Francisco foi eleito há cinco anos. Apresentou-se como o Papa que veio do fim do fim do mundo e tem-se esforçado por trazer os descartados para o coração da Igreja. Não gosta muito de circular nas ‘auto-estradas’ das gentes bem de vida, preferindo os terrenos enlameados e acidentados de quem vive nas periferias e margens da história.
Francisco quer uma Igreja em saída, ocupada e preocupada com os milhões de pessoas que lutam pela sobrevivência e pelo reconhecimento da sua dignidade.
O seu humor é imagem de marca. Usa comparações que todos entendem. Basta recordar o pedido que fez às Irmãs Clarissas, em Assis, para que os seus sorrisos não fossem de hospedeiras de bordo ou, na mensagem desta Quaresma, a contestação aos charlatães e pavões.
As suas ideias sociais são claras, assentando no Evangelho das bem-aventuranças (Mt 5), da multiplicação dos pães (Mt 15) e da parábola do juízo definitivo (Mt 25). Ataca a economia que mata, as políticas de imigração que fecham portas a refugiados, as práticas familiares que abandonam as pessoas idosas (é pecado mortal!– gritou, enervado, numa audiência), a aposta no descarte de quem não dá lucro.
As suas viagens são cirúrgicas. Não é fácil de perceber porque vai a Lampedusa, ‘chorar os mortos que ninguém chora’ ou a Bangui, na República Centro-Africana, abrir o Jubileu da Misericórdia.
Apesar das oito décadas de vida agitada, o seu olhar está voltado para o futuro. Depois da Família (cuja reflexão está ainda em ebulição), o Papa Francisco aponta as baterias para os jovens (vem aí o Sínodo e, até lá, multiplicam-se encontros e reflexões) e a ecologia integral (com o Sínodo das amazónias marcado para 2019). E a reforma da cúria vai fazendo o seu caminho.
Francisco está a fazer uma revolução silenciosa na Igreja e no mundo. Sim, as suas intervenções marcam a agenda do mundo de hoje, mesmo daqueles que o enfrentam e atacam por discordar das suas posições. Cinco anos é pouco demais para que os frutos deste pontificado sejam palpáveis. Mas Francisco sabe o que quer e pede inspiração constante ao Espírito Santo sobre os caminhos a seguir para que o coração da humanidade bata ao ritmo do coração de Deus.
A Missão de Francisco é uma bênção. Sejamos dignos dela e aliados dele nesta construção de um mundo cada vez mais humano e fraterno. Como o Papa pediu aos jovens em Cracóvia, saltemos do sofá e entremos em campo. Neste jogo da vida não há lugar nem para bancada nem para banco de suplentes. Somos todos titulares!
Tony Neves, aqui
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