sábado, 21 de março de 2020

O Cardeal D. António Marto escreve a um padre da sua diocese

Um sacerdote criticou publicamente ou suspensão de missas.
O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, respondeu publicamente às críticas deste sacerdote da sua diocese, sobre a suspensão de todas as missas decretada em Portugal no âmbito da pandemia do novo coronavírus.
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Caro P. Manuel Pina,
Compreendo a tua preocupação com o acesso dos fiéis à celebração da Eucaristia neste tempo extraordinário e doloroso, preocupação que é também minha e de todos os sacerdotes.
Como sabes, a medida extrema do cancelamento das missas comunitárias foi tomada por muitas conferências episcopais e pelo próprio Papa, não por se considerar “irrelevante” a Eucaristia, mas por exigência de saúde pública para salvar pessoas da doença e da morte por causa do contágio nos grupos de pessoas. Jesus veio para curar e salvar e deu à Igreja a mesma missão. Por isso, a Igreja não pode, por uma fé e zelo mal entendidos, contribuir para que pessoas sejam contagiadas e morram por falta de cuidado e prudência de algum pastor. Não podemos permitir que por nossa responsabilidade o contágio alastre aos outros. O vírus não permanece fora das portas das igrejas. A confiança em Deus, a oração e a comunhão eucarística são uma realidade muito diferente do tentar a Deus e desafiá-Lo com a pretensão de milagres, os quais permanecem sempre um dom gratuito e imprevisível. Segundo a lógica do teu raciocínio poder-se-ia chegar até a prescindir dos cuidados médicos!
Leste certamente no mesmo cânone 212 §1, que os fiéis “têm obrigação de prestar obediência cristã àquilo que os sagrados pastores, como representantes de Cristo, declaram na sua qualidade de mestres da fé ou estabelecem como governantes da Igreja”. É o que devem fazer também os sacerdotes na presente determinação.
Nesta circunstância de emergência e de jejum da Eucaristia, os sacerdotes devem continuar a celebrá-la todos os dias em privado, oferecendo o santo sacrifício de Cristo pela salvação e pelo crescimento espiritual de todos os fiéis e implorando ao Senhor que nos livre deste terrível mal. Podem e devem, além disso, usar com criatividade e zelo os meios de comunicação social para se fazerem próximos dos fiéis e os ajudarem.
Para te ajudar na meditação, envio uma fotografia com exemplos bíblicos de pessoas que souberam aliar confiança e prudência cumprindo a Palavra de Deus. Entre eles está S. José, “servo fiel e prudente”, cuja solenidade celebrámos ontem.
Sei que enviaste as tuas perguntas a outros sacerdotes. Deverás enviar-lhes também esta minha mensagem, para que recebam igualmente este esclarecimento.
Os meus melhores cumprimentos.
† António cardeal Marto, Bispo de Leiria-Fátima
 
Clara, elucidativa, oportuna.
Obrigado, sr. Cardeal.

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