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«Abri nos corações a porta da fé!»
1. Tinha já entreaberta, no seu coração insatisfeito, a porta da fé! Este homem, no fulgor da juventude, um rico, a quem não devia faltar nada deste mundo para viver bem, sente e pressente, desde o mais fundo de si mesmo, que ainda lhe falta alguma coisa. Por isso, corre, ansioso, ao encontro de Jesus, e faz-lhe uma pergunta, muito pouco usual entre os mais novos: “Bom Mestre, que hei de fazer, para alcançar a vida eterna” (Mc 10,17)? Não procura dinheiro, saúde, sucesso. Procura uma luz, para orientar a sua vida! Mais do que uma regra moral, para a vida presente, ele quer conhecer o caminho da vida verdadeira, da vida plena. Ele volta-se para o Bom Mestre, na certeza de que só Ele pode responder à questão sobre o bem, porque só Ele é o único, que é bom! Trata-se, para ele, ao fim e ao cabo, de uma questão de vida ou de morte. De algum modo, podemos mesmo dizer, que nesta pergunta essencial, se adivinha o percurso de muitas pessoas do nosso tempo, que vivem “uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo”. Ora, “esta busca é um verdadeiro preâmbulo da fé, porque move as pessoas pela estrada que conduz ao mistério de Deus” (PF 9).
2. Por isso, tendo passado em revista e em exame, os mandamentos, do amor ao próximo, de que o jovem era um fiel cumpridor, Jesus não deixa de o desafiar a dar mais um passo, na estrada da perfeição. Com aquele olhar de amor, Jesus invade-lhe o coração de luz, como um raio laser, que se atravessa, na alma! Jesus desfere “a espada da palavra, que revela os pensamentos e intenções do coração” (Hb.4,12), com um desafio radical: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens; dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-Me” (Mc 10,21). Como quem diz: é importante cumprires os mandamentos, mas não é suficiente. É necessário, mas não basta, que te disponhas a ouvir um ensinamento e a cumprir um mandamento! Para atravessares a porta aberta da fé, falta-te uma coisa, que é simplesmente renunciar às coisas que não te fazem falta! Depois, se queres dar o passo decisivo, no caminho da liberdade, “vem e segue-Me”. E assim, Jesus não propõe ao jovem rico, mais uma coisa, ou uma coisa mais, uma ideia genial, uma regra de ouro, para a vida: antes, propõe-Se a Ele próprio, como Caminho, Verdade e Vida. Ele é a Porta: quem entrar por Ele será salvo (Jo 10,9). Para alcançar a salvação, é preciso abrir-se, na fé, à graça de Cristo!
3. A estas palavras cortantes, o homem perdeu a cor, «e retirou-se, pesaroso, porque era muito rico» (Mc 10,22)! E assim bateu, com a porta da fé, sem sequer chegar a atravessar o seu limiar. Este homem, no fundo, só conhece a Deus, como um dever; mas não conhece a alegria e a liberdade de seguir Jesus. Não é este, no fundo, o retrato de muitos cristãos, tíbios e falhados, sem verdadeiras convicções de fé? Não é este o retrato de tantos jovens, para quem os talentos de inteligência, se tornaram uma riqueza inconciliável com a beleza do Evangelho? Não faltará à nossa fé, aquele salto qualitativo de alegria, que brota do encontro com Jesus, que dá à nossa vida “um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Bento XVI, DCE 1)? Não estará retratada, neste homem, a triste realidade, de tantos cristãos, que vivem do “rendimento mínimo da fé”, limitando-se a cumprir os mandamentos, sem nunca descobrir, nem aderir, na alegria, à pessoa de Jesus Cristo?! Não somos nós, muitas vezes, esta espécie de cristãos mornos, cansados e tristes, que desconhecem a experiência da alegria, própria de quem descobriu, em Cristo, o verdadeiro tesouro?!...
4. Queridos irmãos e irmãs: É este, no fundo, o desafio do Ano da Fé: “redescobrir o caminho da fé, para fazer brilhar, com evidência, sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo” (PF 2)! Ponhamo-nos, pois, todos a caminho, para conduzirmos os homens para fora do deserto e do vazio espirituais, “para lugares da vida, para Aquele que dá a Vida e a Vida na sua plenitude” (PF 3). Peregrinemos a esses desertos, levando o essencial da fé e do evangelho. Com efeito, «a fé cresce quando é comunicada como experiência de graça e de alegria» (PF 8). Lembra-nos, a propósito, o Papa: “Aquilo de que o mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros, ao desejo de Deus e de uma vida verdadeira” (PF 15).
5. Por isso, deixo-vos este mesmo desafio, [na Carta Pastoral, que hoje é publicada]: «Abri, nos corações a porta da fé»: abri nos vossos corações e nos corações dos vossos, a porta da Fé, se realmente quereis conhecer a alegria de uma vida bela, feliz e com futuro! Pois quando falta a fé, falta a luz interior e a alma de tudo o resto! E espalha-se o vazio e a desertificação espiritual!
A Maria, nossa Padroeira, «feliz porque acreditou» (Lc 1,45), peçamos, então, que nos ensine a fazer o que o Seu Filho nos mandou, para vivermos e propormos a fé, como fonte de alegria e de felicidade para todos!
Queridos irmãos e irmãs: deixai que vos diga uma vez mais: não batais com a porta, se Cristo vos bater à porta! Mas «abri nos corações a porta da fé!»
Fonte: aqui
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