sexta-feira, 11 de novembro de 2016

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM C 2016


Leituras: aqui

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança: / Todo o mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades”.                     

1. Assim escreveu o nosso grande poeta Camões, que, por certo, conheceria o Evangelho deste domingo, mas estava longe de navegar por estes novos meios, que vieram atracar, esta semana, em Lisboa, na web summit, a grande cimeira tecnológica. Mais longe, e tão perto, foi a viragem política na América, numa espécie de terramoto, que poderá ter várias réplicas, aqui no cantinho europeu. O mundo é realmente composto de mudança e Nosso Senhor já nos tinha posto de sobreaviso. Não é amanhã, nem depois de amanhã, nem para o ano que vem, que tudo isto, que nos parece assustar, irá acontecer. É de ontem, é de hoje e é de sempre, que o mundo sempre gira, em mutação, em alta rotação!

2. Mas, neste mundo, composto assim de mudança, permanece, na pessoa, a necessidade do encontro, do pouso e do repouso, da aragem e da paragem, de um toque da ternura, do sabor da comida, do olhar cruzado, do rosto beijado, do corpo abraçado, do cheiro único da pessoa, da terra, dos frutos. A pessoa humana permanece a mesma! Cada vez mais ligada às máquinas, e ao virtual, e cada vez mais carente de uma presença, de uma proximidade pessoal, de carne e osso, de lágrimas e sorrisos! Tudo passa, tudo cai; tudo se se desmorona, para dar lugar a qualquer coisa nova, mas isto mesmo permanece: a infinita sede de amar e de ser amado. O amor é o que fica de tudo o que passa! Se não houver amor, a rede social enreda em vez de unir; a imagem cega em vez de iluminar; a aplicação prende, em vez de ligar. Convém não nos iludirmos com as falsas profecias da rapidez e da facilitação, que isto de viver, de amar e de sofrer, de edificar a vida sobre um fundamento sólido, é uma história vagarosa, que dá muito trabalho, e exige muita paciência.

3. Talvez pudéssemos resumir as palavras de Jesus, na sigla TPC, que todos conhecemos dos tempos da Escola, e que resumiria assim: “T”, de Testemunho; “P” de Perseverança. E “C” de Confiança.

T – De “Trabalho”, de empenho e compromisso, na transformação do mundo, mas sobretudo um “T” de Testemunho. Os tempos difíceis não são para lamentos, nostalgia ou desalento. Não é a hora da resignação, passividade ou demissão. A ideia de Jesus é outra: em tempos difíceis «tereis ocasião de dar testemunho». É agora precisamente que temos de ser testemunhas humildes, mas audazes e convincentes de Jesus, da Sua mensagem e do Seu projeto.

P – De “Perseverançaou de “Paciência”: «Com a vossa perseverança salvareis as vossas vidas». Entre os cristãos, falamos pouco da paciência, mas precisamos dela, mais do que nunca. É o momento de cultivar um estilo de vida cristã, paciente e tenaz, que nos ajude a responder a novas situações e desafios, sem perder a paz nem a lucidez. Não temos de perder a calma, mas de assumir a nossa própria responsabilidade.

C – De “Confiança”. Não se nos pede nada que esteja acima das nossas forças. Contamos com Jesus, que está connosco, até ao fim dos tempos. Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre. E não muda com as nossas mudanças. A Sua palavra, a Sua presença, o Seu amor, permanecem. Ele mesmo nos dará «língua e sabedoria a que nenhum dos nossos adversários poderá resistir ou contradizer». Mesmo, num ambiente hostil de rejeição ou desafeto, podemos viver a alegria do Evangelho.

Fiquem então com estas três palavras-chave. E não tenham medo de abrir as portas ao futuro!
Gonçalo Amaro

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