Leituras: aqui
1. É surpreendente e
escandalosa a estratégia pastoral de Jesus! A primeira surpresa escandalosa é que Jesus não inicia a Sua vida
pública em Jerusalém, o centro religioso, social e político de Israel. A Sua
missão começa numa zona periférica, numa região desprezada pelos judeus piedosos,
devido à presença de diversas populações estrangeiras; por isso o profeta
Isaías a indica como «Galileia dos povos»
(Is 8,23), terra de pagãos.
Jesus enfrenta corajosamente este ambiente urbano, esta mistura de raças, culturas
e religiões. Sai ao seu encontro, na
certeza de que Deus habita na cidade, a começar pelos pobres. Sai para Se
encontrar, para ouvir, para abençoar, para caminhar com as pessoas…
2. Também nós estamos hoje imersos
numa «Galileia dos povos». Dominados
pelo medo, somos tentados a construir recintos fechados, condomínios privados, para
aí nos sentarmos e sentirmos mais seguros, mais protegidos, fazendo, por
exemplo, da paróquia, “um grupo de
eleitos que olham, para si mesmos, e não um centro de constante envio
missionário” (EG, 28). Partindo da Galileia, Jesus ensina-nos o contrário: partir
da periferia, dos últimos, dos pobres, dos resíduos, dos não crentes, dos
distantes, dos que procuram, para alcançar a todos! É, pois, urgente «sair do próprio conforto e ter a coragem de
chegar a todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (EG, 20).
3. E há uma segunda surpresa escandalosa! Jesus
começa a Sua missão por pessoas, que se diriam hoje «de perfil baixo». Para escolher os Seus primeiros discípulos e
futuros apóstolos, não Se dirige às escolas dos escribas e dos doutores da Lei,
mas às pessoas humildes e simples, que se preparam com empenho para a vinda do
Reino de Deus. Jesus vai chamá-los lá onde eles trabalham, nas margens do lago:
são pescadores. Chama-os e eles seguem-n’O imediatamente: a sua vida
tornar-se-á, com Jesus, uma aventura fascinante.
4. Queridos irmãos e irmãs:
o Senhor chama também hoje! O Senhor passa pelas estradas da nossa vida diária.
O Senhor passa pela nossa praça. E chama-nos a segui-l’O, para andar com Ele,
para trabalhar com Ele pelo Reino de Deus, nas «Galileias» dos nossos tempos. Deixemo-nos
alcançar pelo Seu olhar, pela Sua voz, e sigamo-l’O, para que a alegria do
Evangelho chegue a todos «e nenhuma
periferia fique privada da sua luz» (EG,
288).
5. Seguindo o exemplo de
Cristo, é preciso mudar toda a nossa estratégia pastoral. Sugeria apenas duas pistas
muito simples, mas revolucionárias:
Primeira: não fiquemos sentados
nos bancos da igreja à espera de quem chega, mas saiamos ao encontro de quem
não vem. Irmão, irmã: sai pelas ruas
da cidade, ao encontro dos mais pobres, dos sós e frágeis, mas também atento aos
que vagueiam e procuram, sem sossego, uma luz para a sua vida. Sai ao encontro
das pessoas, para caminhar com elas, para as ouvir e conversar, e assim lhes
facilitares e provocares o encontro com o teu Senhor!
Segunda: não façamos
proselitismo, como quem procura angariar sócios para um clube. Evangeliza por
atração (EG 14), por contágio, pelo testemunho feliz da tua vida e pela beleza da
tua comunidade. Sem propaganda, irradia e contagia com a alegria do Evangelho! Usa
de ternura e de misericórdia! Atrai, pelo brilho da tua fé, para a Luz, que é Jesus
Cristo. Levanta essa luz, como a de um farol, que projeta ao longe horizontes
novos de esperança! Leva essa luz, como a de uma candeia, que ilumina, de
perto e no concreto, a escuridão do teu irmão.
E dir-se-á: o povo de Tarouca, a Galileia dos gentios, viu uma grande luz!
Amaro Gonçalo
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.