D. Manuel Martins, bispo de Setúbal entre 1975 e 1998, morreu este domingo, aos 90 anos. Conhecido como o "bispo vermelho", pela sua acção de denúncia das situações de fome e de injustiça social, morreu às 14h05, em casa de familiares, na Maia, onde se encontrava.
Foi enquanto bispo de Setúbal, cargo em que se manteve ao longo de 23 anos (até que, em 1998, o Papa João Paulo II aceitou o seu pedido de resignação), que D. Manuel Martins se notabilizou, pela sua atenção aos problemas do desemprego, da habitação social e do trabalho infantil. "Chamavam-me 'bispo vermelho' porque ocupava espaços de onde a Igreja nunca devia ter saído", sustentara o próprio, numa entrevista à TSF, em Março de 2016.
D. Manuel Martins passou um dia pela casa paroquial de Tarouca para conversar com um sacerdote que então aqui trabalhava em equipa comigo.
Recordo-me da conversa que mantivemos durante a refeição. Senti-me bem como discípulo que escuta o mestre. A sua familiaridade, a sua vivência, a acutilância da sua palavra, a beleza do seu testemunho, a clareza dos horizontes, o vibrar da sua fé... Tudo me marcou como pegadas de um "profeta e apóstolo" (no dizer do bispo de Angra).
Quando se lhe preparava o café, no fim da refeição, ele desafiou. "Não, vamos ao café para estarmos com as pessoas." D. Manuel já cheirava a ovelhas, antes da expressão e do desafio serem lançados pelo Papa Francisco.
Era assinante do Sopé da Montanha. Várias vezes escreveu para ofertar o seu contributo para causas sociais em que o jornal se meteu ou para apoiar e incentivar, especialmente quando o mensário enveredava por questões que tinham a ver com o compromisso do cristão com o mundo e a vida.
Sempre admirei este grande bispo que nunca meteu a profecia na gaveta e que sempre pugnou por uma Igreja centrada em Cristo e descentrada no mundo.
Que junto do Senhor a Quem louvamos pelo dom que ele foi para a Igreja, interceda pela Igreja e pelo mundo que tanto amou e tão belamente serviu.
Senhor, neste tempo que tem muito de deserto, envia-nos, por bondade, profetas e apóstolos.
Que D. Manuel descanse na mão de Deus para sempre!
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