual “retomava as condenações, sobretudo contra o modernismo, dizendo que o Concílio não se reunia para condenar, mas para anunciar”.
“Esta é uma surpresa, mais do que uma novidade. É uma primeira manifestação de que o espírito do Concílio vai ser outro”, sublinha.
D. José Policarpo lembra “o entusiasmo e a participação” das Igrejas de todo o mundo, e mesmo de fora da Igreja, em relação ao que acontecia em Roma, com mais de 2000 bispos presentes.
“O Concílio gerou uma euforia. Houve pessoas que pensaram que o Concílio ia mudar tudo e as coisas que queriam mudar mudaram-nas, dizendo que era o Concílio que permitia. Houve muita euforia conciliar que não tem nada a ver com a solidez da mensagem conciliar”, refere.
Num olhar sobre o meio século que se passou, o patriarca de Lisboa declara que a receção do Vaticano II “deu passos enormes, mas não se deram os passos completos”.
“É ainda reduzido o grupo do laicado que assumiu a dignidade e a responsabilidade de ser membro do povo sacerdotal, com todos os direitos e deveres”, assinala, a título de exemplo.
As declarações do cardeal-patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa foram transmitidas no programa '70x7' (RTP2, 09h30) deste domingo e publicadas integralmente no portal de informação da Igreja Católica em Portugal.
Veja aqui toda a entrevista. Vale a pena.
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