Leituras: aqui
APRENDER O AMOR
NA PALAVRA DO SENHOR
Com o Evangelho de São Marcos,
colocar o ouvido no chão e escutar a Voz
Dormia
no Templo e tudo. Conhecia-lhe os cantos e recantos, via e ouvia os outros
rezar e falar. Sempre pronto para o serviço, estava em todas as rezas e
orações. Habituado, como ninguém, às palavras, aos sermões, às rezas e às
chamadas de serviço... Muito pronto, para Eli, ouviu chamar pelo seu nome e
logo respondeu: “aqui estou”! Engano. Samuel era o seu nome. Mais um chamamento
e de novo a prontidão: “aqui estou”! Não te chamei, observa Eli. E o jovem
acólito, viciado como ninguém nas lides do Templo, andava distraído, ainda não conhecia
verdadeiramente o seu Senhor, ainda não distinguia a voz. A Palavra de Deus
ainda não lhe tinha sido revelada. O seu conhecimento de Deus era ainda e
apenas exterior. E por isso, no meio das palavras, teve dificuldade em
distinguir a Voz, em acolher a Palavra. Dada a insistência, Eli compreende que
é o Senhor quem chama, e ensina a Samuel as palavras certas: “Falai, Senhor,
que o vosso servo escuta”!
É a voz de Deus que chama
sempre, com insistência e sem desistência. Chama sem cessar. Chama pelo nome.
Chama a cada um para uma relação singular, espera uma resposta pessoal. Chama
para o diálogo. Chama à comunhão com ele. Toma a iniciativa. Vem, imprevisível,
ao encontro de cada homem... E quando acontece esse chamamento, Samuel não
percebe. Tem dificuldade em dar-se conta da presença de Deus quando Ele está
por perto, a chamar pelo próprio nome. ali, no lugar comum da sua vida. Samuel
confunde a voz de Deus com as palavras humanas, julga serem falas dos homens
quando é a Palavra silenciosa de Deus a chamar. Tem mais dificuldade em
discernir de Quem é a voz do que em se dispor prontamente a escutar. Ajudou-o
Eli nesta descoberta e então, percebendo ser a voz de Deus, Samuel acolhe o
apelo da Palavra: “Falai Senhor, que o vosso servo escuta”.
Creio
que esta é a história de muitas histórias. Talvez a história de todos nós,
habituados que estamos a encher o Templo com palavras... sem ouvirmos, no
silêncio, a voz d’Aquele que nos fala e nos chama. Oiço muito as pessoas
dizerem que O escutam. Há demasiadas palavras e pouco silêncio. Muito barulho e
pouca escuta. Talvez esteja nesta dificuldade de Samuel retratada a confusão de
cada um de nós ao ouvirmos apelos vindos de todos os lados, embrulhados em
palavras doces e bem sonantes. Muitas palavras, muitos apelos, muitas chamadas
que o mundo nos oferece. O que nos sobra em palavras de superfície, ocas,
vazias, falta-nos em vozes de profundidade, em ecos de silêncio, em gestos que
falem sem dizer palavra. Invadiu-nos um caudal impúdico de palavras vazias, despidas
de espírito e forma, tagarelice fastidiosa e aviltante. E faltaram-nos as
vozes. Palavras encarnadas, empenhadas, vividas, sangradas em testemunho. A voz
é o rosto das palavras, os olhos das palavras, a verdade das palavras. Cristo
Jesus, apenas com um olhar e um aceno no rosto chamou para a sua aventura
alguns homens de poucas palavras. E no entusiasmo daquele encontro outros
perceberam o mesmo apelo e seguiram-no. Sem discursos, sem programas: “Vinde e
vede”.
Que
este templo, erguido no coração da Cidade, seja refúgio e abrigo para um
silêncio profundo. No meio da gritaria das palavras saibamos, aqui colocar o
ouvido no chão e escutar a Voz. Que aqui ressoe viva no coração de cada um a
voz íntima e cordial do Mestre. Ele nos chama a ser santos, a estar e a
permanecer com Ele. Tu que aqui vens, pára, escuta, olha... e segue por onde
essa Voz te chamar.
Amaro Gonçalo
PROPOSTA PARA JANEIRO/FEVEREIRO
- Ler o Evangelho de São Marcos, o Evangelista do Ano
- Colocar os ouvidos do coração no chão da Palavra de Deus para escutar a VOZ!
PROPOSTA PARA JANEIRO/FEVEREIRO
- Ler o Evangelho de São Marcos, o Evangelista do Ano
- Colocar os ouvidos do coração no chão da Palavra de Deus para escutar a VOZ!
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