Leituras: aqui
1. A ascensão é o cumprimento pleno daquela Hora, anunciada, em primeira mão, por Jesus a Maria, em Caná da Galileia. É a hora de Jesus, partir deste mundo para o Pai, levando-nos consigo e elevando-nos a todos com Ele. Mas é também a hora de nós partirmos “a pregar por toda a parte a Boa Nova” (Mc.16,20). Dito, de modo simples, nesta hora Jesus parte, para ficar no meio de nós e por meio de nós. E nós ficamos para partir e pregar a sua Boa Nova, com Ele e por meio d’Ele. É a hora do parto da própria Igreja, que tem de dar um grito e fazer-se à vida, como uma criança acabada de nascer. Jesus, porém não é um ausente; ele permanece presente e, como dizia o evangelho (Mc.16,20) “cooperava” com os discípulos e “confirmava” a força da Palavra, com sinais maravilhosos! A Palavra de Deus transforma sempre a nossa Vida!
2. Mas, neste domingo, em que se assinala também o 46º Dia Mundial das Comunicações Sociais (DMCS), o Santo Padre vem lembrar-nos que o caminho da evangelização não passa apenas pelo anúncio da Palavra, mas que o acolhimento desta requer sempre o difícil exercício do silêncio. Pois o silêncio é o berço da Palavra. E perguntamo-nos: fará sentido este elogio do silêncio, numa Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais? Sim, faz. Porque a nossa, é uma época, na qual não se favorece o recolhimento; aliás, às vezes tem-se a impressão de que as pessoas têm medo de se separar, nem que seja por um instante, do rio de palavras e de imagens que marcam e enchem os dias. Ora, a vertigem com que hoje a informação nos chega ao ecrã do telemóvel, da net, da TV, exige, da nossa parte, uma maior ponderação, uma seleção, uma séria capacidade crítica, para “discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório”. E esta «digestão» da informação não é possível se não for ruminada no silêncio. Mais ainda, o silêncio é fundamental para podermos “descobrir a relação existente entre acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si; o silêncio é um bem necessário, para avaliar e analisar as mensagens” recebidas. No meio de tanta informação, impõe-se-nos “criar um ambiente propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons” (Bento XVI, Mensagem para o 46º DMCS 2012).
3. Assim, se, por um lado, devemos olhar com interesse para as várias formas de sítios, aplicações e redes sociais que possam ajudar o homem atual, não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, por outro lado, também devemos buscar e encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus! Daí a necessidade de voltar a “aprender a escutar, a contemplar, para além do falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja, para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo” (Bento XVI, Mensagem para o 46º DMCS 2012).
4. Neste sentido, já tinha dito muito antes o Papa: “redescobrir a centralidade da Palavra de Deus, na vida da Igreja, significa também redescobrir o sentido do recolhimento e da tranquilidade interior. Só no silêncio é que a Palavra pode encontrar morada em nós, como aconteceu em Maria, mulher inseparável da Palavra e do silêncio» ”(Bento XVI, Verbum Domini, n. 66).
5. Sim, meus queridos irmãos e irmãs: esta necessária harmonia entre o silêncio e a Palavra, não podia encontrar melhor expressão, do que em Maria! Maria é para nós, como foi para os discípulos, a verdadeira imagem de uma Casa, da morada enamorada de Deus, habitada pelo silêncio. Desde o princípio dos evangelhos, vemos que Maria foi aquela que verdadeiramente abriu e escancarou a porta do seu coração à Palavra de Deus! Ela mesmo respondeu e correspondeu à Palavra de Deus dizendo: «Faça-se em Mim, segundo a Tua Palavra” (Lc.2,38). Maria era um coração todo puro, recetividade plena, silêncio absoluto, onde a Palavra de Deus estava como que "em sua casa". Por isso, também Maria, nos dias da vida de Jesus, «ponderava todas as palavras e todas as coisas em seu coração», (cf. Lc.2,19.51), ela meditava em tudo o que ouvia e em tudo o que via. Ela como que recolhia e ligava todas as palavras e todas as imagens da sua vida, procurando, no silêncio do coração, decifrar aí os apelos de Deus.
6. Mas Maria está ligada, sobretudo pelo silêncio, à grande hora de Jesus, a todas as suas horas, mas, de modo especial, à hora da sua cruz e da sua glorificação, “em que o Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque se “disse” até calar, nada retendo do que nos devia comunicar» (Bento XVI, Verbum Domini, 12). Também nas primeiras horas da vida da Igreja, os discípulos contaram sempre com a presença silenciosa da Mãe de Jesus, com o seu exemplo e proteção. Naquela mesma sala de cima, onde Jesus celebrou a Ceia e se manifestou vivo aos discípulos «e estava à mesa a conversar com eles», também aí se encontrava Maria, entre outras mulheres (cf. At.1,14), em oração.
7. Nesta hora, de parto e de partida, para a Igreja, Maria, fala-nos e convida-nos ao silêncio, a olhar para o céu, a ver a vida, a partir do alto, a acolher a Palavra, a escutá-la, até chegarmos, como ela, a pensar com a Palavra de Deus, a falar com a Palavra de Deus, a viver a Palavra de Deus.
A Maria, Nossa Senhora, cujo silêncio «escuta e faz florescer a Palavra», confiemos pois toda a obra de evangelização desta Paróquia, que é sua e se tornará tanto mais sua, quanto for verdadeira Casa do Silêncio e Casa da Palavra!
Fonte: aqui
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