Eis uma história que aconteceu. Aconteceu numa pequena loja japonesa em Paris. A dona – uma senhora gentil a quem aconteceu a história que nos contou – deu pela falta de dois pacotes de chá Gyokuro, caríssimo, logo no dia em que chegaram.
Um mês depois apareceu na loja um cliente antigo, dono de um restaurante, a quem tinha sido dado o privilégio de levar o que precisava e pagar só três meses depois, depois de ter recebido as contas das pessoas que lá iam almoçar e jantar.
Tratava-se de um empréstimo generoso: só pagava o que vendia depois de ter vendido, por quatro vezes o custo, aquilo que tinha comprado.
O dono do restaurante lucrou tanto com o roubo como com o crédito. Sendo um indivíduo ladrão mas honrado, voltou à loja para confessar que tinha roubado o chá e com o dinheiro, o valor exacto do que tinha roubado.
A dona da loja começou a chorar. Nunca tinha pensado que aquela pessoa, tão amiga (conhecia e simpatizava com todas as dificuldades da família dela), era capaz de roubá-la.
Recusou o pagamento. E disse-lhe: "O senhor roubou a minha alma e a minha confiança em si. E isso não pode ser pago em dinheiro. Eu perdi um cliente de quem gostava. Não há dinheiro que pague o que eu perdi".
O marido e sócio da senhora, quando soube da recusa dela, compreendeu-a mas disse: "Tu és muito dura".
Mas não foi dura: foi justa. E foi leal à amizade que o cliente quebrou. A confiança é um tesouro. E os tesouros roubados deixam de sê-los.
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