quinta-feira, 7 de março de 2024

ORAÇÃO - "Nós somos os verdadeiros adoradores..."


A oração é o sacrifício espiritual que aboliu os sacrifícios antigos. De que Me serve, diz o Senhor, a multidão dos vossos sacrifícios? Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura dos vitelos; não quero o sangue de touros, cordeiros e cabritos. Quem pediu semelhantes ofertas das vossas mãos?

   O Evangelho ensina-nos o que pede o Senhor: Vai chegar a hora, diz o Senhor, em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade. Deus é espírito, e por isso deseja um culto espiritual.

   Nós somos os verdadeiros adoradores e os verdadeiros sacerdotes que, orando em espírito, em espírito oferecemos o sacrifício da nossa oração, como vítima digna de Deus e agradável a seus olhos, a vítima que Ele pede e espera.

   Esta vítima, oferecida de coração sincero, nascida da fé, alimentada pela verdade, coroada pelo amor, íntegra e sem mancha, inocente e casta, é a que devemos levar ao altar de Deus, acompanhada pelo solene cortejo das boas obras, no meio de salmos e hinos; ela nos alcançará de Deus tudo o que pedimos.

   Que poderá Deus negar à oração que procede do espírito e da verdade, se foi Ele próprio que assim a exigiu? Todos nós lemos, ouvimos e acreditamos como são grandes os testemunhos da sua eficácia.

Nos tempos passados, a oração livrava do fogo, das feras e da fome; e no entanto não recebera ainda de Cristo toda a sua eficácia.

   Quanto mais eficaz não será a oração cristã? Talvez não faça derramar sobre o fogo o orvalho do Anjo, não feche a boca dos leões, não leve a refeição aos segadores famintos, não impeça milagrosamente o sofrimento [como lemos no Antigo Testamento]; mas vem em auxílio dos que suportam a dor com paciência, aumenta a graça aos que sofrem com fortaleza, para que vejam com os olhos da fé a recompensa reservada aos que sofrem pelo nome de Deus.

   No passado, a oração fazia vir as pragas, aniquilava os exércitos, impedia o benefício das chuvas. Agora, porém, a oração afasta toda a ira de Deus, vela pelo bem dos inimigos e roga pelos perseguidores. Será para admirar que faça cair do céu as águas [do Espírito], se conseguiu também que descessem do céu as línguas de fogo? Só a oração vence a Deus. Mas Cristo não quis que ela servisse para fazer mal algum; quis antes que toda a eficácia que lhe deu fosse apenas para servir o bem.

   Por isso ela não tem outra finalidade senão tirar do caminho da morte as almas dos defuntos, robustecer os fracos, curar os enfermos, libertar os possessos, abrir as portas dos cárceres, desatar as cadeias dos inocentes. Ela perdoa os pecados, afasta as tentações, extingue as perseguições, conforta os pusilânimes, enche de alegria os generosos, encaminha os peregrinos, acalma as tempestades, detém os salteadores, alimenta os pobres, ensina os ricos, levanta os que caíram, sustenta os que vacilam, confirma os que estão de pé.

   Oram todos os Anjos, ora toda a criatura; oram à sua maneira os animais domésticos e as feras, que dobram os joelhos e, ao saírem dos estábulos e das tocas, levantam os olhos para o céu e não em vão abrem a boca, fazendo vibrar o ar com suas vozes. Também as aves, quando levantam voo, elevam-se para o céu e, em vez das mãos, estendem as asas em forma de cruz, dizendo alguma coisa que se assemelha a uma oração.

   Que mais podemos acrescentar sobre o dever da oração? O próprio Senhor também orou. A Ele a honra e o poder pelos séculos dos séculos.

Do Tratado de Tertuliano, presbítero, sobre a oração
(Cap. 28-29: CCL 1, 273-274) (Sec. III)

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