ANUNCIAR O
EVANGELHO É A VOCAÇÃO PRÓPRIA DA IGREJA
«Vós, que outrora não éreis povo (laós), mas que agora sois povo de Deus (laòs theoû)» (1 Pedro 2,10).
«Aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não
individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em
povo» (Concílio II do Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n.º 9).
«Anunciar o Evangelho constitui, de facto, a graça e a vocação própria da
Igreja, a sua identidade mais profunda. A Igreja existe para Evangelizar»
(PAULO VI, Evangelii nuntiandi
[1975], n.º 14).
«Coloquemos a missão de Jesus no nosso coração, no coração da nossa família
[paroquial e diocesana], e façamos da missão o critério para medir a eficácia
das nossas estruturas, os resultados dos nossos trabalhos, a fecundidade dos
nossos ministros e a alegria que somos capazes de suscitar» (Cardeal Filoni,
2018).
Três anos
com a Igreja no coração
1. As energias pastorais da nossa Diocese de Lamego serão
orientadas, nos próximos três anos pastorais, para a revitalização do nosso
amor à Igreja, nossa Mãe, que está em Lamego, sabendo nós bem que a Igreja que
está em Lamego é Igreja de Deus no seu todo, e não apenas uma parte. No decurso
do ano pastoral em que estamos agora a entrar (2018-2019), cuidaremos sobretudo
as valências vocacional e missionária, ou seja, iremos ter mais a peito o rosto
e o jeito da Igreja chamada e enviada em missão. Mas nos dois anos pastorais
seguintes, continuaremos a dedicar a nossa melhor atenção à Igreja, nossa Mãe.
Assim, no ano pastoral 2019-2020, ocupar-nos-emos sobretudo com o aspeto
sinodal da nossa Igreja, que é uma Igreja em caminho e em comunhão, em que
todos caminhamos lado-a-lado, para, no ano pastoral 2020-2021, nos ocuparmos
sobretudo com a identidade da Igreja, o que nos levará a ter de encontrar boas
respostas, não tanto para a questão «o que é a Igreja?», mas sobretudo para a
questão «quem é a Igreja?». São três anos em que peço a todos os diocesanos o
máximo empenho e dedicação. Muito brio é necessário. Muito amor também. A
Igreja, nossa Mãe, merece toda a nossa atenção e carinho.
A Igreja é
de Deus
2. Na linguagem do Novo Testamento, o termo grego para
dizer «Igreja» é ekklêsía, que deriva
de ekkaléô, composto pela preposição ek [= fora de] e pelo verbo kaléô [= chamar], impondo-se assim o
significado de chamar desde fora e
para fora e para o alto, sendo a ação de chamar
obra de Deus, o que faz da Igreja a
comunidade-mãe dos «chamados» ou «convocados» por Deus a saírem de si, da sua
autorreferencialidade, para formarem um povo novo, um povo santo, pertença de
Deus, família dos filhos de Deus, sempre chamados, acompanhados e conduzidos
por Deus. Igreja amada de Lamego, levanta-te, toma consciência, ganha ânimo e
alegra-te! A tua história e a tua vida estão na mão de Deus, como te lembra
Isaías: «Chamei-te pelo teu nome: tu és meu!» (Isaías 43,1).
3. Este sentido forte de pertença exclusiva e amorosa a
Deus está bem patente no «genitivo de posse», configurado na expressão grega ekklêsía toû theoû [= Igreja de Deus],
que as duas Cartas aos Coríntios exibem logo a abrir, no endereço (1 Coríntios
1,2; 2 Coríntios 1,1), mas que se pode ver também em outros lugares (1
Coríntios 10,32; 11,22; 15,9; Gálatas 1,13), e que representa como que um
agrafo que vincula a Igreja a Deus. Portanto, a Igreja é de Deus. Não é um
agrupamento qualquer, nem responde a um chamamento qualquer. Por isso, a Carta
aos Romanos registra o belo nome de «chamados» (klêtoí), dado aos cristãos de Roma (Romanos 1,7), no seguimento de
Paulo, que se assume também como «chamado» (klêtós)
(Romanos 1,1; 1 Coríntios 1,1), título grande que reaparece como marca que
identifica os cristãos na Primeira Carta aos Coríntios 1,2. Esta maneira de ver
e de dizer responde ao chamamento ou à chamada (klêsis) de Deus, e evoca a «eleição» (eklogê) de Deus (1 Tessalonicenses 1,4) e os «eleitos de Deus» (eklektoí theoû) (Romanos 8,33), e é um
eco do hebraico qahal, nome que,
desde o Antigo Testamento, se dá à assembleia do povo de Deus, convocado e
reunido por Deus à volta do seu amor e da sua palavra, Israel de Deus, que anda
nos caminhos de Deus, conduzido e acompanhado por Deus, desde o deserto à Terra
Prometida, durante e depois.
Igreja de
Deus, povo de Deus, vive de Deus, vai com Deus
4. Claramente: esta «eleição» (eklogê) designa, em outras culturas, as escolhas que o homem faz
acerca do rumo a dar à sua vida. O termo é desconhecido no grego dos LXX, e 1
Tessalonicenses 1,4 é a sua porta de entrada no mundo do Novo Testamento,
podendo ainda ler-se em Atos 9,15; Romanos 9,11; 11,5.7.28; 2 Pedro 1,10, em
que designa sempre uma ação de Deus, obra só de Deus, e assenta unicamente na
fidelidade maternal de Deus, e não nos nossos méritos, raça, história, cultura;
a comunidade que deriva dessa «eleição» não é, então, um grupo que nós tenhamos
escolhido, formado, ou a que tenhamos aderido movidos por interesses, negócios
ou objetivos comuns, mas o grupo dos escolhidos e chamados por Deus, que
ouviram o seu nome amorosamente dito por Deus, e que responderam «sim» ao seu
chamamento. Não se trata, portanto, de um chamamento qualquer, um entre muitos,
como quando os nossos amigos assobiam ou gritam o nosso nome, quando nos veem a
passar na rua. Trata-se aqui de um chamamento único, em que é Deus que diz o
nosso nome, o meu e o teu, e nos vai reunindo, provenientes de todos os
lugares, para de nós fazer o seu povo, o povo de Deus, «o Israel de Deus»
(Gálatas 6,16), «povo de Deus» (laòs
theoû), «que antes nem povo (laós)
era» (1 Pedro 2,10). A expressão «povo de Deus», com todas as letras, encontra
aqui a sua única menção em todo o Novo Testamento. E o próprio nome «povo» (laós), já desde o seu uso no grego dos
LXX, não traduz um povo etnicamente determinado (isso seria éthnos), mas apenas o «povo» particular
que Deus escolhe para si e no meio do qual habita e caminha. Soa assim o dizer
de Paulo atualizando a antiga fórmula da Aliança: «Como disse Deus: “habitarei
no meio deles e no meio deles caminharei, e serei o seu Deus, e eles serão o
meu povo (laós)”» (2 Coríntios 6,16).
É, a este propósito, exemplar e elucidativo o dizer de Moisés para Deus em
Êxodo 33,13: «Teu povo (laós sou) é
esta grande nação (tò éthnos tò méga
toûto)». Igreja de Lamego, Igreja de Deus, povo de Deus, escuta bem,
estremece de emoção, sente-te amada, chamada e reunida por Deus. Cheia de
esperança, e com Deus no mundo (Efésios 2,12).
5. Em termos de estatística e distribuição, o nome grego ekklêsía (Igreja) encontra-se cerca de
100 vezes no texto grego dos LXX, e traduz, em todos os casos, o hebraico qahal. No texto grego do Novo Testamento
encontra-se por 114 vezes. Aparece em claro destaque nas Cartas de S. Paulo,
onde se faz ouvir por 62 vezes, e é o termo a que S. Paulo mais vezes recorre
para se referir às comunidades que Jesus Cristo colocou no seu caminho. Fora de
S. Paulo, no Novo Testamento, o nome ekklêsía
conta mais 52 menções, destacando-se 23 ocorrências no Livro dos Atos dos
Apóstolos e 20 no Apocalipse. Nos Evangelhos, só o Evangelho de Mateus o usa em
dois lugares (Mateus 16,18; 18,17), sendo por isso que é chamado o «Evangelho
da Igreja».
6. Esta maneira de ver a Igreja, trazendo para a cena o rico vocabulário da
«assembleia convocada por Deus», do «chamamento», da «eleição», apresenta-se
bela e fecunda sobretudo em três aspetos: primeiro, porque salienta o primado
de Deus, a sua ação eletiva, portanto, primeira, soberana e livre; segundo,
porque não se perde nos meandros da organização interna, mas dá todo o relevo
ao chamamento de Deus e à nossa resposta a esse chamamento; terceiro, porque
deixa ver a ideia muito bíblica de um caminho a percorrer, que é a história da
salvação, por onde Deus conduz o seu povo querido. Neste sentido, a Igreja de
Deus não é um episódio ou um conjunto de episódios ou eventos, mas um percurso.
Apraz-me colocar aqui, em carne viva, neste contexto de enchente de chamamento
de Deus e da nossa resposta, a realização da XV Assembleia Ordinária do Sínodo
dos Bispos, que terá lugar em Roma, de 03 a 28 de outubro próximo, que se
debruçará mais de perto sobre os jovens, e que terá por tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional».
Este tom vocacional põe, não apenas os jovens, mas toda a Igreja à escuta da
Palavra de Deus, que largamente distribui os seus dons pelos seus filhos, de
modo a que, todos unidos e reunidos, possamos tornar a Igreja mais bela e
sempre pronta a exercer os serviços necessários para o bem de todos.
Nova evangelização
7. Importa ter tudo isto em conta, sobretudo quando olhamos à volta e
verificamos que vivemos hoje num mundo em ritmo acelerado de paganização, que
se faz ver em todos os palcos da sociedade, a começar pela família, pela escola
e pelos mass-media, e que suga
também, como se de um potente íman se tratasse, os que até agora se diziam
cristãos e como tal viviam. Num contexto assim, a Igreja não pode nem deve
continuar a lançar tranquilamente mão apenas dos métodos de transmissão da fé
até agora em uso. É preciso e é urgente lançar, desde já, mãos e pés,
inteligência, entranhas e coração a uma nova vaga de evangelização, para a qual
são precisos novos evangelizadores.
8. Na verdade, à sociedade em que vivemos temos de saber oferecer uma
evangelização non-stop, endereçada,
personalizada e enamorada, que reclama a proximidade empenhada, comovida,
rezada, testemunhal, afetuosa e maternal de novos atores da vivência e da
transmissão da fé, da esperança e da caridade que há em Cristo Jesus, e que
brota do «amor fontal» de Deus Pai (Ad
gentes, n.º 2). Numa sociedade assim, recorda bem S. João Paulo II, temos
de nos comprometer com o essencial do anúncio do Evangelho, que será sempre: «o
homem é amado por Deus, e este é o mais simples e o mais comovente anúncio de
que a Igreja é devedora ao Homem» (Christifideles
laici [1988], n.º 34). Por isso, S. Paulo ousa dizer: «Anunciar o Evangelho
não é para mim um título de glória, mas uma necessidade
que se me impõe desde fora. Ai de mim
se não anunciar o Evangelho!» (1 Coríntios 9,16). E o Santo Papa Paulo VI,
espraiando o seu olhar pelo estuário da Igreja saída do Concílio, é levado a
traçar, desta maneira, o seu perfil evangelizador: «Anunciar o Evangelho
constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade
mais profunda. A Igreja existe para Evangelizar» (Evangelii nuntiandi [1975], n.º 14). Mas o que é que significa
verdadeiramente evangelizar, anunciar o Evangelho? Significará apenas dar a
conhecer o Evangelho, uma vez que é só conhecendo-o, que o homem pode aceder ao
amor com que Deus o ama? Ou significará dar a conhecer que em Jesus a
existência humana é uma existência salva, habitada pelo Sentido, que não
depende do conhecimento, mas que é anterior ao conhecimento, do mesmo modo que
a existência do sol é anterior e independente do conhecimento da sua
existência? Sim, tudo começa no anúncio de que Jesus é o único salvador, e é só
nele que temos a salvação, que é o verdadeiro Sentido da vida (cf. Atos
2,23-24.32.36; 3,15-16; 4,10; 5,30-31; 10,39-40; 13,28-30; 17,31; 25,19). Sim,
esta é a notícia, o anúncio necessário da vitória. É provável que a seguir nos
peçam o relato.
A missão como critério
9. «Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo», eis o
tema forte que o Papa Francisco propôs para a celebração e vivência do «Outubro
Missionário Extraordinário» de 2019, que marcará o centenário da Carta
Apostólica Maximum illud, do Papa
Bento XV, que traz a data de 30 de novembro de 1919, e que apelava então à
«propagação da fé católica no mundo inteiro». Com data de 22 de outubro de
2017, Dia Mundial das Missões, em Carta enviada ao Cardeal Filoni, Prefeito da
Congregação para a Evangelização dos Povos, o Papa Francisco incumbia-o da
preparação deste «Outubro Missionário Extraordinário» de 2019, expressando no
final da Carta o seu desejo intenso, que o é também para toda a Igreja: «Que se desperte em nós, e que jamais nos seja roubado, o entusiasmo
missionário». Adaptando palavras certeiras já entretanto expressas pelo Cardeal
Filoni, registo aqui também o meu firme desejo: Igreja de Lamego, é tempo de reavivar o
ardor e a paixão pela missão de Jesus, para que este ano pastoral possa
ajudar-nos a colocar a missão de Jesus no nosso coração, no coração da nossa
família paroquial e diocesana, fazendo da missão o critério para medir a
eficácia das nossas estruturas, os resultados dos nossos trabalhos, a
fecundidade dos nossos ministros e a alegria que somos capazes de suscitar.
Com os olhos
em S. Paulo
10. Apoiando a iniciativa clarividente do Papa Francisco, a Conferência
Episcopal Portuguesa achou por bem alargar o mapa e o calendário missionário ao
inteiro ano pastoral de 2018-2019 (outubro a outubro). E a Diocese de Lamego
alegra-se com a iniciativa do Papa e subscreve a ideia e ação de fazer do ano
pastoral em curso um ano verdadeiramente missionário. Este colorido missionário
não se desvia nem foge, de resto, ao desiderato já entretanto formulado nos
Conselhos Diocesanos de dedicarmos os próximos três anos à vida da Igreja e em
Igreja e de colocarmos o próximo ano pastoral, que é o primeiro dos três, sob a
égide da Igreja carinhosamente olhada pelo seu ângulo vocacional. Ora, o Santo
Papa Paulo VI, que será canonizado em 14 de outubro próximo, vem dizer-nos,
numa síntese admirável, que «Anunciar o Evangelho é a vocação própria da
Igreja» (Evangelii nuntiandi, n.º
14). Portanto, Igreja, vocação da Igreja e anúncio do Evangelho são linhas
perfeitamente entrelaçadas, que não conseguimos destrinçar. E lembra-nos ainda
o Santo Papa Paulo VI que, no que respeita ao anúncio do Evangelho, a maneira
de fazer de S. Paulo será sempre modelar: por isso, o proclamou «modelo de cada
evangelizador» (Evangelii nuntiandi,
n.º 79), tendo-o Bento XVI apresentado, na sua Mensagem para o 45.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações (2008),
como «o maior missionário de todos os tempos». S. Paulo é, portanto, exemplo
sempre a seguir por nós. E a maneira de fazer de S. Paulo é-nos felizmente
conhecida, dado que ele a deixou registada na Primeira Carta que escreveu à
Comunidade Cristã de Tessalónica, que ele tinha acabado de evangelizar. Toda a
atenção, portanto, para esta página soberba, que devíamos trazer sempre gravada
nos olhos e no coração:
«2,7bTornámo-nos
CRIANÇAS no meio de vós, COMO UMA MÃE que acalenta os próprios filhos. 8Assim,
cheios de afeição por vós, bem queríamos dar-vos, não apenas o evangelho de
Deus, mas também a nossa própria vida, pois tornastes-vos queridos para nós. 9Recordais-vos,
de facto, irmãos, da nossa fadiga e do nosso esforço, trabalhando de noite e de
dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Foi assim que vos PREGÁMOS o
Evangelho de Deus. 10Vós sois testemunhas, e Deus também o é, de
quão puro, justo e irrepreensível tem sido o nosso modo de proceder para
convosco, os que acreditais.
11Como sabeis, como a cada um de vós, COMO UM PAI aos seus
próprios filhos, 12exortando-vos e encorajando e confirmando, para
que caminheis de modo digno de Deus, que vos está a chamar ao seu Reino e à sua
glória» (1 Tessalonicenses 2,7b-12).
11. É claro que levar por diante um trabalho tão intenso e personalizado
requer e reclama uma rede de bons e sempre prontos Evangelizadores. Fixemos os
olhos na quantidade, diversidade e qualidade de alguns cooperadores de S.
Paulo, que o amor retirou do anonimato, e em que nem sequer são nomeados os
mais significativos, como Timóteo, Tito e Silvano (ou Silas):
«16,1Recomendo-vos Febe, nossa irmã,
servidora da Igreja de Cêncreas, 2para que a recebais no Senhor, de
modo digno dos santos, e a assistais em tudo o que de vós necessitar, pois
também ela foi benfeitora de muitos, e até de mim próprio. 3Saudai
Prisca (diminutivo: Priscila) e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, 4os
quais, para salvar a minha vida, expuseram a sua cabeça; e não sou apenas eu
que lhes estou agradecido, mas também todas as igrejas dos gentios. 5Saudai
também a Igreja que se reúne em sua casa. Saudai o meu querido Epéneto, que
constitui as primícias da Ásia para Cristo. 6Saudai Maria, que muito
trabalhou por vós. 7Saudai Andrónico e Júnia, meus parentes e
companheiros de prisão, que se distinguiram entre os apóstolos, e me precederam
em Cristo. 8Saudai Ampliato, que me é muito querido no Senhor. 9Saudai
Urbano, nosso cooperador em Cristo, e o meu querido Estáquio. 10Saudai
Apeles, provado em Cristo. Saudai os da casa de Aristóbulo. 11Saudai
Herodião, meu parente. Saudai os da casa de Narciso, que estão no Senhor. 12Saudai
Trifena e Trifosa, que trabalharam no Senhor. Saudai a querida Pérside, que
muito trabalhou no Senhor. 13Saudai Rufo, o eleito no Senhor, e sua
mãe, que é também a minha. 14Saudai Assíncrito, Flegonte, Hermes,
Pátrobas, Hermas, e os irmãos que estão com eles. 15Saudai Filólogo
e Júlia, Nereu e sua irmã, e Olimpas, e todos os santos que estão com eles»
(Romanos 16,1-15).
Renovar o
tecido cristão e eclesial das paróquias e da diocese
12. Sem nunca pôr de parte esta intensa e multifacetada maneira de fazer,
que podemos sempre consultar e verificar na agenda de missão de S. Paulo,
podemos e devemos também considerar algumas aplicações dos tempos modernos.
Trata-se de metodologias implicativas e diretas. Para usar a imagem da rede,
não se trata tanto de trabalho em rede, mas de, passando o fio de mão em mão,
unir as pessoas e construir a própria rede. Aí ficam algumas propostas,
provocações e desafios.
Movimento estudantil FOCUS
12.1. O movimento estudantil FOCUS [= Fellowship
Of Catholic University Students], que reúne e mobiliza sobretudo estudantes
universitários, mas que já se faze sentir também nos Colégios e Escolas. Cada
equipa FOCUS começa com quatro elementos fidelizados e enamorados por Cristo,
que são chamados a multiplicar-se exponencialmente. Provocação para os
professores e alunos das nossas escolas, sobretudo no que concerne ao ensino e
vivência da Religião e Moral Católica. Provocação também para os nossos
catequistas e para as crianças e adolescentes que frequentam a catequese, e
para quantos se preparam para o batismo e para o crisma. Na certeza de que o
estilo de vida de Jesus é a melhor, mais bela e apaixonante maneira de viver,
ninguém se deve retrair ou envergonhar de viver e de falar de Jesus, com Jesus,
como Jesus.
Escolas de Evangelização Santo André
12.2. As «Escolas de Evangelização Santo André». Estas escolas colhem a sua
inspiração na figura do Apóstolo André que, tendo seguido Jesus e visto onde
morava, foi logo buscar Pedro para o levar a Jesus (João 1,35-42). Vale a pena
passar demoradamente os olhos por este texto ousado e delicioso:
«1,35No dia seguinte,
João estava lá outra vez, de pé, com dois dos seus discípulos, 36e
olhando dentro (emblépô) de Jesus,
que passava, diz: “Eis o Cordeiro de Deus”. 37E ouviram-no os dois
discípulos a falar (laléô), e
seguiram Jesus. 38Tendo-se, então voltado, e tendo-os visto a
segui-lo, diz-lhes: “Que procurais?”. Eles, então, disseram-lhe: “Rabí, que
traduzido se diz Mestre, onde moras?”. 39Diz-lhes: “Vinde e vereis”.
Foram, então, e viram onde morava, e com Ele permaneceram aquele dia. Era por
volta da hora décima. 40André, o irmão de Simão Pedro, era um dos
dois que tinham escutado João e que seguiram Jesus. 41Este encontra
primeiro o seu irmão, Simão, e diz-lhe: “Encontrámos o Messias, que significa
Cristo”. 42Conduziu-o a Jesus. Olhando dentro dele (emblépô), Jesus disse: “Tu és Simão, o
filho de João! Serás chamado Cefas, que significa Pedro”» (João 1,35-42).
Por isso, «André, o primeiro chamado» (Prôtóklêtos
Andréas), título que ainda hoje lhe dá a Tradição Oriental, foi logo
chamar, «primeiro chamante», o seu irmão Simão, e trouxe-o de casa para a Casa,
para Jesus.
Também em João 12, André aparece a fazer de ponte entre «uns gregos» e
Jesus. É, de facto, notório que André parece ter uma especial vocação para
levar as pessoas até Jesus. Fica a impressão que, sem a mão de André, não se
chega a Jesus. Vejamos o texto:
«12,20Havia também
alguns gregos entre os que tinham subido para adorar na festa. 21Então,
estes aproximaram-se de Filipe, o de Betsaida da Galileia, e pediram-lhe,
dizendo: “Senhor, nós queremos ver (ideîn)
Jesus”. 22Vem Filipe, e diz a André; vem André e Filipe, e dizem a
Jesus» (João 12,20-22).
A importância de André nestas ligações a Jesus parece evidente. Sem ele,
não se chega a Jesus. Aí está uma figura especializada em conduzir outros a
Jesus, em dar a conhecer quem é Jesus. Pois salta à vista que aqueles gregos,
certamente “prosélitos” ou “tementes a Deus”, não queriam apenas ver a cor dos
olhos de Jesus, mas, mais intensamente, queriam ver quem era Jesus, como sugere
aquele verbo «ver» (ideîn), que
indica identidade.
O símbolo destas escolas de seguidores de Jesus é a Cruz grega (X), Cruz de
Santo André, que é também sinal de multiplicação.
Células Paroquiais de Evangelização
12.3. As «Células Paroquiais de Evangelização» têm a sua referência na
comunidade bela, cujo retrato podemos contemplar em Atos 2,42-47:
«2,42Eram
perseverantes no ensino dos Apóstolos e na comunhão, na fração do pão e na
oração. […] 44Todos os que acreditavam estavam no mesmo lugar e
tinham tudo em comum. […] 46Dia após dia eram perseverantes
unanimemente no Templo, e partiam o pão em cada casa, tomando o alimento com
alegria grande e simplicidade de coração, 47louvando a Deus e tendo
graça junto de todo o povo. E o Senhor acrescentava dia após dia o número dos
que estavam a ser salvos» (Atos 2,42.44.46-47).
Trata-se, como se vê, de uma visita guiada à primeira Catedral da Igreja
nascente, com ramificações em todas as casas e em todos os corações, bem assente
em quatro colunas: o ensino dos Apóstolos (1), a comunhão fraterna (2), a
fração do pão (3) e a oração (4). É visível que esta comunidade bela crescia,
crescia, crescia, dia após dia, com o «crescente» que Deus nela introduzia. Era
uma comunidade jovem, leve e bela, tão jovem, leve e bela, que as pessoas
lutavam por entrar nela!
Recebendo e afinando este estilo de vida, também estas «Células de
Evangelização», em ação na Paróquia, se vão multiplicando exponencialmente, do
perto para o longe, começando por envolver familiares, amigos, vizinhos,
classes profissionais.
Um vezes um = dois!
13. Estranha matemática. Em eclesiologia, «um mais um faz um», dado que
cada Igreja particular manifesta toda a plenitude da Igreja de Deus, porque é
Igreja de Deus no seu todo, e não apenas uma parte. Em missiologia, «um vezes
um faz dois», pois o missionário que anuncia e entrega Jesus Cristo a outro, e
vê nascer no outro a mesma paixão por Cristo, apercebe-se com alegria que, a
partir dessa hora, passam a ser dois dedicados e empenhados na mesma missão.
O que acabámos de expor em ordem à renovação do tecido cristão e eclesial
das nossas Paróquias, tornando-as mais dinâmicas através da participação de
todos os seus membros, não é mais do que a tentativa de trazer para a pastoral
a dinâmica da energia nuclear. A energia nuclear obtém-se pela fissura de um
átomo bombardeado por um neutrão: é assim que o átomo se divide em dois. Por
sua vez, as duas partículas subdividem-se, e, de duas, formam-se quatro, e
assim se vão multiplicando de forma exponencial. Um cristão que acredita e não
se envergonha do Evangelho contagiará inevitavelmente outro; e estes dois
contagiarão outros dois. É assim que se difunde o Evangelho. De cristãos assim,
há hoje uma necessidade imperiosa e urgente, e é-lhes oferecida uma
oportunidade imensa: dar razão da esperança que os habita e os anima, com
entusiasmo e alegria. Na condição secular do nosso tempo, não haverá profecia
se não voltar a ser profética a vida do cristão comum. Num tempo em que a sociedade
secular desconfia das Igrejas, e muitas vezes já não entende a sua linguagem,
pode, no entanto, ser sacudida pelos gestos e pelas palavras de quem vive
plenamente «nas atividades propriamente temporais […], em que os fiéis leigos
ocupam o lugar mais importante» (Lumem
gentium, n.º 36). O seu testemunho é fundamental, e não pode ser
dispensado. Porque a missão não é propaganda e o testemunho não é dar nas
vistas, mas viver uma vida verdadeira, plena, bela, de tal modo bela, que não
poderia ser explicada se Cristo não tivesse sido morto e não tivesse
verdadeiramente ressuscitado.
14.
Amados irmãos e irmãs, foi depositado nas nossas mãos este desafio imenso e
intenso de transformarmos pela missão que Deus nos confia a nossa vida e a vida
de todos os filhos e filhas de Deus, e nossos irmãos queridos, que se abrigam
debaixo do céu que cobre a nossa Diocese de Lamego e cada uma das suas 223
Paróquias. Sinto que é preciso deixarmos renovar o nosso coração. É o primeiro
passo para podermos renovar o tecido cristão e eclesial das nossas comunidades
e da nossa Igreja. Para começarmos a tecer a rede, fazendo com que o fio da
nossa vocação e missão passe por todas as mãos e congregue todos os corações, convoco todos os
diocesanos da nossa Diocese de Lamego: sacerdotes, diáconos, consagrados,
consagradas, fiéis leigos, pais, mães, avôs, avós, famílias, jovens, crianças,
catequistas, acólitos, leitores, agentes envolvidos na pastoral, membros dos
movimentos de Apostolado, Centros Sociais Paroquiais, Misericórdias, e todas as
pessoas e instituições envolvidas neste «trabalho do amor» (1 Tessalonicenses
1,3). A todos peço que experimentemos a alegria de sairmos mais de nós ao
encontro de todos, para juntos celebrarmos o grande amor que Deus tem por nós e
sentirmos a alegria da sua misericórdia infinita. Que cada um de nós sinta como
sua primeira riqueza e dignidade a de ser filho de Deus com muitos irmãos à sua
volta. E para todos imploro de Deus a sua bênção, e de Maria, nossa Mãe, a sua
proteção carinhosa e maternal.
15. E não esqueçamos que é o SENHOR Crucificado e Ressuscitado a verdadeira
razão de ser da Igreja, da nossa vida, da nossa vocação e da nossa missão. É a
Ele que dirigimos hoje com alegria a nossa oração:
Tu, Senhor, Tu falas
E um caminho novo se abre a
nossos pés,
Uma luz nova em nossos olhos
arde,
Átrio de luminosidade,
Pão
De trigo e de liberdade,
Claridade que se ateia ao
coração.
Lume novo, lareira acesa na
cidade,
És Tu, Senhor, o clarão da
tarde,
A notícia, a carícia, a
ressurreição.
Passa outra vez, Senhor, dá-nos
a mão,
Levanta-nos,
Não nos deixes ociosos nas
praças,
Sentados à beira dos caminhos,
Sonolentos,
Desavindos,
A remendar bolsas ou redes.
Sacia-nos.
Envia-nos, Senhor,
E partiremos
O pão,
O perdão,
Até que em cada um de nós nasça
um irmão.
Lamego, 01 de outubro de 2018, Memória de Santa Teresa do Menino Jesus,
Virgem e Doutora da Igreja e Padroeira Universal das Missões
+ António, vosso bispo e irmão
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