Leituras: aqui
1. Entre Jerusalém e Emaús, vai apenas a distância de uma dúzia de quilómetros, muito menos do que aqueles que percorrem a maior parte dos peregrinos, que vão a Fátima a pé. E, todavia, o Evangelho faz-nos longa companhia, nesta mais bela viagem, que conheço. Nela, Jesus atravessa-Se e entra na vida de dois dos seus discípulos, para lhes mudar a rota e a derrota de uma missão, para lhes abrir os olhos e os reorientar, num caminho novo e com saída. A eles, como a nós!
2. Perante as interrogações que surgem
do nosso coração e os desafios que se levantam da realidade, podemos, como
eles, sentir-nos perdidos, com um défice de energia e de esperança. Há sempre o
risco de que a missão cristã também a nós nos pareça algo de irrealizável, que
supera as nossas forças. Mas, se contemplarmos, de olhos abertos, este Jesus
Ressuscitado, que caminha ao lado dos discípulos, é possível reavivar a nossa
confiança. Nesta cena evangélica, temos uma autêntica e real «liturgia da
estrada», que precede a da Palavra e a da Fração do Pão e nos faz saber que, em
cada passo nosso, Jesus está sempre junto de nós.
3. Que faz Jesus aos discípulos de
Emaús? Não os julga! Caminha com eles. E, em vez de erguer um muro, abre uma
nova brecha. Faz-lhes perguntas, para lhes corrigir as respostas. Pouco a pouco,
transforma o seu desânimo, inflama o seu coração e abre os seus olhos, anunciando-lhes
a Palavra e partindo com eles o Pão. Da mesma forma, o cristão sabe que não
carrega sozinho o encargo da missão, mas experimenta – mesmo no meio das
fadigas e incompreensões – que «Jesus
caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele» (EG 266).
4. Jesus garante a todos que está sempre
connosco, até ao fim dos tempos, e que não nos aguardará apenas no final da
nossa longa viagem, para nos dar a recompensa, mas que nos acompanhará, em cada
um dos nossos dias, por mais tristes e cinzentos que nos pareçam, por maior que
seja o tempo da prova e da escuridão. Às vezes, parece que Jesus não está ao
nosso lado, porque foi lá atrás, para nos levantar e fazer retomar o caminho.
Às vezes, parece que Jesus não está ao nosso lado, porque Se colocou no meio de
nós, para nos unir e reanimar; às vezes, parece que Jesus não está ao nosso
lado, porque Se adiantou um pouco, e vai à nossa frente, para nos abrir
horizontes e apontar a meta. Mas Jesus caminha sempre connosco. É Ele que conduz o nosso caminho! É Ele o «terceiro»,
o companheiro invisível, que se coloca ao nosso lado. E, por isso, no nosso caminho, quantas vezes,
às cegas, sem rumo e sem esperança, nunca estamos sozinhos!
5. Irmãos e
irmãs: estamos prestes a iniciar o mês de maio e, com ele, multiplicam-se as caminhadas
a pé e as peregrinações a Fátima, “que
devem ser devidamente preparadas, acompanhadas espiritualmente, e celebradas em
clima de verdadeira alegria, que a experiência do caminho e a visão do
santuário sempre desperta no peregrino” (PDP 2016/17,
p. 39).
Não basta, por isso, fazer
quilómetros, para peregrinar verdadeiramente, se esta peregrinação não nos fizer
beber nas fontes da conversão, da palavra e do pão, da misericórdia, da vocação
e do serviço, do testemunho, da esperança e da missão... Precisamos de dar alento
e sustento a esta nossa alma migrante,
uma vez que somos chamados a deixar a terra, a família e o mais que for
preciso, a fim de partir com alegria para onde o Senhor nos chamar.
Irmãos e irmãs: o caminho exterior da peregrinação a Fátima desafia-nos a percorrer um
caminho interior! Façamo-lo todos, quais “peregrinos, com Maria, pelas fontes da
alegria”!
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