sexta-feira, 2 de novembro de 2012

XXXI Domingo do Tempo Comum - Ano B

1. A pergunta era mesmo sobre o primeiro (Mc.12,28) ou o maior (Mt. 22,36) de todos os mandamentos! O escriba, que sabia de cor os Dez, estava metido numa verdadeira floresta, onde cresceram, como cogumelos, uma série de 248 obrigações e 365 proibições. Metido nessa «alhada», qualquer judeu piedoso, ficava sem saber, ao certo, a que preceito devia dar prioridade, sobre todos os outros, para cumprir, sem mácula, todo o código da Lei. De algum modo, ele queria saber, na prática, o que fazer, por onde seguir, para apanhar “a estrada principal”, que o levasse à vida eterna (cf. Lc.2,25)!
2. A resposta de Jesus é surpreendente. Porque Jesus não vai ao Decálogo, nem ao catálogo das leis, procurar a resposta. Em vez de algum dos Mandamentos, Jesus cita o Credo histórico, do povo de Israel. E, deste modo, mostra que a resposta à pergunta estava na testa, no coração e na boca, de uma oração, que todo o israelita rezava três vezes ao dia: “Escuta, Israel: amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt.6,4-5). Trata-se, portanto, aqui, da solene proclamação de fé, que todo o israelita devia fazer diariamente. Neste sentido, a prioridade definida por Jesus não é, de imediato, cumprir um qualquer dos mandamentos. A prioridade é o próprio Deus. A prioridade é professar a fé, no Deus único, entregando-se inteiramente a Ele. Por isso, e bem, o Credo do povo de Deus, na antiga aliança,começava pelas palavras “Escuta, Israel”. A prioridade é, pois, escutar, isto é, ouvir, acolher, obedecer, responder ou corresponder, agir ou reagir, a este Deus, que primeiro nos ama. Esta resposta de amor é a própria fé, que se traduz na entrega e na confiança absoluta no Senhor. Ao citar esta oração, Jesus faz-nos perceber, que “no início da fé, não está uma decisão moral ou uma grande ideia” (Bento XVI, DCE 1).
3. A fé – queridos irmãos e irmãs - não se pode, pois, reduzir a um conjunto de proibições e obrigações. No centro da fé está «o verbo amar”, está a própria experiência do amor que Deus nos tem! «“Nós cremos no amor de Deus”! Esta é a opção fundamental da nossa vida» (DCE 1). Assim, “uma vez que Deus foi o primeiro a amar-nos, o amor já não é só nem primeiramente um «mandamento», é a própria resposta ao dom do amor, com que Deus, vem ao nosso encontro” (cf. DCE 1). Ou dito de outro modo, o próprio amor a Deus e ao próximo, brota da mesma fé, com que acolho o amor de Deus, por mim! Por isso, o amor é, em todo o caso, obra da fé! “E sem a fé, o próprio amor se tornaria um sentimento à mercê da dúvida” (PF 14).
4. Estamos no Ano da fé. E nós, como o escriba, precisamos também de ir ao coração da fé, isto é, à procura do essencial. Precisamos de sacudir, dos conteúdos e da prática da nossa fé, a poeira dos séculos, que se acumulou e foi desfigurando a beleza do rosto de Cristo e a riqueza do nosso encontro com Ele. Neste sentido, seria oportuno, durante este Ano, voltar ao essencial dos conteúdos da nossa fé, que estão expressos no Credo! “É necessário que o Credo seja melhor conhecido, compreendido e pregado, que o Credo seja mesmo reconhecido, de modo a descobrirmos o vínculo profundo entre as verdades que professamos no Credo e a nossa existência quotidiana, para que estas verdades sejam deveras e concretamente luz para os passos do nosso viver, água que rega a aridez do nosso caminho, vida que vence certos desertos da vida contemporânea” (Bento XVI, Audiência, 17-10-2012).
5. Uma das propostas concretas e muito pessoais, para o Ano da Fé é recitar diariamente o Credo, tal como os judeus recitavam a oração do Shemá. Eles traziam-na pendurada na fronte, apoiada nos braços (cf. Dt.6,8). E nós podemos, não tanto, trazer o credo sempre na boca, mas tê-lo sempre presente na mente e no coração. Depois de um breve silêncio, professemos, com particular enlevo, o Credo da nossa fé.
Fonte: aqui

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