É uma graça imensa que deve também aos meus pais, mas sobretudo, a Deus, que assim o fez tomar parte da Sua proximidade.
Vamos ver a excelente lição do Papa Bento XVI à diocese de Roma no passado dia 11 de Junho, exactamente sobre o baptismo.
Entretanto “É o carteiro” publicou em “fascículos” uma arrumação muito pedagógica da lição do Papa. Com a devida vénia e gratidão irei lembrar cada um destes pontos da lição do Papa.
Veja aqui
Pensando nisto, podemos ver imediatamente algumas consequências.
A primeira, é que Deus já não está muito distante de nós, não é uma realidade a debater – se existe ou não existe – mas nós estamos em Deus, e Deus está em nós.
A prioridade, a centralidade de Deus na nossa vida constitui uma primeira consequência do Baptismo.
À pergunta: «Deus existe?», a resposta é: «Existe, e está connosco; centra na nossa vida esta proximidade de Deus, este estar no próprio Deus, que não é uma estrela distante, mas é o ambiente da minha vida».
Uma segunda consequência daquilo que eu disse é que nós não nos fazemos cristãos.
Sem dúvida, também a minha decisão é necessária, mas é sobretudo uma acção de Deus comigo: não sou eu que me faço cristão, mas eu sou assumido por Deus, guiado pela mão por Deus e assim, dizendo «sim» a esta acção de Deus, torno-me cristão.
Tornar-se cristão, num certo sentido, é passivo: eu não me faço cristão, mas é Deus quem me faz um homem seu, é Deus quem me toma pela mão e realiza a minha vida numa nova dimensão.
Do mesmo modo como não sou eu que me faço viver a mim mesmo, mas é a vida que me é dada; nasci não porque me fiz homem, mas nasci porque o ser homem me foi dado.
E este facto do passivo, de não nos fazermos cristãos sozinhos, mas de termos sido feitos cristãos por Deus, já inclui um pouco o mistério da Cruz: só morrendo para o meu egoísmo, saindo de mim mesmo, posso ser cristão.
E finalmente, voltemos à Palavra de Cristo aos saduceus: «Deus é o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob», e portanto eles não estão mortos; se são de Deus, estão vivos.
Quer dizer que com o Baptismo, com a imersão no nome de Deus, estamos também nós já imersos na vida imortal, somos vivos para sempre.
Por outras palavras, o Baptismo é uma primeira etapa da Ressurreição: imersos em Deus,
já nos encontramos imersos na vida indestrutível, começa a Ressurreição.
O Sacramento do Baptismo não é o gesto de uma hora, mas constitui uma realidade de toda a nossa vida, é um caminho de toda a nossa existência.
Na realidade, por detrás encontra-se também a doutrina dos dois caminhos, que era fundamental no primeiro cristianismo: um caminho ao qual dizemos «não», e outro caminho al qual dizemos «sim».
Comecemos pela primeira parte, as renúncias.
São três, e realço sobretudo a segunda: «Renunciais às seduções do mal, para não vos deixardes dominar pelo pecado?».
Que são estas seduções do mal?
Na Igreja antiga, e ainda durante séculos, aqui havia esta expressão: «Renunciais à pompa do diabo?», e hoje sabemos o que se entendia com esta expressão: «pompa do diabo».
A pompa do diabo eram sobretudo os grandes espectáculos cruentos, nos quais a crueldade se torna divertimento, matar homens se torna algo espectacular: espectáculo, a vida e a morte de um homem.
Estes espectáculos cruentos, este divertimento do mal, é a «pompa do diabo», onde se manifesta com beleza aparente e, na realidade, aparece com toda a sua crueldade.
Mas para além deste significado imediato da palavra «pompa do diabo», devia-se falar de um tipo de cultura, de um way of life, de um estilo de vida no qual não conta a verdade mas a aparência, não se procura a verdade mas o efeito, a sensação, e sob o pretexto da verdade, na realidade, destroem-se homens, deseja-se destruir e criar-se só a si mesmo como vencedor. Portanto, esta renúncia era muito real: era a renúncia a um tipo de cultura que é uma anticultura, contra Cristo e contra Deus.
Agora deixo a cada um de vós a reflexão sobre esta «pompa do diabo», sobre esta cultura à qual dizemos «não».
Ser baptizado significa exacta e substancialmente, um emancipar-se, um libertar-se desta cultura.
Conhecemos também nos dias de hoje um tipo de cultura na qual a verdade não conta; não obstante, aparentemente, se deseje fazer manifestar toda a verdade, só contam a sensação e o espírito de calúnia e de destruição.
Uma cultura que não procura o bem e cujo moralismo é, na realidade, uma máscara para confundir, criar confusão e destruição.
Contra esta cultura, na qual a mentira se apresenta nas vestes da verdade e da informação,
contra esta cultura que procura unicamente o bem-estar material e nega Deus, digamos «não».
Conhecemos bem, inclusive graças a numerosos Salmos, este contraste de uma cultura na qual uma pessoa parece intocável por todos os males do mundo, pondo-se acima de todos, acima de Deus, enquanto na realidade é uma cultura do mal, um domínio do mal.
«Renunciais ao pecado para viver na liberdade dos filhos de Deus?».
Hoje liberdade e vida cristã, observância dos mandamentos de Deus, caminham em direcções opostas; ser cristão seria como uma escravidão; liberdade é emancipar-se da fé cristã, emancipar-se – no final de contas – de Deus.
A palavra pecado parece para muitos quase ridícula, porque dizem: «Como?! Não é possível ofender a Deus!
Deus é tão grande, o que interessa a Deus, se eu faço um pequeno erro?
Não podemos ofender a Deus, o seu interesse é demasiado grande para ser ofendido por nós».
Parece verdade, mas não é assim.
Deus fez-se vulnerável.
Em Cristo crucificado vemos que Deus se fez vulnerável, fez-se vulnerável até à morte.
Deus interessa-se por nós porque nos ama, e o amor de Deus é vulnerabilidade, o amor de Deus é interesse pelo homem, o amor de Deus quer dizer que a nossa primeira preocupação
deve ser não ferir, não destruir o seu amor, não fazer nada contra o seu amor porque, caso contrário, viveremos também contra nós mesmos e contra a nossa liberdade.
E, na realidade, esta liberdade aparente na emancipação de Deus torna-se imediatamente escravidão de muitas ditaduras do tempo, que devem ser seguidas para se ser considerado à altura do tempo.
No final permanece a questão – apenas uma breve palavra – do Baptismo das crianças.
É justo fazê-lo, ou seria mais necessário percorrer primeiro o caminho catecumenal para alcançar um Baptismo autenticamente realizado?
E outra pergunta que se apresenta sempre é a seguinte: «Mas podemos impor a uma criança a religião que ela há-de viver ou não? Não devemos deixar à criança a escolha?».
Estas perguntas demonstram que já não vemos na fé cristã a vida nova, a vida verdadeira, mas vemos uma escolha entre outras, e também um peso que não se deveria impor sem obter o assentimento da parte do sujeito.
A realidade é diferente.
A própria vida é-nos dada sem que nós possamos escolher se queremos viver ou não; a ninguém pode ser perguntado: «Queres nascer ou não?».
A própria vida é-nos dada necessariamente sem consentimento prévio, é-nos concedida assim e não podemos decidir antes «sim ou não, quero viver ou não».
E, na realidade, a pergunta verdadeira é: «É justo dar a vida neste mundo, sem ter recebido o consentimento – queres viver ou não? Pode-se realmente antecipar a vida, dar a vida sem que o sujeito tenha tido a possibilidade de decidir?».
Eu diria: só é possível e justo se, com a vida, podemos oferecer também a garantia de que a vida, com todos os problemas do mundo, é boa, que é bom viver, que existe uma garantia
de que esta vida é boa, é protegida por Deus e que é um dom autêntico.
Só a antecipação do sentido justifica a antecipação da vida.
E por isso o Baptismo como garantia do bem de Deus, como antecipação do sentido, do «sim» de Deus que protege esta vida, justifica também a antecipação da vida.
Por conseguinte, o Baptismo das crianças não é contrário à liberdade; é precisamente necessário oferecê-lo, para justificar também o dom – que doutra maneira seria questionável – da vida.
Só a vida que está nas mãos de Deus, nas mãos de Cristo, imersa no nome do Deus trinitário, é certamente um bem que se pode oferecer sem escrúpulos.
E assim estamos gratos a Deus que nos concedeu esta dádiva, que se deu a Si mesmo a nós.
E o nosso desafio consiste em viver este dom, em vivê-lo realmente, num caminho pós-baptismal, tanto as renúncias como o «sim», sempre no grande «sim» de Deus, e deste modo viver bem.
Fonte: aqui
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