Leituras: aqui
1. “Com
Maria e José acolher, sonhar e anunciar o Deus connosco para uma humanidade nova”. Dos profetas aos sábios, dos
pastores aos Magos, todos percorremos, ao longo de seis semanas, o caminho da
alegria. Pelo sonho, aqui viemos. Pelo sonho, aqui chegámos, ao Presépio de
Belém, com os Magos e como eles, comovidos e mudos, diante do Menino. E, por
fim, “avisados em sonhos”, tal como
os Magos, regressaremos, por outro caminho.
2. Hoje, ao
concluirmos a nossa caminhada diocesana, gostaria apenas de propor duas coisas,
que aprendemos dos Magos. Primeira: Não
deixemos que nos roubem o sonho! Segunda: Não deixemos que nos roubem a alegria do Natal, a alegria do amor em
família!
Primeira: Não deixemos que nos roubem o sonho! Não
deixemos de sonhar! Os Magos procuram sem se cansar, buscam sem cessar,
dão azo e asas ao seu desejo do Absoluto, do Além, da Beleza, da Verdade. Estes
Magos são verdadeiros “reis do sonho”,
porque correm diretos a um sonho,
porque se deixam guiar por uma funda intuição do coração! Deles se pode dizer,
o que Florbela Espanca escreve da condição do poeta, que «é ser mais alto, é ser maior do que os homens! (…) É ter de mil desejos
o esplendor… e não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que
flameja. É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito”.
Os Magos ensinam-nos,
pois, a sonhar e a não desistir dos nossos sonhos; eles ensinam-nos a procurar,
a ir mais além, a levantar os olhos para a Estrela e a seguir e a perseguir os grandes
anseios do nosso coração. Ensinam-nos a não nos contentarmos com uma vida
medíocre, sem «grandes voos», mas a
deixarmo-nos sempre fascinar pelo que é bom, verdadeiro e belo... a
deixarmo-nos alcançar por Deus, que é tudo isso, no seu máximo esplendor! “O homem é do tamanho do seu sonho! Matar o
sonho é mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de
impenetrável e inexpugnavelmente nosso" (Fernando Pessoa)! Não deixemos, portanto, que nos roubem
o sonho! Não deixemos de sonhar!
Segunda: Não deixemos que nos roubem a alegria do
Natal, que se manifesta sobretudo na alegria do amor em família. Essa é a nossa tentação, ao desmontar o
presépio, ao deitar fora os embrulhos dos presentes, ao voltar à dureza do dia
a dia. Mas os Magos ensinam-nos a preservar a alegria, a cuidar da alegria do
amor, que brota do nosso encontro com Maria, José e o Menino. Eles usam aquela
astúcia, de quem não se deixa enganar, nem levar por falinhas mansas, nem
seduzir por presentes envenenados, de quem sabe fugir dos perigos. O caminho
dos Magos está, aliás, cheio de enganos: chegam à cidade errada; falam de uma
criança ao assassino de crianças; perdem a estrela, procuram um rei e encontram
um bebé. E encontram-no, não num trono, mas entre os braços da mãe. Todavia não
se rendem aos seus erros; têm a infinita paciência de recomeçar, até que, ao
verem a Estrela, experimentam uma imensa alegria. Deus seduz sempre, porque
fala a linguagem da alegria! Ali, onde houver a alegria inteira e indivisa no
coração, aí está o sinal de Deus. E, para guardar esta alegria, para que ninguém
lha roube, os Magos, «avisados em sonhos,
regressaram à sua terra, por outro caminho”. Não deixeis, portanto, que vos
roubem a alegria do Natal, mesmo no meio da escuridão, do pranto e da dor!
Cuidai da alegria do amor em família. Como Maria e José, como os Magos de
Belém, defendei-vos das ameaças e ilusões, fugi dos perigos, e são tantos, que
vos podem fazer perder a alegria do amor em família!
3. Amanhã, com a
festa do Batismo do Senhor, atravessaremos a porta do Natal para entrar no
Tempo Comum! Continuai, com Maria e José, com os Pastores e o Magos, a guardar
o sonho e a alegria do amor! Voltai para vossa casa, como os Magos, mas por
outro caminho, para que nada nem ninguém vos roube o sonho e a alegria do amor
neste Natal, que, por vontade de Deus, não tem ponto final!
Amaro Gonçalo
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