Leituras: aqui
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a
confiança: / Todo o mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas
qualidades”.
1. Assim escreveu o nosso grande poeta Camões, que, por certo, conheceria
o Evangelho deste domingo, mas estava longe de navegar por estes novos meios,
que vieram atracar, esta semana, em Lisboa, na web summit, a grande cimeira tecnológica. Mais longe, e tão perto,
foi a viragem política na América, numa espécie de terramoto, que poderá ter
várias réplicas, aqui no cantinho europeu. O mundo é realmente composto de
mudança e Nosso Senhor já nos tinha posto de sobreaviso. Não é amanhã, nem
depois de amanhã, nem para o ano que vem, que tudo isto, que nos parece
assustar, irá acontecer. É de ontem, é de hoje e é de sempre, que o mundo
sempre gira, em mutação, em alta rotação!
2. Mas, neste mundo, composto assim de mudança, permanece, na pessoa, a
necessidade do encontro, do pouso e do repouso, da aragem e da paragem, de um
toque da ternura, do sabor da comida, do olhar cruzado, do rosto beijado, do
corpo abraçado, do cheiro único da pessoa, da terra, dos frutos. A pessoa
humana permanece a mesma! Cada vez mais ligada
às máquinas, e ao virtual, e cada vez mais carente de uma presença, de uma
proximidade pessoal, de carne e osso, de lágrimas e sorrisos! Tudo passa, tudo
cai; tudo se se desmorona, para dar lugar a qualquer coisa nova, mas isto mesmo
permanece: a infinita sede de amar e de ser amado. O amor é o que fica de tudo
o que passa! Se não houver amor, a rede social enreda em vez de unir; a imagem
cega em vez de iluminar; a aplicação prende, em vez de ligar. Convém não nos
iludirmos com as falsas profecias da rapidez e da facilitação, que isto de
viver, de amar e de sofrer, de edificar a vida sobre um fundamento sólido, é
uma história vagarosa, que dá muito trabalho, e exige muita paciência.
3. Talvez pudéssemos resumir as palavras de Jesus, na sigla TPC, que todos
conhecemos dos tempos da Escola, e que resumiria assim: “T”, de Testemunho; “P”
de Perseverança. E “C” de Confiança.
T – De “Trabalho”, de empenho e compromisso, na transformação do mundo,
mas sobretudo um “T” de Testemunho. Os tempos difíceis não são para lamentos, nostalgia ou desalento.
Não é a hora da resignação, passividade ou demissão. A ideia de Jesus é outra:
em tempos difíceis «tereis ocasião de dar
testemunho». É agora precisamente que temos de ser testemunhas humildes,
mas audazes e convincentes de Jesus, da Sua mensagem e do Seu projeto.
P – De “Perseverança” ou de “Paciência”:
«Com a vossa perseverança salvareis as
vossas vidas». Entre os cristãos, falamos pouco da paciência, mas
precisamos dela, mais do que nunca. É o momento de cultivar um estilo de vida
cristã, paciente e tenaz, que nos ajude a responder a novas situações e
desafios, sem perder a paz nem a lucidez. Não temos de perder a calma, mas de
assumir a nossa própria responsabilidade.
C – De “Confiança”. Não se nos pede nada que esteja acima das nossas
forças. Contamos com Jesus, que está connosco, até ao fim dos tempos. Ele é
o mesmo ontem, hoje e sempre. E não muda com as nossas mudanças. A Sua
palavra, a Sua presença, o Seu amor, permanecem. Ele mesmo nos dará «língua e sabedoria a que nenhum dos nossos
adversários poderá resistir ou contradizer». Mesmo, num ambiente hostil de
rejeição ou desafeto, podemos viver a alegria do Evangelho.
Fiquem então com estas três palavras-chave.
E não tenham medo de abrir as portas ao futuro!
Gonçalo Amaro
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