1. A fé está no agir e, nessa medida, está no ser. O agir segue o ser. O agir revela o ser. O ser desvela-se no agir.
A fé que inspira o agir está alojada no ser. Mais: a fé é o ser. Ou, melhor, a fé é mais que o ser. A fé é muito mais que o meu ser. A fé é outro modo de ser. A fé é o ser de Deus no ser de cada um.
2. Por isso, a fé é ser outro, é ser outramente. Neste sentido, não somos crentes, vamo-nos tornando crentes. Os discípulos de Jesus tinham esta percepção muito viva quando Lhe pediam que lhes aumentasse a fé (cf. Lc 17, 5).
Existe, por conseguinte, uma alemdidade na fé que consiste no facto de, em mim, eu procurar ir além de mim. Na fé, sou eu deixando de ser eu. A fé é a consciência de que Alguém me habita, de que Outro vive em mim (cf. Gál 2, 20-22).
3. É neste sentido que a fé não se define: ela não tem fim. A fé não se limita: ela pertence ao ilimitado. A fé também não se diz: ela faz parte do indizível.
Só que como o indizível, apesar de tudo, tem de ser dito, então tacteamos na procura e tartamudeamos no esforço, arriscando um discurso e propondo uma linguagem.
4. Acontece que a linguagem da fé ocorre mais na vida do que nas palavras. Ou, então, a fé mostra-se mais convincente com a palavra da vida do que com a palavra dos lábios.
A fé inscreve-se mais no plano pessoal do que no plano conceptual. A fé é mais relação com uma pessoa do que adesão a conceitos. Os conceitos são acolhidos por causa da pessoa. A credibilidade da pessoa torna credível a sua mensagem.
5. Existem, basicamente, três aproximações à fé. Podemos falar de uma aproximação antropológica, de uma aproximação religiosa e, dentro desta, de uma aproximação cristã.
Antropologicamente, ter fé é acreditar em Deus. Do ponto de vista religioso, ter fé é aderir ao que uma determinada religião transmite sobre Deus. Numa perspectiva cristã, ter fé implica acolher a revelação de Deus em Jesus Cristo presente na Sua Igreja.
6. Tal acolhimento resulta, ao mesmo tempo, de um dom e de um acto de vontade. A fé é sempre o encontro de duas liberdades: a liberdade de Deus e a liberdade do homem.
Uma vez que a fé assenta no plano pessoal, ela postula o aprofundamento da relação. Isso sucede pela oração, pela formação e pela missão.
7. Os cristãos habituaram-se a professar publicamente a sua fé. Trata-se da fé em Deus. Trata-se da fé de Jesus e da fé em Jesus. Trata-se, no fundo, da fé da Igreja e da fé na Igreja.
A essa profissão chamamos símbolo (Símbolo da Fé) porque, como decorre da etimologia, é aquilo que une, é aquilo que une os cristãos desde o princípio.
8. Tal símbolo é composto por artigos que não podem ser fracturados nem suprimidos. A raiz da palavra artigo (articulus) já diz tudo: artigo é o que articula, é o que está unido ao que está antes e ao que vem depois.
A boca proclama e o coração acredita (cf. Rom 10, 10) para que a vida possa tornar presente. Assim é o percurso da fé na nossa existência.
9. Acreditamos como pessoas. Acreditamos como comunidade. Na fé, usamos as palavras de todos e damos-lhe a feição de cada um.
Na fé, acreditamos em Deus. E em tudo o que vem de Deus por Seu Filho, Jesus Cristo, presente no mundo através do Seu novo Corpo que é a Igreja, que somos nós!
Fonte: aqui
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