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Eis o que reza a canção belíssima de os «Humanos»: «Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida se há vida em ti a latejar».
1. Zaqueu! Um nome que, só por ironia, significa, em hebraico, “o puro”. Ora, o “Senhor Puro” era bem conhecido por lidar e viver de dinheiro sujo, cobrado em altos impostos, para Roma, e inflacionados com abusivas comissões. Zaqueu era, por isso mesmo, odiado pelo povo! Apesar de ser rico, fazia parte dessa franja de mal-amados e estava, como os pobres, nas margens da sociedade de então. Talvez, por isso mesmo, é que Zaqueu corre mais à frente, e sobe a uma árvore, para escapar à liquidação total e aos insultos da multidão! Sobe ao sicómoro, não porque não vê, mas porque realmente não quer se visto. Aqui o corpo de Zaqueu está escondido, mas a sua alma permanece aberta. Por isso, ali mesmo, de cima daquela árvore, procurava ver quem era Jesus, movido por uma secreta curiosidade, numa esperança quase muda, que o desassossega por dentro!
2. Mas, na verdade, é Jesus quem procura Zaqueu; é Jesus que vem procurar e salvar o que está perdido! É Jesus, que passando por ali, olha para cima! O pobre Zaqueu que tanto O queria ver, acaba, por ser visto, primeiro, por Jesus! O olhar de Jesus e a sua viva voz a chamá-lo pelo próprio nome, e o convite inesperado para descer, a fim de O hospedar, em sua casa, são como que um “tiro”, que lhe acerta, por dentro, e o atira abaixo daquela árvore! Zaqueu desce e recebe Jesus com alegria. E nesse encontro, em casa, à mesa, Zaqueu mostra o fruto da nova estação! Ele dá aos pobres, mais do que a obrigação. Não dá aos pobres, para ser salvo! Dá aos pobres, porque foi salvo!
3. Como é belo meditarmos neste feliz encontro, agora que nos aproximamos da conclusão do Ano da fé. Como não ver nesta imediata “descida da árvore”, nesta prontidão em obedecer a uma chamada, um verdadeiro ato de fé?! Sim: é um ato de confiança e de coragem, que faz Zaqueu descer para um espaço incerto. Ao fazê-lo, este pecador, filho de Adão, mostra que é também filho de Abraão, homem de fé. A fé de Zaqueu acontece como fruto de um encontro face a face, inesperado, não planeado, e culmina na coragem de enfrentar a verdade. Ele é realmente tocado e transformado, pelo olhar amoroso de Jesus!
4. Caríssimos irmãos e irmãs: Como não ver, neste Zaqueu, um símbolo de quantos andam à procura de Deus, mesmo se distantes das nossas práticas religiosas ou morais? Não poderá Zaqueu ser um ícone dos que estão nas periferias, da sociedade ou da Igreja, dos que se sentem pequeninos e até ameaçados, pela multidão dos crentes? Não poderia Zaqueu ser eleito santo padroeiro dos que ainda espreitam, timidamente, por uma oportunidade, para ver Jesus? Ou dos que vivem desassossegados, à procura de Jesus, mesmo se não chamam «Jesus» àquilo que procuram? E por que não fazermos de Zaqueu o santo protetor de todos os crentes anónimos, que esperam por uma chamada pessoal, para sair do ninho dos seus medos, e ir ao encontro de Jesus?! Estaremos nós à altura de nos sentarmos à mesa, com eles, para aprendermos com eles a procurar e a ver Jesus?!
5. Meus irmãos e irmãs: ficam, deste evangelho, muitas perguntas, pessoais e pastorais, que nos empurram, mais uma vez, para fora, para o diálogo, com as tais “periferias” existenciais, de que tanto nos fala o Papa Francisco. Na verdade, foi Jesus que abriu este caminho, ao colocar no centro do seu coração as periferias, as franjas dos excluídos, dos renegados, dos esquecidos, dos afastados, quando veio procurar e salvar o que estava perdido. É, pois, tempo de ir e de sair ao encontro, à procura de quem procura! Saberemos nós estar à altura deste abraço de Deus, à humanidade, que tem na história, o nome de Cristo?!
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